Clerisvaldo B. Chagas, 19 de junho de 2023
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.909
Esse negócio
de ciclone que arrasa tudo por onde passa é de fato complicado e aterrorizante.
Ainda bem que esse bicho nunca passou aqui. O que conhecemos é apenas a versão
mínima do fenômeno chamado no sertão de pé-de-vento ou redemoinho. Acontecia
muito na Rua Antônio Tavares antes do calçamento, na periferia entre o rio
Ipanema e essa rua e na zona rural. O danado acontecia mais no verão e
formava-se repentinamente rodando, rodando com a poeira cobrindo no seu rastro.
A meninada gritava de lugar abrigado como incentivo/insulto ao pé-de-vento:
rapadura! Rapadura!... Nunca soube porque gritavam o nome rapadura. A ação do
vento não durava muito, era coisa efêmera, apenas jogava terra, papel de lixo e
outras coisas leves que encontrava pelo caminho e logo desaparecia. Era uma
diversão para crianças e adultos, quando olhavam de longe.
Quando já
adulto fomos encontrar esses redemoinhos pelos pés de serras, na estrada de
chão entre Poço das Trincheiras e Maravilha, por dentro. Nunca passamos por ali
para não encontramos pelo menos uma raposa atravessando a estrada e um ligeiro
redemoinho. O encontro do ar frio da serra da Caiçara com o ar quente da
estrada, um cenário perfeito para o fenômeno visto sempre na meninice. Assim
como fechávamos as portas de casa, fechávamos os vidros do automóvel. O
fenômeno se dá em dia de céu limpo. O chão aquece o ar e o faz subir. Esse ar é
menos denso e mais leve do que o que está acima dele. O encontro de ambos faz
as duas massas rodarem como um pinhão e se deslocarem rapidamente por alguns
metros.
Isso faz lembrar uma palestra com um antepassado: Um arruaceiro arranjou uma encrenca com ele, mas nunca conseguiu eliminá-lo, apesar de sempre andar com um rifle às costas. Um dia o arruaceiro foi exterminado numa diligência policial fictícia, e ele como convidado, caiu na armadilha. “Uma limpeza para a região”, diziam. Dias depois, o antepassado estava na roça quando se formou de repente um redemoinho. O pé-de-vento saiu rodando com grande velocidade, levantado poeira e envergando o milharal. O antepassado, homem sábio, disse: “É o espírito de Fulano enraivecido”. E assim os fenômenos geográficos misturam-se ao fenômeno espiritual. Bem, tá contado.
http://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2023/06/redemoinho-clerisvaldo-b.html
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário