Por José
Romero Araújo Cardoso
Raimundo
Nonato, martinense que migrou para Mossoró fugindo da grande seca de 1919,
legou-nos trabalhos memoráveis sobre temas diversos, incluindo entre esses a
questão da abolição da escravatura em Mossoró.
Deve-se a
Raimundo Nonato o esforço em preservar o que foi noticiado sobre o audacioso
ataque do bando de Lampião a Mossoró em 13 de Junho de 1927, pois não fosse a
ideia dele de resgatar em livro o que os jornais divulgaram e que pessoas
envolvidas no episódio disseram naquela época turbulenta, a exemplo da inserção
do Diário do “Coronel” Antônio Gurgel em Lampião em Mossoró, seria difícil para
a os historiadores levantar dados sobre um dos mais emblemáticos fatos da
História do lugar.
Presença
marcante quando dos festejos de 30 de setembro, Nonato se preocupou
sobremaneira em enfatizar a interpretação da luta de abnegados mossoroenses,
bem como filhos adotivos, em prol da redenção da raça negra na capital do oeste
potiguar.
A exemplo da
campanha cívica mobilizada no Ceará, estando Acarape na vanguarda no que tange
à libertação escrava, Mossoró, através do empenho de membros da Loja Maçônica
24 de Junho, fez história ensejando a reedição das lutas travadas na Terra de
Iracema.
Lançado em
1983, pela Coleção Mossoroense da Fundação Guimarães Duque, quando do
centenário da abolição dos escravos em Mossoró, Raimundo Nonato marcou presença
com importante trabalho sobre a História Social referente ao fato que marcou
profundamente o município potiguar.
Sinopse de
acontecimentos importantes registrados em Mossoró é destaque na obra de
Raimundo Nonato. Perfil interessante acerca do processo de construção coletiva
e evolução da urbe são fomentados, culminando com a campanha que desencadeou a
luta em prol da redenção negra.
Para alguns a
abolição da escravatura em Mossoró foi, na verdade, manipulação de um episódio
por parte da classe dominante a fim de assinalar ênfase na superestrutura
social, pois o escravo negro já não tinha mais o valor de outrora, sendo
dispensado em atividades econômicas de grande relevância.
Observando a
galeria dos abolicionistas conclui-se que as pessoas envolvidas na campanha
eram influentes e bem situadas na hierarquia social daquela época. Homens de
projeção social, econômica e política endossaram as propostas originadas a
partir da Loja Maçônica 24 de Junho.
A abolição da
escravatura cinco anos antes da Lei Áurea conferiu a Mossoró status libertário,
pois marca indelével na cultura local, o célebre 30 de setembro de 1883 foi
transformado em símbolo do estoicismo e abnegação humanitária lembrado até hoje
em festas cívicas que assinala Mossoró enquanto terra da Liberdade.
José Romero
Araújo Cardoso. Geógrafo. Escritor. Professor-Adjunto do Departamento de
Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte.
Enviado pelo professor, escritor e pesquisador do cangaço José Romero Araújo Cardoso
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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