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sábado, 28 de fevereiro de 2015

A INVASÃO DA VILA DE TEIXEIRA E O INÍCIO DA GUERRA DE PRINCESA

Por José Romero Araújo Cardoso

O envio de tropas da Polícia Militar do Estado da Paraíba intuindo garantir o bom encaminhamento das eleições marcadas para o dia 28 de fevereiro de 1930 assinalou o início da guerra de Princesa.

Contingente comandado pelo Tenente Ascendino Feitosa tinha destino certo, a Vila de Teixeira, situada em área montanhosa, assim como Princesa e circunvizinhança.  O comandante do pelotão militar tinha queixas particulares contra a família que detinha a hegemonia naquela povoação perdida nos confins do sertão.

Em uma briga, Silveira Dantas havia levado vantagem sobre Ascendino Feitosa. Irado e desmoralizado, o militar havia jurado vingança, a qual estava para se concretizar com a decisão do Presidente João Pessoa em fazer valer sua autoridade como chefe do executivo paraibano.

A família Dantas fora pega de surpresa. Logo estavam encarceradas pessoas de destaque na região.  A cadeia de Teixeira nunca havia recebido gente tão importante e bem situadas na hierarquia da sociedade sertaneja agropastoril.

Ameaças veladas eram feitas constantemente, mas que não tinham ressonância na medida exata como Ascendino Feitosa pretendia, pois àquela gente estava acostumada com o clima tenso que marcou indelevelmente o sertão daquelas eras turbulentas.

O comandante militar se dirigia aos presos ameaçando-os initerruptamente de sangrá-los. “Hoje bebo o sangue dos Dantas!”, bradava Ascendino Feitosa, futuramente o responsável pelas execuções de João Dantas e Augusto Caldas na Penitenciária do Recife, em razão do assassinato do Presidente João Pessoa.

Dona Cota respondia em tom de deboche: “Bebe, desgraçado, só assim terás sangue bom nessas suas veias sujas!”.

Não tardou para que o “Coronel” José Pereira Lima soubesse dos acontecimentos com os importantes aliados na Vila do Teixeira. A decisão de libertar os Dantas logo foi posta em prática.

Encourados, vestindo gibões, com chapéus de couro quebrados na testa, perfazendo a mais pura essência da estética sertaneja, quinhentos homens foram despachados por Zé Pereira para a Vila do Teixeira.

Comandava-os dois importantes cabos-de-guerra do “Coronel” Zé Pereira. Luiz do Triângulo ou Luiz da Cacimba Nova, e Lindu estavam na vanguarda do pelotão do exército do futuro Território Livre de Princesa.

Aboiando e empunhando rifles winchester calibre 44, mandaram o recado para Ascendino Feitosa e sua tropa. Se não soltassem os Dantas imediatamente iriam morrer no cipó-de-boi, sem escapar um só.

Aflita e completamente desnorteada, a tropa e seu comandante fugiram em direção ao Estado de Pernambuco.

A família Dantas foi solta e colocada em local seguro. Como prova de reconhecimento ao gesto heroico, Ariano Suassuna imortalizou Luiz do Triângulo no Romance da Pedra do Reino, concedendo-lhe título de nobreza.

Dessa forma se consumava o primeiro episódio da guerra de Princesa, cuja declaração efetivava-se em 28 de fevereiro de 1930, quando, a partir daí, intensificavam-se os combates cruentos entre as tropas militares do governo do Estado da Paraíba e o verdadeiro exército arregimentado pelo “Coronel” José Pereira Lima.

José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Escritor. Professor-Adjunto do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.

Enviado pelo professor, escritor e pesquisador do cangaço José Romero Araújo Cardoso

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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