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segunda-feira, 13 de junho de 2016

A RESSURGÊNCIA DO POÇO FEIO (COMUNIDADE RURAL DO BONITO, MUNICÍPIO DE GOVERNADOR DIX-SEPT ROSADO – ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE) E A IMPORTÂNCIA DA ANÁLISE GEOECOLÓGICA E DA GESTÃO AMBIENTAL

Por José Romero de Araújo Cardoso

          
O Estado do Rio Grande do Norte exibe boa parte do seu território assentado sobre a bacia potiguar, sendo que a característica mais expressiva desta está nas formações de relevo cárstico que remontam à era cretácea.
          
Existem poucas cavernas calcárias inundadas nesta unidade federativa, destacando-se a ressurgência do Poço Feio, localizada na comunidade rural do sítio Bonito, município de Governador Dix-sept Rosado. ROSADO (1999), fazendo menção ao trabalho espeleológico realizado no século XIX pelo Padre Florêncio Gomes de Oliveira, destacou que o sacerdote abordou as cavernas que tem água por dentro, como a de São Sebastião e a do Poço Feio. A primeira por não mais haver notícias no presente, provavelmente foi perdida devido à ação antrópica desmedida, enquanto a segunda ainda existe, embora intensamente agredida nos dias atuais pela prática do turismo predatório e extração de rochas calcárias em suas adjacências.
          
Devido a pouca importância atribuída às cavernas potiguares, inúmeras estruturas espeleológicas desapareceram ao longo do tempo, em função de privilégio imediatista ao econômico em detrimento do racional.
          
O turismo predatório vem se impondo constantemente dentro e na área próxima à caverna calcária do Poço Feio, ampliando a agressão ambiental em razão que o entorno, bem como propriamente à formação espeleológica que embasa o objeto de estudo da presente proposta, tem servido como fonte de matéria-prima para a produção econômica que se destina, principalmente, à construção civil.
           
Por causa da contínua fragmentação de atividades produtivas importantes, geradoras de emprego e renda no passado, como o cultivo de cebola e alho às margens do rio Apodi-Mossoró (COSTA, 1949; DA SILVA, 2002), assim como a exploração de gipsita nas vossorocas da Espadilha, o município de Governador Dix-sept Rosado/RN tem sido alvo da tendência em registrar contínua defasagem de indicadores socioeconômicos e ambientais, que revelam o empobrecimento da população em consonância com o recrudescimento de impactos sobre o meio ambiente, devido a exagerada intervenção na natureza, isenta de consciente gestão ambiental, que instiga uma busca desenfreada por recursos naturais que permitam viabilizar a continuidade de atividades econômicas desenvolvidas historicamente no município, a exemplo da produção da cal, cuja exigência por rochas calcárias vem se intensificando, provavelmente devido, entre outros fatores, à urbanização acelerada.
          
Na atualidade, aumenta a importância dos estudos geoambientais que possam subsidiar políticas públicas a fim de que haja condições de superar desafios do milênio, sobretudo, em se tratando de área localizada em região com notória incipiência na relação que deve estar presente entre desenvolvimento humano e respeito à capacidade de suporte do meio físico-biótico.  
          
Partindo dessas premissas, a análise geoecológica visa alicerçar a gestão ambiental uma vez que articula conceitos de paisagem natural, social e cultural, ou seja, permite dessa forma diagnóstico holístico do meio físico e biótico a fim de apontar caminhos que possam viabilizar a construção do desenvolvimento sustentável, através de dados concisos que permitam constatar a realidade humana e a situação ambiental no entorno da ressurgência da caverna calcária do Poço Feio, cuja paisagem no presente encontra-se visivelmente marcada pelas nódoas da ação antrópica.
           
Mesmo se for decretada intervenção por instituições públicas que tratam do meio ambiente, com certeza, não haverá como impedir que as pessoas se arrisquem em busca de diversão e lazer na área onde está encravada a caverna calcária do Poço Feio. Espeleotemas externos são uma entre as várias ameaças que põe em risco os praticantes do turismo predatório.
          
O reconhecimento integrado, multidisciplinar, tende a orientar efetivas pretensões de necessária gestão ambiental, principalmente, através de possível prioridade a polo turístico sustentável, com certeza, o mais indicado para garantir que sejam alicerçadas as bases para nova etapa na postura humana em suas complexas ou simples práticas do dia-a-dia, principalmente, no município de Governador Dix-sept Rosado e região.  
           
Indubitavelmente, estudo integrado do meio físico-biótico e socioeconômico, através de efetivação de informações buscada em análise geoecológica, com vistas à gestão ambiental da caverna calcária do Poço Feio e seu entorno, servirá de instrumento científico que clamará e orientará ações a fim de que haja melhor direcionamento à utilização do lugar e das atividades econômicas desenvolvidas, com ênfase na viabilidade e na perpetuação do turismo racional, tendo como base a estimativa de sua capacidade de visitação, sendo observados assim os critérios propostos para o desenvolvimento sustentável.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

COSTA, J. J. Minhas Memórias da Terra de Santa Luzia do Mossoró. Mossoró: Boletim Bibliográfico, 1949. (Série B; Coleção Mossoroense; Vol. II). 45 p.

DA SILVA, R. C. Terra do Alho, da Cal e do Petróleo: Nossa Terra. Mossoró: Ed. do Autor, 2002. 230 p.: il.

ROSADO, V. Minhas Memórias da Paleontologia Mossoroense – Primeiro Volume (1854 a 1934).  Mossoró: Fundação Vingt-un Rosado, 1999 (série C; Coleção Mossoroense; Vol. 1089). 357 p.

José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Escritor. Professor-Adjunto IV do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Especialista em Geografia e em Gestão Territorial (UFPB) e em Organização de Arquivos (UFPB). Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA – UERN). Sócio do Instituto Cultural do Oeste Potiguar (ICOP) e da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço (SBEC).

Envio do autor

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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