Por José
Romero de Araújo Cardoso
O Estado do Rio Grande do Norte exibe boa parte do seu território assentado
sobre a bacia potiguar, sendo que a característica mais expressiva desta está
nas formações de relevo cárstico que remontam à era cretácea.
Existem poucas cavernas calcárias inundadas nesta unidade federativa,
destacando-se a ressurgência do Poço Feio, localizada na comunidade rural do
sítio Bonito, município de Governador Dix-sept Rosado. ROSADO (1999), fazendo
menção ao trabalho espeleológico realizado no século XIX pelo Padre Florêncio
Gomes de Oliveira, destacou que o sacerdote abordou as cavernas que tem água
por dentro, como a de São Sebastião e a do Poço Feio. A primeira por não mais
haver notícias no presente, provavelmente foi perdida devido à ação antrópica
desmedida, enquanto a segunda ainda existe, embora intensamente agredida nos
dias atuais pela prática do turismo predatório e extração de rochas calcárias
em suas adjacências.
Devido a pouca importância atribuída às cavernas potiguares, inúmeras
estruturas espeleológicas desapareceram ao longo do tempo, em função de
privilégio imediatista ao econômico em detrimento do racional.
O turismo predatório vem se impondo constantemente dentro e na área próxima à
caverna calcária do Poço Feio, ampliando a agressão ambiental em razão que o
entorno, bem como propriamente à formação espeleológica que embasa o objeto de
estudo da presente proposta, tem servido como fonte de matéria-prima para a
produção econômica que se destina, principalmente, à construção civil.
Por causa da contínua fragmentação de atividades produtivas importantes,
geradoras de emprego e renda no passado, como o cultivo de cebola e alho às
margens do rio Apodi-Mossoró (COSTA, 1949; DA SILVA, 2002), assim como a exploração
de gipsita nas vossorocas da Espadilha, o município de Governador Dix-sept
Rosado/RN tem sido alvo da tendência em registrar contínua defasagem de
indicadores socioeconômicos e ambientais, que revelam o empobrecimento da
população em consonância com o recrudescimento de impactos sobre o meio
ambiente, devido a exagerada intervenção na natureza, isenta de consciente
gestão ambiental, que instiga uma busca desenfreada por recursos naturais que
permitam viabilizar a continuidade de atividades econômicas desenvolvidas
historicamente no município, a exemplo da produção da cal, cuja exigência por
rochas calcárias vem se intensificando, provavelmente devido, entre outros
fatores, à urbanização acelerada.
Na atualidade, aumenta a importância dos estudos geoambientais que possam
subsidiar políticas públicas a fim de que haja condições de superar desafios do
milênio, sobretudo, em se tratando de área localizada em região com notória
incipiência na relação que deve estar presente entre desenvolvimento humano e
respeito à capacidade de suporte do meio físico-biótico.
Partindo dessas premissas, a análise geoecológica visa alicerçar a gestão
ambiental uma vez que articula conceitos de paisagem natural, social e
cultural, ou seja, permite dessa forma diagnóstico holístico do meio físico e
biótico a fim de apontar caminhos que possam viabilizar a construção do
desenvolvimento sustentável, através de dados concisos que permitam constatar a
realidade humana e a situação ambiental no entorno da ressurgência da caverna
calcária do Poço Feio, cuja paisagem no presente encontra-se visivelmente
marcada pelas nódoas da ação antrópica.
Mesmo se for decretada intervenção por instituições públicas que tratam do meio
ambiente, com certeza, não haverá como impedir que as pessoas se arrisquem em
busca de diversão e lazer na área onde está encravada a caverna calcária do
Poço Feio. Espeleotemas externos são uma entre as várias ameaças que põe em
risco os praticantes do turismo predatório.
O reconhecimento integrado, multidisciplinar, tende a orientar efetivas
pretensões de necessária gestão ambiental, principalmente, através de possível
prioridade a polo turístico sustentável, com certeza, o mais indicado para
garantir que sejam alicerçadas as bases para nova etapa na postura humana em
suas complexas ou simples práticas do dia-a-dia, principalmente, no município
de Governador Dix-sept Rosado e região.
Indubitavelmente, estudo integrado do meio físico-biótico e socioeconômico,
através de efetivação de informações buscada em análise geoecológica, com
vistas à gestão ambiental da caverna calcária do Poço Feio e seu entorno,
servirá de instrumento científico que clamará e orientará ações a fim de que
haja melhor direcionamento à utilização do lugar e das atividades econômicas
desenvolvidas, com ênfase na viabilidade e na perpetuação do turismo racional,
tendo como base a estimativa de sua capacidade de visitação, sendo observados
assim os critérios propostos para o desenvolvimento sustentável.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS:
COSTA, J. J.
Minhas Memórias da Terra de Santa Luzia do Mossoró. Mossoró: Boletim
Bibliográfico, 1949. (Série B; Coleção Mossoroense; Vol. II). 45 p.
DA SILVA, R.
C. Terra do Alho, da Cal e do Petróleo: Nossa Terra. Mossoró: Ed. do
Autor, 2002. 230 p.: il.
ROSADO, V. Minhas
Memórias da Paleontologia Mossoroense – Primeiro Volume (1854 a 1934). Mossoró:
Fundação Vingt-un Rosado, 1999 (série C; Coleção Mossoroense; Vol. 1089). 357
p.
José Romero
Araújo Cardoso. Geógrafo. Escritor. Professor-Adjunto IV do Departamento de
Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte. Especialista em Geografia e em Gestão
Territorial (UFPB) e em Organização de Arquivos (UFPB). Mestre em
Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA – UERN). Sócio do Instituto Cultural
do Oeste Potiguar (ICOP) e da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço
(SBEC).
Envio do autor
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário