Por José Romero
Araújo Cardoso
Antônio Vicente Mendes Maciel, cearense de Quixeramobim, cuja marca indelével,
impressa na História das lutas do povo brasileiro de forma positiva e concisa,
permanece viva nas mentes lúcidas daqueles que buscam elucidar o sentido das
repetidas negações das versões oficiais, efetivadas ao longo de um processo de
construção histórica que beneficia donos do poder e que reproduzem a própria
essência da manutenção do status quo em nossa sociedade.
Adjetivos pecaminosos foram lançados contra àquele homem que desafiou as
estruturas de poder em um sertão sem lei e cheio de reis do final do conturbado
século XIX, cuja histeria em torno do que abalaria a república tornou-se
condição sine qua non para a própria efetivação da perversidade levada avante
pelos militares e corroborados por civis, como Prudente de Morais.
Monte Santo, localizado em pleno sertão adusto do Estado da Bahia, território
histórico em sua expressão absoluta, palco de inúmeros fatos verificados quando
da campanha de Canudos, tem todo direito de se orgulhar de dileto filho de nome
José Gonçalves, pois a lucidez do grande pesquisador da história sertaneja
vislumbra de forma impecável e aconselhável a importância histórico-social de
Antônio Vicente Mendes Maciel enquanto condutor de massas e veículo de
contestação à contundente ordem estabelecida a partir dos interesses que nortearam
todo processo de ocupação territorial da hinterlandia, cujo reflexo no que
ficou estabelecido na zona litorânea perpassa a essência das desigualdades que
tiveram em Canudos, entre outros movimentos sociais, resultado da contestação a
um sistema desumano que no presente responde diretamente pela perpetuação de
mazelas fragorosas.
Conselheiro tornou-se sinônimo de luta por melhores dias para gente sofrida que
buscou Belo Monte a fim de desfrutar de melhor existência. Para os detentores
de privilégios indescritíveis, o beato nordestino representava sérias ameaças
que precisavam ser removidas a ferro e fogo.
O ódio devotado à notável experiência de sociedade alternativa construída com
afinco, fé e determinação nos carrascais perdidos ao longo das elevações do
Cocorobó, cristalizado por aqueles que se arvoraram em donos da situação desde
os primeiros momentos da colonização brasileira traduziu, em essência, a
intolerância que a própria elite dirigente destina aos insurgentes que buscam caminhos
diferenciados, livres da exploração desmedida que vem gerando infortúnios
desagradabilíssimos para a maioria da população brasileira.
A decisão de não deixar pedra sobre pedra, esmagando Canudos, sintetiza
claramente como vem sendo efetivado todo pacto social que pudesse beneficiar
parcela historicamente excluída do processo coletivo de construção social no
Brasil.
Coroando com invulgar perfeição a proposta literária, temas diversos são
inseridos na presente e oportuna obra, a exemplo de fábulas indígenas que fazem
parte do nosso folclore, enriquecendo-o significativamente, não esquecendo a
influência exercida no autor pela extraordinária produção científico-cultural
legada por Euclides da Cunha e pelo movimento armorial encabeçado por Ariano
Suassuna.
Escrito de forma brilhante, em linguagem simples e direta, primando pela ênfase
à autentica literatura nordestina – o cordel – Antônio Conselheiro,
Canudos e outros temas vem contribuir de forma brilhante para o
engrandecimento da cultura regional.
José Romero
Araújo Cardoso. Geógrafo. Escritor. Professor-Adjunto IV do Departamento
de Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte. Especialista em Geografia e Gestão Territorial e
em Organização de Arquivos. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Sócio da
Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço (SBEC) e do Instituto Cultural do
Oeste Potiguar (ICOP).
Enviado pelo autor.
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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