Por Clerisvaldo B.
Chagas, 21 de setembro de 2016 - Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano - Crônica 1.577
Vem chegando a nossa primavera. E quando falamos nossa, estamos nos referindo a primavera austral, ou seja, a do Hemisfério Sul. Por aqui, a estação tem início em 23 de setembro e termina em 21 de dezembro quando se inicia o verão.
Muitos estudos das estações do ano são interessantes, mas dificilmente
professores de Geografia do Curso Médio, enveredam por determinados temas
referentes a Astronomia. Movimentos do Sol, da Lua, dos planetas, cometas,
marés, correntes marinhas e as periferias desses caminhos, quase sempre viram
fantasmas das programações didáticas, saltados como brincadeiras de pular
corda.
Quadro
de Carl Larsson.
Para o rigor popular nordestino somente possuímos duas estações: verão e
inverno. Época de verão, estio longo ou muito longo, sujeito às secas e às trovoadas.
Tempo de inverno, chuvas fracas ou fortes muitas vezes seguidas de enchentes
arrasadoras.
Na verdade, se observarmos bem, a primavera chega em todos os lugares, do
litoral ao sertão, mostrando-se mais à vontade onde predominam os vegetais nativos.
A Floresta Tropical resumida em reservas, recebe docemente e mostra a
influência da temperatura amena. A vegetação de praia, mesmo com suas pequenas
flores, pisadas pelos transeuntes glorifica o universo e são apontadas pelos
mais atentos. Assim é o mangue, o agreste e a caatinga. É costume se falar
sobre o início da primavera sertaneja, pelos próprios habitantes como:
"Vai iniciar o verãozão!". De fato, a falta d'água no semiárido
começa até mesmo no fim do inverno pegando a primavera e puxando na linha até o
inverno do ano seguinte. Mesmo com a falta d'água, a Natureza não deixa de
mostrar os sinais da estação nos arbustos, árvores, arvoretas, cactáceas e mato
rasteiro. Tudo depende do modo de olhar os campos, assim como o modo de se
olhar a vida.
Cada florzinha formando os coloridos com outras flores, vai tentando amenizar
os espinhos que nos furam os pés. A Craibeira, o Pau d'Arco, o Pereiro, mostram
de longe o que recusamos a ver de perto. E vamos seguindo a nossa vida, muitas
e muitas vezes avistando somente os garranchos queimados pela inclemência. Por
que os garranchos são aquilos que carregamos e queremos ver. Nossa amarguras se
perdem nas belezas discretas das pequenas flores que cercam o lajeiro ou nas
flores brancas e compridas que cobrem os espinheiros. Cada um de nós transporta
dentro de si a paisagem proscrita de qualquer uma das estações. A escolha é
nossa.
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