Ruínas
de casas de dona Generosa, coiteira de Virgulino Ferreira da Silva, integram a
rota do cangaço
Casa da coiteira de Lampião, capela, cemitério contíguo: belo cenário Foto: Rita Barreto/Bahiatursa
Um pequeno e
belo conjunto de construções populares, em meio à paisagem rústica do semiárido
baiano, descortina-se com a visita ao Riacho, povoado distante 25 quilômetros
de Paulo Afonso, situado à beira da Rodovia BR-110. Ali se encontram as ruínas
da casa de dona Generosa, conhecida coiteira de Lampião, famosa por promover
bailes perfumados que atraiam os cangaceiros pelo sertão.
O conjunto
engloba ainda uma capela com um cruzeiro em frente e cemitério contíguo. Logo
adiante, mais três casas deterioradas, tudo emoldurado pela imponente Serra do
Umbuzeiro, o ponto mais alto do município, com mais de 500 metros acima do
nível do mar. Um prato cheio para historiadores, estudiosos e
pesquisadores do cangaço.
Diz a lenda
que o perfume usado por Lampião era tão forte que todos se escondiam quando
percebiam sua presença pelo cheiro vindo lá da serra. E dona Generosa então
preparava o baile para o rei do cangaço e seu bando, que andaram também pelo
Raso da Catarina, reserva ecológica e indígena que serviu de abrigo para os cangaceiros
e também integra o roteiro do cangaço em Paulo Afonso.
CENÁRIO
– Generosa Gomes de Sá, que morreu na década de 1950, aos 114 anos
de idade, “contratava as mulheres e os músicos e fazia os bailes. O que a
gente chama de forró, eles chamavam de baile. Mas tudo era feito no maior
respeito”, informa o historiador e escritor João de Sousa Lima, que pesquisa o
cangaço há 18 anos. Ele destaca os símbolos esculpidos pela coiteira na capela,
que são as mesmas estrelas que aparecem nos chapéus dos cangaceiros. “Tanto
as orações quanto esses símbolos eram para pedir proteção divina”, completa.
Autor de nove
livros, o historiador conta que as casas e a capela foram construídas por dona
Generosa em 1900, que contratou pedreiros de Pernambuco para fazer o adobe,
pois na região se erguiam imóveis apenas de taipa. Tudo aquilo, acrescenta,
“forma um dos mais espetaculares conjuntos arquitetônicos”. Um cenário cada vez
mais determinante em meio à rota que define, pelos nove estados da Região
Nordeste, os caminhos percorridos por Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião,
morto na Grota do Angico, em Canindé de São Francisco (SE), em julho de 1938.
AS CASAS - As
construções de alvenaria erguidas em um sertão remoto chamam a atenção por
assumirem certa imponência em meio à vegetação típica. Restam poucos paredes em
pé, sobretudo da casa onde aconteciam os bailes perfumados, que sobressaem pela
espessura e formato, em contraposição à taipa usada normalmente
naquela época e lugar. Dona Generosa não teve filhos, mas construiu as outras
três casas para os adotivos, conta João de Sousa Lima. Um imóvel apresenta
desenhos nas paredes, criados por um artista do município alagoano Delmiro
Gouveia.
Uma das poucas
imagens de dona Generosa compõem o acervo de fotos do casal Maria Madalena
Azevedo da Silva e Liberato Araújo, que moram ali perto do conjunto
arquitetônico, às margens da BR 110. Ela é um dos sete filhos de
Terezinha Gomes de Sá (Terezinha Azevedo, depois de casada), que foi criada por
Generosa, e neta de Afonso Júnior de Carvalho, também adotado pela
coiteira.
Ao lado do marido,
Madalena pouco sabe da história da avó e dos bailes por ela promovidos. Mas
espera ver a história da sua família resgatada. “Falta recurso para restaurar
as casas, mas esperamos que o poder público interfira para preservar as
construções”, frisa.
Outro detalhe
no roteiro do cangaço é a cruz no local onde Generosa enterrou o coiteiro Zé
Pretinho, em 1931. João de Sousa Lima conta que houve um tiroteio, na
Lagoa do Mel, em que foi morto o irmão mais novo de Lampião, Ezequiel. Mas
a volante, polícia da época que caçava os cangaceiros, também sofreu 18 baixas
e atribuiu a reação do bando do rei do cangaço ao alerta feito por Zé Pretinho,
que foi perseguido, feito de tiro ao alvo e esquartejado em frente à casa de
Generosa.
MARIA BONITA -
A 13 quilômetros do Riacho, no povoado de Malhada da Caiçara, encontra-se a
casa em que Maria Bonita morou antes de fugir com o bando de Lampião.
Transformada em museu, ali podem ser contemplados objetos referencias e
reproduções de fotos do cangaço.
Perto,
ergue-se a Serra do Umbuzeiro, hoje muito visitada sobretudo na Semana Santa,
tendo no alto instalado um cruzeiro, de onde se avistam Delmiro Gouveia e toda
a cidade de Paulo Afonso. Entre os atrativos, também, o Raso da Catarina, maior
reserva de caatinga do mundo, distante cerca de 48 quilômetros do centro de
Paulo Afonso.
São destinos
que precisam ser melhor explorados, segundo o presidente do Sindicato de
Turismo da Bahia – Sindetur, Luiz Augusto Leão Costa, que acompanhou o
famtour de operadores de viagens em Paulo Afonso. “Aquilo ali tem que
ser revitalizado”, afirma ele, ao se referir às ruínas, à capela e às
casas: “É necessário agir rapidamente, porque o tempo está acabando com as
coisas e o povo não tem uma noção do significado daquilo ali”.
Passeio de
caiaque no cânion do Rio São Francisco, em Paulo Afonso Foto: Rita
Barreto/Bahiatursa
Paisagem
exuberante em roteiro de três dias
Um famtour de
três dias revelou a paisagem de Paulo Afonso, município a 480 quilômetros de
Salvador, para operadores de viagens da Costa do Cacau, da Chapada Diamantina,
do Vale do São Francisco e da capital baiana.
Eles
participaram da segunda etapa do projeto Viaje Por Um Mundo Chamado Bahia,
desenvolvido pela Bahiatursa, no sentido de fomentar o fluxo turístico dentro
do próprio Estado. O projeto foi formatado, segundo Weslen Moreira, diretor de
Serviços Turísticos da Bahiatursa, com base em pesquisa realizada pela
Secretaria do Turismo (Setur), “que aponta que 52% do público que frequenta os
atrativos da Bahia são baianos”.
Profissionais
das mais diferentes zonas turísticas viajaram para conhecer a cultura, a
gastronomia e os atrativos do destino e participar de rodadas de negócios com
empresários locais de bares, hotéis, pousadas, restaurantes e agências de
viagens.
Uma visita à
Companhia Hidroelétrica do São Francisco – Chesf, na usina de Paulo Afonso IV,
mostrou a possibilidade de realização de um roteiro altamente segmentado,
destinado a especialistas e estudantes da área tecnológica para conhecer todo o
processo de geração de energia e subestações elevadas.
Mas Paulo
Afonso reserva muito mais para o turista: passeios de caiaque e de catamarã
pelos cânions do Rio São Francisco e uma nova visita ao complexo de
hidrelétricas da Chesf, na área das usinas PA I II e III.
Do alto, se
avistam a gruta do Morcego, as pontes pênseis, a Usina de Angiquinho, primeira
hidrelétrica do Nordeste, construída por Delmiro Gouveia em 1913, e o
conjunto de rochas com mais de 80 metros de altura, esculpidas pelas águas da
cachoeira que se forma, efetivamente, somente quando se abrem as
comportas da barragem.
http://www.bahiatursa.ba.gov.br/noticias/paulo-afonso-revela-joia-da-arquitetura-popular-encravada-nos-caminhos-de-lampiao/
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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