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sábado, 8 de outubro de 2016

BEIÇOS E LÁBIOS

*Rangel Alves da Costa

Os beiços são os mesmos lábios, ou não? Mas você quer beijar os beiços ou os lábios da pessoa amada? Ou tanto faz, já que o gosto e o prazer serão os mesmos? Mas engana-se ao imaginar que beijando um beiço beija igualmente um lábio.

Creio que a maioria prefere beijar o beiço. E sem dúvida que, na ávida exaltação, é muito melhor beijar um beiço do que um lábio. Ante tais situações, não se contenta em aproximar a boca das simples bordas da outra boca, beijando a pele que se sobressai em contorno. Quer sempre mais.

E se quer sempre mais, então tem de beijar o beiço, e não o lábio. Por quê? Antes de dizer o motivo tentarei uma descrição visual. Lembram-se daquele filme A Dama de Vermelho e da boca sexy e sensual de Charlotte (Kelly LeBrock), ou mesmo da boca torneada e igualmente sexy de Angelina Jolie? Pois bem. Nelas estão verdadeiros beiços, e não lábios.

Mas não apenas pela sensualidade ou pelo erotismo na expressão, mas pelo volume dos beiços, pelos seus formatos, pelas suas aparências, pelas medidas além da normalidade do que geralmente é encontrado em outras bocas. Então já deu para sentir a sutil - ou grande diferença - entre beiços e lábios: os beiços são sempre carnudos.

Assim, quando os lábios são carnudos trasmudam-se em beiços. A real diferença está mesmo na porção a mais de carne, no volume carnoso que a outra boca vai encontrar, na possibilidade de o lábio melhor se amoldar aos contornos da outra boca. E quando sorri o beiço sempre provoca, mesmo que não tenha intenção de provocar.


Ademais, o beiço é sempre mais erótico, mais sensual, mais sexy, mais provocativo, até mais lascivo e mais libidinoso. Diante de um beiço carnudo, geralmente nem precisa que a mulher demonstre saliência em outras partes. Contudo, o grande mistério da sensualidade está na forma como sua dona o transforma em silenciosas mensagens.

Um beiço pintado de batom vermelho provoca reações inimagináveis. Um beiço sensual que levemente sorri deixa qualquer olhar desconcertado, um beiço que faz biquinho ou manda beijinho não precisa dizer mais nada. A tradução da imagem cabe a cada um, mas certamente não existe quem não se sinta afetado por um beiço avermelhado cuja dona olhou para trás e sorriu.

E como será beijar entre e sobre beiços, daqueles bem verdadeiros, sensuais, carnudos, apetitosos? Não sei, realmente não sei, pois nunca beijei um assim. Quando muito um lábio, quando muito uma boca que nem recordo mais quem era sua dona. Daí já dá para imaginar quanto tempo sem beijar. E também sequer sei mais como se faz.

Mas deve ser ato e ação verdadeiramente maravilhosos. Deve ser ação em potência, calor e eletricidade, faísca e chama. Não que o sabor seja diferente de profundo beijo no lábio, não que a aproximação seja diferente e o primeiro toque já vá se aprofundando na pele carnuda, mas a volúpia em si, a vontade incontida de posse, uso e fruição, de toda a boca e seu entorno.

Contudo, confesso uma coisa: se me fosse possível beijar agora, preferia um lábio simples e singelo a um beiço carnudo. Creio que o beiço não se presta muito ao que uma boca tem a dizer à outra, acredito que somente um lábio suave e sereno sabe dialogar o verdadeiro prazer do encontro. E mais: é subir aos céus aproximar o lábio de um lábio amado, senti-lo suavemente roçar na pele, senti-lo apenas poesia.

Talvez assim pense por que o meu primeiro beijo foi num lábio e não num beiço. E jamais me esquecerei daquela boca miúda e seu entorno tão meigo e suave como um pedacinho de algodão doce. E no toque, apenas num leve toque, os olhos fechados lamberam o açúcar e o meu corpo inteiro sumiu entre as nuvens. E quando abri os olhos não acreditei: eu estava amando!

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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