*Rangel Alves
da Costa
Os beiços são
os mesmos lábios, ou não? Mas você quer beijar os beiços ou os lábios da pessoa
amada? Ou tanto faz, já que o gosto e o prazer serão os mesmos? Mas engana-se
ao imaginar que beijando um beiço beija igualmente um lábio.
Creio que a
maioria prefere beijar o beiço. E sem dúvida que, na ávida exaltação, é muito
melhor beijar um beiço do que um lábio. Ante tais situações, não se contenta em
aproximar a boca das simples bordas da outra boca, beijando a pele que se
sobressai em contorno. Quer sempre mais.
E se quer
sempre mais, então tem de beijar o beiço, e não o lábio. Por quê? Antes de
dizer o motivo tentarei uma descrição visual. Lembram-se daquele filme A Dama
de Vermelho e da boca sexy e sensual de Charlotte (Kelly LeBrock), ou mesmo da
boca torneada e igualmente sexy de Angelina Jolie? Pois bem. Nelas estão
verdadeiros beiços, e não lábios.
Mas não apenas
pela sensualidade ou pelo erotismo na expressão, mas pelo volume dos beiços,
pelos seus formatos, pelas suas aparências, pelas medidas além da normalidade
do que geralmente é encontrado em outras bocas. Então já deu para sentir a
sutil - ou grande diferença - entre beiços e lábios: os beiços são sempre
carnudos.
Assim, quando
os lábios são carnudos trasmudam-se em beiços. A real diferença está mesmo na
porção a mais de carne, no volume carnoso que a outra boca vai encontrar, na
possibilidade de o lábio melhor se amoldar aos contornos da outra boca. E
quando sorri o beiço sempre provoca, mesmo que não tenha intenção de provocar.
Ademais, o
beiço é sempre mais erótico, mais sensual, mais sexy, mais provocativo, até
mais lascivo e mais libidinoso. Diante de um beiço carnudo, geralmente nem
precisa que a mulher demonstre saliência em outras partes. Contudo, o grande
mistério da sensualidade está na forma como sua dona o transforma em
silenciosas mensagens.
Um beiço
pintado de batom vermelho provoca reações inimagináveis. Um beiço sensual que
levemente sorri deixa qualquer olhar desconcertado, um beiço que faz biquinho
ou manda beijinho não precisa dizer mais nada. A tradução da imagem cabe a cada
um, mas certamente não existe quem não se sinta afetado por um beiço
avermelhado cuja dona olhou para trás e sorriu.
E como será
beijar entre e sobre beiços, daqueles bem verdadeiros, sensuais, carnudos,
apetitosos? Não sei, realmente não sei, pois nunca beijei um assim. Quando
muito um lábio, quando muito uma boca que nem recordo mais quem era sua dona.
Daí já dá para imaginar quanto tempo sem beijar. E também sequer sei mais como
se faz.
Mas deve ser
ato e ação verdadeiramente maravilhosos. Deve ser ação em potência, calor e
eletricidade, faísca e chama. Não que o sabor seja diferente de profundo beijo
no lábio, não que a aproximação seja diferente e o primeiro toque já vá se
aprofundando na pele carnuda, mas a volúpia em si, a vontade incontida de
posse, uso e fruição, de toda a boca e seu entorno.
Contudo,
confesso uma coisa: se me fosse possível beijar agora, preferia um lábio
simples e singelo a um beiço carnudo. Creio que o beiço não se presta muito ao
que uma boca tem a dizer à outra, acredito que somente um lábio suave e sereno
sabe dialogar o verdadeiro prazer do encontro. E mais: é subir aos céus
aproximar o lábio de um lábio amado, senti-lo suavemente roçar na pele,
senti-lo apenas poesia.
Talvez assim
pense por que o meu primeiro beijo foi num lábio e não num beiço. E jamais me
esquecerei daquela boca miúda e seu entorno tão meigo e suave como um pedacinho
de algodão doce. E no toque, apenas num leve toque, os olhos fechados lamberam
o açúcar e o meu corpo inteiro sumiu entre as nuvens. E quando abri os olhos
não acreditei: eu estava amando!
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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