Por Saul
Ramos de Oliveira*
Os
fertilizantes são insumos agrícolas essenciais para uma agricultura produtiva,
competitiva e também sustentável. É através da aplicação de fertilizantes que
se atinge maior produtividade por área, melhora o desempenho fisiológico das
plantas,possibilita o cultivo em solos de baixa fertilidade natural, diminui o
aumento da área plantada e consequentemente do desmatamento, etc. Todos esses
fatores serão cruciais para o aumento dos lucros dos produtores e da
agricultura nacional como um todo.
No entanto, esse importante insumo se mostra como um dos mais caros para os
produtores onerando muito os custos de produção.Nas cidades de Sorriso (MT) e
em Uberaba (MG), os custos para a produção de soja subiram 17,8% e 8,6%,
respectivamente. Sorriso, para se plantar um hectare de soja em abril/2015, foi
gasto de R$ 2.045,63 contra R$ 1.737,21 em abril/2014. Em Uberaba foi gasto de
R$ 1.955,94/ha em abril/2015 contra R$ 1.800,53/ha em 2014. Fertilizantes e
defensivos foram os insumos que mais impactaram os custos de produção. Na
cidade de Sorriso, o aumento com fertilizantes e defensivos foi de 24,7% e em
Uberaba, de 14,5% (1).
Os dados da
Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) apontaram que fertilizantes e
outros insumos foram responsáveis pelo grande aumento do custo de produção da
cultura do milho nas safras de 2015/16. De acordo com os dados, esses insumos
corresponderam por: 0,14% do custo de produção em Mato Grosso, 65% no Paraná,
65,72% no Rio Grande do Sul, 72,65% em Mato Grosso do Sul, 73,86% em Goiás, e
79,69% em Minas Gerais (2).
A Conab também
verificou que entre os anos de 2010 a 2016 ocorreram enormes variações dos
preços de vários tipos de fertilizantes (2). Essas variações podem ser
explicadas por uma série de fatores como: compra de fertilizantes em escala por
grandes produtores, mercado internacional (alta e baixa do dólar), especulação
financeira, etc. Esse cenário causa um impacto extremamente negativo na vida do
produtor rural, pois o mesmo fica submetido a essas flutuações, o impedindo de
realizar um planejamento agrícola a longo prazo e de saber se irá ter condições
financeiras para fertilizar suas plantações.
Esses
problemas referentes aos altos preços dos fertilizantes e das irregularidades
do mercado prejudicam ainda mais os médios e pequenos produtores. Sem políticas
governamentais efetivas de subsídios para a compra desse insumo, muitos não têm
acesso devido aos altos preços. O valor do frete tende a encarecer ainda mais a
aquisição de fertilizantes por parte desses produtores.
Estes
problemas que tanto prejudicam grandes, médios e pequenos produtores só ocorrem
devido à falta de uma política nacional para os fertilizantes. O Brasil não tem
soberania sobre suas reservas minerais e nem da comercialização dos
fertilizantes. Em média, anualmente, o Brasil gasta cerca de 28 milhões de
toneladas de fertilizantes, o problema é que 75% desses fertilizantes são de
fonte estrangeira (3).
A perda da
soberania nacional diante dos fertilizantes ocorreu na década de 90 com os
planos de privatizações do governo Collor, mas nem sempre foi assim. Nas
décadas de 40 até início da década de 90 o governo brasileiro teve grande
protagonismo da exploração e venda dos fertilizantes, além do setor privado ter
sido mais dinâmico e mais competitivo com mais empresas voltadas para esse
ramo.
As primeiras
empresas privadas desse setor realizavam misturas do tipo NPK através de
matérias primas importadas, isso ocorria devido à pequena exploração e a não
descobertas de minas nacionais. Contudo, essas importações eram feitas de forma
favoráveis através de medidas de cambio. Essa fase ficou conhecida como I Plano
Nacional de Fertilizantes(4).
Na década de
70 é criado o II Plano Nacional de Fertilizantes com a intenção de diminuir a
dependência externa, se investindo na produção de matérias primas fosfatadas e
nitrogenadas, também foi no ano de 1976 que foi criada a Petrobras
Fertilizantes S.A (Petrofertil), essa empresa, posteriormente, ainda iria
adquirir a Ultrafértil, Fosfertil e a Nitrofertil. Assim, a Petrofertil tinha
grande monopólio da exploração e da comercialização dos fertilizantes
nacionais. Na década de 80, o governo federal ainda iria lançar um segundo
plano nacional de fertilizantes, esse plano tinha como objetivo explorar minas
de rochas fosfáticas nos estados de Minas Gerais e São Paulo (4).
Com o inicio
da década de 90 e as políticas neoliberais do governo, o Brasil perdeu a
soberania da sua produção de fertilizantes. Em pouco tempo a exploração e venda
dos fertilizantes foram ficando cada vez mais monopolizada, atualmente poucas
empresas dominam o mercado, entre elas estão grandes grupos multinacionais.
A perda do
monopólio estatal dos fertilizantes causou impactos negativos para toda a
agricultura nacional, altas e instabilidade nos preços dos fertilizantes,
aumento nos custos de produção dos agricultores, menor produção por área, além
de impossibilitar agricultores menos capitalizados do acesso a esse importante
insumo. A falta de regulação estatal nesse setor também causou impactos
negativos no setor privado.
Antes das
privatizações da década 90 havia muitas empresas privadas competindo no setor,
aos poucos, pequenas e médias empresas foram sendo absorvidas por
multinacionais formando monopólios. Também vale destacar que os insumos
importados possuem tarifa zero, além de não pagar ICMS, em contrapartida, os
empresários brasileiros são tributados em operações interestaduais variando
entre 4 a 8,4% (5).
É necessário
que o estado volte a ter a soberania dos fertilizantes, é uma necessidade
nacional para o aumento do abastecimento interno dos alimentos e na geração de
empregos e renda. Deve-se entender que não se trata de uma coisa qualquer,
fertilizantes são insumos estratégicos para a soberania alimentar e da
agricultura de qualquer nação. Esses insumos possuem características finitas,
isso já é motivo suficiente para o estado ter papel de destaque na sua
exploração e em um planejamento estratégico para racionalização e uso.
Atualmente
já existe uma corrida mundial por exploração de novas minas para a produção dos
fertilizantes. Sem uma gestão planejada dessas minas,uma nação não tem como
garantira produção de seus fertilizantes, sem essa garantia não se poderá
fertilizar as culturas agrícolas e aumentar a produtividade para obter
soberania alimentar e lucros para a economia nacional.
O Brasil tem
pleno potencial para retomar a produção de fertilizante e ter destaque nesse
setor. Em nosso território tem boas reservas de rochas fosfáticas e
potássicas,com a descoberta do pré-sal será possível aumentar a produção de gás
natural e consequentemente a de fertilizantes nitrogenados. Se for adotada uma
política nacional poderá diminuir a dependência externa, e quem sabe até com o
desenvolvimento das tecnologias e dos investimentos se tornar independente em
alguns fertilizantes.
Até este ano o
governo federal tem um meta de investimentos com valor de 18,9 bilhões de
dólares para produção de fertilizantes com intuito de diminuir a dependência
externa, esses esforços ficaram sob responsabilidade, em especial, da Vale
Fertilizantes e da Petrobrás (6).
Porém, esses
esforços necessitam ser acompanhados de políticas mais abrangentes como a
monopolização do setor pelo estado. A Petrobrás já possui Know-how e
investimentos nessa área, com isso, seria muito fácil e viável reestruturar a
petrofértil Uma parte do mercado poderia ser aberto para o setor privado, no
entanto, será necessária uma regulação estatal para impedir a formação de
monopólios, isso descentralizaria a produção nacional e também proporcionava
concorrência a empresa estatal.
Novas
possibilidades mais sustentáveis também podem ser feitas. Nesse grande projeto,
um setor de investimentos para a produção de fertilizantes orgânicos e
organo-minerais também é necessário. Com a grande pecuária que o Brasil tem,
grandes quantidades de excrementos podem ser aproveitadas para a fabricação de
fertilizantes, além de uma grande biomassa de sua agricultura.
O Brasil já
tem quadros técnicos para levar esse projeto adiante e capital de sobra, só
basta vontade política e mais nada. A luta por fertilizantes a preços
acessíveis é uma luta de todos os agricultores nacionais, cabem aos mesmos se
conscientizar desse problema, que por sinal é muito pouco discutido, para
exigirem das autoridades soluções rápidas e concretas. Os agricultores também
precisam entender que a soberania nacional sobre os fertilizantes e a busca por
auto suficiência não se tratam de propostas ‘’esquerdistas’’ e sim de uma
necessidade para manter suas próprias lavouras produtivas e lucrativas hoje e
no futuro.
* Engenheiro
Agrônomo e Mestre em Horticultura Tropical pela UFCG.
REFERÊNCIAS
(1) CEPEA -
Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada. Custos De Produção Agrícola.
Disponível em: http://www.cepea.esalq.usp.br/upload/revista/pdf/0001131001468869744.pdfpdf.
Acesso em <04 2017="" ago="" de="">.04>
(2) CONAB
- Companhia Nacional de Abastecimento. Compêndio de Estudos Conab v. 1.
Brasília: Conab, 2017. Disponível em: https://www.conab.gov.br/OlalaCMS/uploads/arquivos/17_05_17_15_41_25_7_compendio_de_estudos_comportamento_dos_precso_dos_insumos_agricolas_milho_e_soja_-_volume_7_2017.pdf .Acesso
em <04 2017="" ago="" de="">.04>
(3) Correio
Braziliensi. Brasil pode aumentar dependência de importação de fertilizantes.
Disponível em :http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/economia/2014/10/14/internas_economia,452479/brasil-pode-aumentar-dependencia-de-importacao-de-fertilizantes.shtml.
Acesso em <04 2017="" ago="" de="">.04>
(4) Fernandes,
Eduardo, Bruna de Almeida Guimarães e Rômulo Ramalho Matheus (2009).
“Principais Empresas e Grupos Brasileiros do Setor de Fertilizantes”, BNDES
Setorial, Rio de Janeiro, n. 29, p.203-228.
(5) IBRAM
(Instituto Brasileiro de Mineração). 2015. AUDIÊNCIA PÚBLICA “Para debater a
importância da exploração do potássio para agricultura brasileira. Disponível
em: http://www.ibram.org.br/sites/1300/1382/00006000.pdf .
Acesso em <04 2017="" ago="" de="">.04>
(6) ESTADÃO.
Indústria de adubo do Brasil prevê investir US$18,9 bi até 2017. Disponível em:http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,industria-de-adubo-do-brasil-preve-investir-us18-9-bi-ate-2017,125256e .
Acesso em <04 2017="" ago="" de="">.04>
Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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