Por Geraldo Júnior
Durante oito
anos ele enfrentou chuva, frio, sol, fome e sede nas caatingas enquanto as
balas dos policiais passavam perto.
Os motivos que
levaram Zé Sereno ao cangaço continuaram criando-lhe problemas durante toda a
vida. Lê e escreve mas só passou 29 dias na escola. É um homem que nunca abriu
um livro mais sério, mas fala com tranquila profundidade sobre a necessidade de
se “respeitar a dignidade humana”. E se enfurece quando a norma central de seu
código é desrespeitada.
“Homem é
homem, não é bicho. Tem que ser respeitado”.
Tudo para ele
é simples. Não percebe que foi figura importante de um capítulo da nossa
história. Para ele tudo “são coisas da vida”.
Conta como
entrou para o cangaço, as injustiças que sofreu, com um misto de fatalismo e
bom humor irônico. A amargura é rara, porém quando surge brota junto com a
violência.
A CULPA DA
POLÍCIA.
“Zé Sereno”
explica que a única saída era o cangaço. Sua vida nunca foi fácil. “Lá no
Nordeste a gente nasce e sobrevive sem perceber muito como e nem por que. Vai
vivendo, brigando contra o clima, a falta d’água, quase tudo. Escola e médico
não existem. Mas a gente tinha umas terrinhas dois primos e dois tios no
cangaço. Sabe? Lá a polícia fazia o cangaceiro”.
Lembra que
nasceu a 22 de agosto de 1913 e que, aos 17 anos, já era homem feito.
“Lá a
gente crescia e amadurecia logo porque a vida era curta e o trabalho excessivo.
O sítio ia bem, pelo menos nos moldes de progresso de lá. Tinha 17 anos quando
os soldados chegaram. Queriam informações sobre meus tios e primos cangaceiros.
Não sabíamos nada, mas quebraram tudo que tínhamos em casa. Depois nos
obrigaram a morar na cidade para evitar que déssemos guarida a eles”.
“Como diz o
outro, lá não havia educação. Tudo era na base da ignorância e da estupidez.
Ficamos na cidade pensando nas plantações e na criação porque iam morrer por
falta de cuidado. Um dia eu disse pra Lídia, minha mãe:
- “Olha, pra
morrer ou viver eu vou voltar para casa”.
Cheguei e fui
agredido por um soldado. Disse que era a primeira e última agressão que na vida
e me juntei ao cangaço exatamente quando a propriedade ia bem e parecia que a
vida ia melhorar.
Partiu na
caatinga e foi deixando recados. Era sobrinho de Antônio Ingraça (Ingrácia),
Arceto e primo de Zé Bahiano e Antônio Dicenauro (Sionário). Estava procurando
o cangaço.
“Lá tudo anda depressa. A morte e os recados seguem a mesma trilha e
a fome acelera tudo. Principalmente mensagem para Lampião”.
“ZÉ SERENO” NASCEU
Encontrou os
parentes e “Lampeão”, ganhou fuzil e trocou de nome. “Zeca da Lídia” (Zé de
Lídia) não era nome de quem vai viver matando até chegar seu dia. Virou “Zé
Sereno” porque era tranquilo. Foi aprendendo rápido. Atirar e brigar de faca
era mais fácil que andar de alpercatas pelas caatingas espinhentas sob o sol
forte, as vezes dormindo no molhado da chuva e de um ou outro arroio, com pouca
comida e água. Mais difícil ainda era saber em quem confiar.
O povo gostava
dos cangaceiros. “Lampião” punia os fazendeiros que não pagavam os
trabalhadores e eram numerosos. Até padres apoiavam.
“Também éramos
todos católicos, graças a Deus”. Havia muitos fazendeiros que contribuíam com
dinheiro. O armamento era caro, mas fácil e bom. Os próprios oficiais da polícia
também vendiam fuzis modelo 22, Parabelluns 9 e 7,63 milímetros, por seiscentos
mil réis cada arma e dois mil réis o cartucho.
Mas a polícia
tinha seus aliados. De boa vontade eram poucos mas por medo não faltavam quem
falasse.
“Havia gente
que nos acolhia porque gostava e, depois informava a polícia porque tinha
medo”.
Mas “o povo
era muito bom, se não a gente teria sido derrotado”. Além das duas cartucheiras
de parabellum, mais duas de fuzil, no embornal iam sempre mais 700 ou 800
cartuchos. “Agora saber em quem confiar era mais difícil”.
“Zé Sereno”
foi se tornando especialista em descobrir amigos e inimigos. Conta que quando
via Pedro de Cândida (Cândido) “sentia o coração palpitar. Sempre soube que ele
iria traia”.
Avisou
“Lampeão” mas o “Velho Cego” respondeu que Pedro era seu coiteiro há 8 anos. Só
concordou em sair na manhã seguinte, depois que eu ameacei me retirar com meus
homens, mesmo sem ele.
A traição de
Pedro de Cândida (Cândido) custou a vida de “Lampeão”. Restou um grupo de 27
homens.
Texto: José
Eduardo
Fotos: Narciso
Santos
Fonte: Diários
Associados
Transcrição/Adendo:
Geraldo Antônio de Souza Júnior
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