Por: Rangel Alves da Costa
A LÂMPADA DO CORPO
Diz a Bíblia que o olho é a lâmpada do corpo. E prossegue afirmando que se o olho for simples, a pessoa ficará cheia de luz. Um olho sem as grandes virtudes tornará sombrio e até enegrecido o espírito. Tudo conforme escrito no Evangelho de Mateus, 6, 22-23:
“O olho é a luz do corpo. Se teu olho é são, todo o teu corpo será iluminado. Se teu olho estiver em mau estado, todo o teu corpo estará nas trevas. Se a luz que está em ti são trevas, quão espessas deverão ser as trevas!”.
Não se imagine, contudo, que a lição bíblica cuida de problemas oculares, tais como dificuldade de enxergar de longe (miopia), dificuldade de enxergar de perto (hipermetropia), enxergar desfocando ou embaçando a imagem (astigmatismo) e deficiência da visão ou cegueira para algumas cores, principalmente para o vermelho e para o verde (daltonismo). A lição bíblica possui um sentido totalmente diferente.
O que a lição deixa induvidoso é que o olho do homem é aquilo que ele quer enxergar, e se o seu olhar transforma aquilo que vê, logicamente que essa visão transformada refletirá em si mesmo. Por exemplo, olhar indiferentemente para os problemas do mundo é também ser indiferente consigo mesmo.
Ora, o mesmo olhar que se põe além da janela e passa a admirar cheio de contentamento e felicidade as obras da criação, pode ser o mesmo olhar que logo na primeira visão acha que tudo é feio e imprestável. Do mesmo modo, o conforto espiritual que é obtido por aquele que verdadeiramente se encanta com a natureza jamais será o mesmo para o que vê destruição em tudo.
O olho vê tudo, mas como ele quer enxergar é que muda tudo. O olho real se espanta e se admira, se enche de felicidade e de tristeza, chora de felicidade ou de dor, mas aquele olhar que já se abre predisposto a encontrar o que deseja jamais mudará seu brilho segundo o sentimento manifestado. A paisagem já nasce negativamente estática.
Quais seriam as conseqüências para o olhar e para o espírito do olho que se abre, por exemplo, para apreciar e valorizar a beleza de um jardim primaveril, para imaginar quantos mistérios fecundos existe no horizonte e além, para se encantar com as cores do amanhecer e do entardecer, se enternecer com a chuva que cai, brilhar com o amigo que é avistado?
Situações assim, quando o olho se engrandece e maravilhado agradece ao que encontra, refletem imediatamente no espírito. E é por isso mesmo que se diz que uma alma confortada e um espírito feliz não nascem dentro do próprio ser, e sim daquilo que ele externamente procura construir. A paz exterior se transforma em placidez e serenidade interiores, como consequencia lógica de uma vida que busca enxergar o bem.
Contudo, verdade é que pessoas existem que não admitem abrir a janela da felicidade. Ainda de olhos fechados, o espírito enegrecido já sabe o que quer e como quer enxergar. Daí que o olhar já se abre maldoso, ciumento, invejoso, arrogante, malicioso, cheio de pecaminosidade. Como já está predisposto a enxergar tudo pelo lado ruim das coisas, então basta negativar ainda mais cada situação da vida.
Um olho doentio não vê luz nem cor, não sente o brilho nem distingue as formas, simplesmente molda o cenário segundo o seu objetivo de denegrir a imagem. Tudo é feio por si mesmo, tudo é empobrecido demais, nada vale a pena ser admirado nem reconhecido pelo seu valor. Daí ser verdadeira a assertiva que muitos não precisam de armas para destruir o mundo se o olhar morticida já sai espalhando suas vítimas por onde passa.
E qual o reflexo para o espírito um olhar assim, um olho desumano e destruidor? Ora, se o semeado será colhido, se o doado será recebido e se a semente do amor frutifica a paz, logo também se conclui que os ventos semeados não chegam como tempestades ao acaso. Não há como um espírito se engrandecer de bondade se o seu dono só enxerga e dissemina maldade. Somente sombras e trevas irradiarão, interna e externamente.
Sorte daqueles que podem abrir suas janelas e encontrar motivos de engrandecimento na vida. A luz que o olhar transmite ao corpo e a alma é como filtro que purifica a existência e afasta de vez a cegueira da irracionalidade.
Rangel Alves da Costa
Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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