Por: Geraldo Maia do Nascimento
Na verdade, nesse momento da história brasileira, o número de escolas era muito restrito. No período colonial as práticas iniciais de escolarização se davam, na maior parte dos casos, nos próprios engenhos ou fazendas, com algum elemento mais letrado, o padre, o capelão ou mesmo um mestre-escola contratado para esse fim. Poucas eram as escolas públicas de ensino primário. Os escravos eram proibidos de freqüentar os bancos escolares e às meninas considerava-se necessário oferecer-lhes apenas uma educação geral necessária para bem cumprirem as atividades domésticas. Aos poucos, principalmente a partir do período imperial, algumas iniciativas foram sendo tomadas no sentido de ampliar a oferta de escolarização da população. A sociedade começou a se tornar mais complexa e as demandas em torno da escolarização aumentaram significativamente. Mais postos de trabalho surgiram, outros costumes culturais foram adotados: a instrução e a educação passaram a ser vistas como necessárias ao desenvolvimento econômico e cultural do país e um dos signos da \"civilidade.\"
É somente também no século XIX, com a implantação da imprensa régia em 1808, que o Brasil iniciou sistematicamente a impressão de livros. Então, não só na escola, mas nas diversas instâncias sociais, eram raros os objetos disponíveis para a leitura, poucos os lugares onde se poderia adquirir esses objetos (bibliotecas e livrarias só existiam nas cidades mais populosas) e, conseqüentemente, poucos os leitores.
A partir da segunda metade do século XIX, começaram a surgir no país, ainda que alguns fossem impressos na Europa, livros de leitura destinados especificamente às séries iniciais da escolarização. Em 1868, Abílio César Borges iniciou a publicação de uma das séries mais editadas no período. Os livros foram considerados inovadores no momento em que foram editados: o Primeiro Livro, destinado ao aprendizado inicial da leitura e da escrita, poderia substituir as cartilhas grosseiras ou os materiais manuscritos. Os demais livros da série tinham um caráter enciclopédico, trazendo conteúdos de várias áreas do conhecimento. De cunho mais instrutivo do que moral, os livros de Borges foram aplaudidos pela crítica intelectual da época, sendo reeditados várias vezes, educando gerações de brasileiros. O autor também era elogiado por, em sua prática como dono de escolas, ter abolido os castigos corporais, ainda utilizados na maioria do país. Apesar disso, Borges aparece, na memória dos alunos que estudaram com seus livros, como uma figura temida, capaz de provocar pavor. Graciliano Ramos, em Infância, narrativa autobiográfica de sua meninice na virada do século XIX para o século XX, sentia dificuldades para entender as lições; o livro chegava a lhe provocar náuseas. As horas de leitura eram, para o menino, horas de tortura. O mesmo menino que, depois de entrar em contato com algumas obras literárias fora da escola, passou a buscar com ânsia e prazer outros objetos de leitura na pequena cidade em que morava, no sertão pernambucano. Havia, apesar da escola, tornado-se leitor. E - os anos iriam dizer mais tarde - um dos maiores escritores de língua portuguesa.
Se cada aluno passar a ler pelo menos três páginas por dia de um livro, e fizer isso sistematicamente, no final do ano terá lido mais de mil páginas, o que o colocaria como grande leitor. Eu disse apenas três páginas por dia.
Nas práticas escolares a literatura tem sido, ao longo das últimas décadas, sistematicamente destituída de seu papel formador e paulatinamente substituída por outras tendências de leitura que deslocam o texto literário para lugares secundários ou inexistentes. Entretanto, ao eliminar o contato direto do leitor com a literatura, torná-lo rarefeito ou banalizado, a escola está ignorando aspectos essenciais para a formação do indivíduo. Em razão disso, faz-se necessário entender o sentido, a influência e a importância da literatura na formação do jovem na história recente e no momento contemporâneo.
A leitura abre a mente, amplia horizontes. Para dizer da importância da leitura para o jovem hoje, lembro as palavras de Ezequiel Teodoro da Silva, ao afirmar a natureza transcendental da palavra. Por ter o ser humano uma inteligência lingüística, o ato de ler é que lhe permite conhecer palavras para exprimir seus sentimentos, suas emoções, suas idéias. Permite-lhe estar no mundo como pessoa; pôr-se em contato, pelo poder da escrita, com as idéias dos grandes homens, mesmo que distantes no espaço ou mortos já há séculos. Permite-lhe fruir do belo literário, alcançando, em suas fontes, a expressão do que não pode ser expresso pela oralidade nem exposto pela linguagem denotativa. Por aí se deduz que ler não só propicia o crescimento intelectual do jovem, como o desenvolvimento de sua sensibilidade, sua formação como ser humano.
Há exemplos maravilhosos de pessoas que freqüentam sebos, tomam livros emprestados de bibliotecas, de parentes, e, até mesmo, exemplos de catadores de papel que lêem livros jogados no lixo. Recentemente os jornais publicaram a notícia de uma biblioteca formada com mais de mil desses exemplares e disponibilizada aos amigos por um morador de favela. E há exemplos de uma elite endinheirada que tem televisão de plasma, computadores de última geração, celulares substituídos a cada novo modelo no mercado, mas que não lê.
O Brasil tem uma cultura da oralidade e, não, da escrita. A criança brasileira fica poucas horas na escola e o resto do dia vê televisão, fala e ouve. A própria escola é oralizante, pois o professor prefere dar aula expositiva, “facilitando” para o aluno, em linguagem coloquial, as explicações que, no manual didático, estão em texto escrito de coesão mais “difícil” e vocabulário “mais complicado”. Até mesmo em cursinhos pré-vestibulares, nota-se que alguns professores acreditam, ingenuamente, que, ao aproximar sua linguagem da do jovem, suas explanações ficam mais claras . E o aluno é imaturo para perceber que a facilitação, até mesmo com o uso de expressões populares e gírias mais comuns, contribui para afastá-lo não só da norma culta das obras que deve ler para suas provas de ingresso na universidade, mas do nível padrão que deve adotar em seus textos escritos. Repertório insuficiente para a expressão escrita clara de suas idéias sobre questões propostas nos vestibulares e pobreza vocabular na hora da redação revelam, claramente, essa falta de leitura.
A partir da segunda metade do século XIX, começaram a surgir no país, ainda que alguns fossem impressos na Europa, livros de leitura destinados especificamente às séries iniciais da escolarização. Em 1868, Abílio César Borges iniciou a publicação de uma das séries mais editadas no período. Os livros foram considerados inovadores no momento em que foram editados: o Primeiro Livro, destinado ao aprendizado inicial da leitura e da escrita, poderia substituir as cartilhas grosseiras ou os materiais manuscritos. Os demais livros da série tinham um caráter enciclopédico, trazendo conteúdos de várias áreas do conhecimento. De cunho mais instrutivo do que moral, os livros de Borges foram aplaudidos pela crítica intelectual da época, sendo reeditados várias vezes, educando gerações de brasileiros. O autor também era elogiado por, em sua prática como dono de escolas, ter abolido os castigos corporais, ainda utilizados na maioria do país. Apesar disso, Borges aparece, na memória dos alunos que estudaram com seus livros, como uma figura temida, capaz de provocar pavor. Graciliano Ramos, em Infância, narrativa autobiográfica de sua meninice na virada do século XIX para o século XX, sentia dificuldades para entender as lições; o livro chegava a lhe provocar náuseas. As horas de leitura eram, para o menino, horas de tortura. O mesmo menino que, depois de entrar em contato com algumas obras literárias fora da escola, passou a buscar com ânsia e prazer outros objetos de leitura na pequena cidade em que morava, no sertão pernambucano. Havia, apesar da escola, tornado-se leitor. E - os anos iriam dizer mais tarde - um dos maiores escritores de língua portuguesa.
Se cada aluno passar a ler pelo menos três páginas por dia de um livro, e fizer isso sistematicamente, no final do ano terá lido mais de mil páginas, o que o colocaria como grande leitor. Eu disse apenas três páginas por dia.
Nas práticas escolares a literatura tem sido, ao longo das últimas décadas, sistematicamente destituída de seu papel formador e paulatinamente substituída por outras tendências de leitura que deslocam o texto literário para lugares secundários ou inexistentes. Entretanto, ao eliminar o contato direto do leitor com a literatura, torná-lo rarefeito ou banalizado, a escola está ignorando aspectos essenciais para a formação do indivíduo. Em razão disso, faz-se necessário entender o sentido, a influência e a importância da literatura na formação do jovem na história recente e no momento contemporâneo.
A leitura abre a mente, amplia horizontes. Para dizer da importância da leitura para o jovem hoje, lembro as palavras de Ezequiel Teodoro da Silva, ao afirmar a natureza transcendental da palavra. Por ter o ser humano uma inteligência lingüística, o ato de ler é que lhe permite conhecer palavras para exprimir seus sentimentos, suas emoções, suas idéias. Permite-lhe estar no mundo como pessoa; pôr-se em contato, pelo poder da escrita, com as idéias dos grandes homens, mesmo que distantes no espaço ou mortos já há séculos. Permite-lhe fruir do belo literário, alcançando, em suas fontes, a expressão do que não pode ser expresso pela oralidade nem exposto pela linguagem denotativa. Por aí se deduz que ler não só propicia o crescimento intelectual do jovem, como o desenvolvimento de sua sensibilidade, sua formação como ser humano.
Há exemplos maravilhosos de pessoas que freqüentam sebos, tomam livros emprestados de bibliotecas, de parentes, e, até mesmo, exemplos de catadores de papel que lêem livros jogados no lixo. Recentemente os jornais publicaram a notícia de uma biblioteca formada com mais de mil desses exemplares e disponibilizada aos amigos por um morador de favela. E há exemplos de uma elite endinheirada que tem televisão de plasma, computadores de última geração, celulares substituídos a cada novo modelo no mercado, mas que não lê.
O Brasil tem uma cultura da oralidade e, não, da escrita. A criança brasileira fica poucas horas na escola e o resto do dia vê televisão, fala e ouve. A própria escola é oralizante, pois o professor prefere dar aula expositiva, “facilitando” para o aluno, em linguagem coloquial, as explicações que, no manual didático, estão em texto escrito de coesão mais “difícil” e vocabulário “mais complicado”. Até mesmo em cursinhos pré-vestibulares, nota-se que alguns professores acreditam, ingenuamente, que, ao aproximar sua linguagem da do jovem, suas explanações ficam mais claras . E o aluno é imaturo para perceber que a facilitação, até mesmo com o uso de expressões populares e gírias mais comuns, contribui para afastá-lo não só da norma culta das obras que deve ler para suas provas de ingresso na universidade, mas do nível padrão que deve adotar em seus textos escritos. Repertório insuficiente para a expressão escrita clara de suas idéias sobre questões propostas nos vestibulares e pobreza vocabular na hora da redação revelam, claramente, essa falta de leitura.
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Autor:
Jornalista Geraldo Maia do Nascimento
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