Texto de Leandro Valquer
Efetivamente quem mais contribuiu com o fortalecimento da imagem do cangaço foi um árabe da Palestina, nascido em Belém, chamado Benjamim Abrahão, secretário pessoal de Padre Cícero. Logo após a morte do padre, Abrahão planejou a estada do bando em Juazeiro e coordenou algumas audiências de Lampião a personalidades locais. Depois de quase dois anos no encalço do bando de
Lampião e Maria Bonita, com a finalidade de realizar um filme, uma fusão de ficção, documentário e publicidade, encontra-os na caatinga, conseguindo realizar a única filmagem existente do bando. Nestas filmagens, os cangaceiros interpretaram a si mesmo, em cenas da vida cotidiana, simulando combates, uma novena realizada por Lampião, danças, namoros, cangaceiros armados indo em direção à câmera, Maria Bonita penteando carinhosamente os cabelos de Lampião...
Dessa gravação, restaram apenas 10 minutos de filme. Ao contrário de todos os jornalistas que contataram os cangaceiros, Benjamim Abrahão foi o único que transmitiu a imagem que eles queriam passar de si próprios. Isto positivou a imagem do bando e custou caro à Benjamim, assassinado com 47 facadas. Após 20 anos de perseguição policial sertão adentro, o cangaço moderno teve seu fim. Maria Bonita contava, então, com oito anos de cangaço.
Chegaram na fazenda de Angico, Sergipe, numa terça-feira, dia 26 de julho. O hóspede ou coiteiro, como diziam, era Pedro de Cândida, que saiu para comprar uma máquina de costura e tecidos, para confeccionar a roupa de José, sobrinho de Lampião que, em breve, ingressaria no bando.
Na madrugada do dia 28, quinta-feira, às 5 horas, Lampião acordou o grupo para fazerem o Santo Ofício de Nossa Senhora. Terminado o ofício, Amoroso foi buscar água e, quando se abaixou no córrego, veio o primeiro tiro.
O cangaceiro Balão detalhou: “Então vi Lampião caído de costas, com uma bala na testa. Moeda, Tempo Duro, Quinta-feira... todos estavam mortos. Contei os corpos dos amigos: nove homens e duas mulheres. Maria Bonita, ferida, escondeu-se debaixo de algumas pedras. Mas foi encontrada e degolada viva. Não havia tempo para chorar. As balas batiam nas pedras soltando faíscas e lascas".
O XAXADO
O cangaço também contribuiu com a cultura brasileira, presenteando-a com o xaxado, ou paraxaxá. É uma típica dança de guerra, em que os cangaceiros cantavam sua própria história, por vezes desferindo desafios uns aos outros, ou a inimigos externos, caçoandoos. Dança-se ainda hoje em fila indiana, batendo os pés no chão, que se abanam para a direita e para a esquerda. Essas pancadas com a sola dos pés no chão funcionam como instrumento percussivo, marcando o ritmo da cantoria. Outro instrumento utilizado na percussão era o rifle ou o parabellum, de onde era extraída a parte mais aguda da percussão, similar ao som tirado na borda da zabumba. Os mesmos rifles faziam vezes de companheira na dança, muito antes da entrada das mulheres na quadrilha. Além do xaxado, o cangaço praticava outras manifestações culturais, segundo o relato do cangaceiro Beija-Flor: “Nas noites de lua sentavam no chão, bebiam cachaça, Lampião tocava sanfona e Maria Bonita acompanhava no bandolim. Os cangaceiros cantavam modas. Canções que falavam de sua vida aventurosa e cheia de perigo. Também falavam de amor.”
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