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domingo, 4 de março de 2012

Lampião em fotos inéditas

Por: Adriana Crisanto
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As cinqüenta fotografias de Virgulino Ferreira, o Lampião, e seu bando no sertão nordestino serão restauradas pela empresa cearense Abafilm. As fotos foram tiradas entre os anos de 1935 e 1936 e produzidas pelo libanês Benjamin Abrahão. Vinte e quatro fotos deste acervo são fotos inéditas de Lampião, Maria Bonita e o seu grupo de cangaceiros, que nas décadas de 1920 e 1930 percorreram o sertão nordestino fazendo justiça com as próprias mãos.

Lampião e Maria Bonita


A restauração é fruto de um acordo firmado entre a empresa Abafilm e da família de Lampião. Benjamim Abrahão conheceu o rei do cangaço no ano de 1926, quando ainda estava em Juazeiro do Norte (CE). Após o falecimento do Padre Cícero, por quem Lampião tinha veneração e respeito, Benjamin procurou o cangaceiro e se ofereceu para registrar sua vida em fotografias e filmagem.
Antônio Amaury Corrêa de Araújo contou que a passagem de Lampião e seu bando pelo Estado da Paraíba se deu nos municípios de Princesa (onde se escondeu durante um tempo), Sousa, Patos e Cajazeiras. “Embora ele não estivesse presente mandava seu bando atacar”, comentou. Antônio Amaury é um dos maiores pesquisadores do cangaço no Brasil. A saga de Lampião e seu bando contém todos os elementos de aventura, romance, violência, amor e ódio, digno de grandes histórias da humanidade. Lampião se jogou a todo tipo de sorte após o assassinato de seu pai. O cangaceiro (nome dado aos fora-da-lei que viveram em grupo, no final do século passado do nordeste brasileiro) percorreu sete Estados da região levando medo e sangue à população do sertão.
Os fatos contados pelos sertanejos sobre a passagem de Lampião são inúmeros, um misto de verdades e mentiras. O certo é que a saga do cangaceiro causou sérios transtornos à economia do interior do Brasil. No início da década de 1930, cerca de 4 mil soldados seguiram em seu encalço nos vários Estados. O bando de Lampião era formado por 50 pessoas, entre homens e mulheres. Em alguns casos Lampião se tornou amigo dos coronéis e grandes fazendeiros que lhe forneciam abrigo e apoio material. Hoje Lampião é um misto de ídolo dos nordestinos. Sua imagem ainda resiste mesmo após 60 anos de sua morte. A influência dele nas artes, música, pintura, literatura e cinema são impressionantes.
O historiador e pesquisador, Antônio Amaury Corrêa de Araújo, disse que cada dia novos fatos sobre o cangaceiro são desvendados. Recentemente, ele descobriu dois cangaceiros que nunca haviam sido entrevistados, um deles, ainda vive se chama Alecrim e reside no município de Paulo Afonso (interior da Bahia). O segundo, Manoel Tubiba, faleceu no ano passado. “Manoel Tubida havia sido dado como morto no ano de 1923 e 1924” relatou. Antônio Amaury Corrêa de Araújo também descobriu Dona Antônia, uma das mulheres do cangaceiro que recebia o nome de Gato. “Há 53 anos que pesquiso sobre Lampião. Eu fiz mais de seis mil entrevistas e tenho sete livros publicados”, disse. Conforme o pesquisador, o maior problema que teve durante a pesquisa foi com os policiais que participaram da perseguição ao bando. “Muitos fatos tiveram uma constância assombrosa. A polícia chegava à sua casa, revistava e muitas vezes batiam nas pessoas obrigando-os a falar muitas vezes dizer coisas que não sabiam mesmo”, confidenciou.
No próximo mês, a editora Traço estará relançando o livro “Gente de Lampião – Dada e Corisco”, de autoria do pesquisador. Antônio Amaury esteve no sertão mais de 43 vezes e a cada viagem descobre novos fatos. Ele disse que Benjamin Abrahão esteve, comprovadamente, duas vezes no sertão com o grupo de Lampião, permanecendo ao todo até quatro meses. A prova esta em um bilhete que o cangaceiro escreveu e assinou.
O bilhete continha vários erros de português, o que comprovava o baixo nível de escolaridade de Virgulino Ferreira, que tinha o seguinte teor: “Venho lhi afirmar que foi a primeira peçoa que conceguiu filmar eu com todos os meus peçoal cangaceiros, filmando assim todos us muvimento de noça vida nas catingas dus sertões nordestinos. Outra peçoa não conciguirá nem mesmo eu consintirei mais. Sem mais do amigo. Capitão Virgulino Ferreira da Silva”. Antônio Amaury Corrêa de Araújo, disse que sem as fotos de Benjamim Abrahão, a história do cangaço seria muito mais pobre visualmente.
*Matéria publicada no jornal O Norte, Caderno Show, João Pessoa, 18 de março de 2003.

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