Por Marcos Borges
Caririaçu no
Ceará
Fiquei feliz
com esse convite e também esse desafio do Editor da Tribuna da Serra, o jovem
Isac Silva, já que sou apenas um simples e leigo pesquisador do assunto Cangaço
bem como da história e acontecimentos do Nordeste e seus personagens, quero
aqui deixar exposto que estou sempre às ordens para contribuir com assuntos que
venham a enriquecer o conhecimento daqueles que se interessam por nossa história.
Sem mais delongas, vamos aos fatos.
Para entender
melhor essa rápida passagem do bando de Lampião por Caririaçu, mais
precisamente pela Serra do Góes, tem que retroceder um pouco na história para
que até mesmo os mais leigos no assunto possam absolver com mais clareza e
facilidade esse fato inusitado acontecido nesta terra de São Pedro.
Virgulino
Ferreira da Silva terceiro filho do casal José Ferreira e Maria Lopes, pequenos
proprietários na ribeira do Riacho São Domingos, antiga Vila Bela atual Serra
Talhada, foi o maior bandido em atividade do nosso País e há quem diga da
América Latina entre as décadas de vinte e trinta, basta apenas frisar que o
mesmo tinha em seu encalço os contingentes Policias de sete Estados da
Federação que não mediam esforço para agarra-lo vivo ou morto, no entanto ele
resistia a tudo e a todos, em uma mistura de coragem que muitas vezes atingia
as raias da loucura. Inteligência,
frieza, fúria, desapego à vida e astucia de sobra.
Município de
Caririaçu, região do cariri cearense
Durante toda
sua vida na criminalidade tinha outro fator que o destacava dos outros, o rei
vesgo do cangaço, o mesmo era vaidoso, foi tema de livros ainda em vida, foi
filmado em seu habitat natural pelo Sírio-Libanês Benjamin Abrahão Botto. Teve
seu apogeu no ano de 1926, quando teve sua “promoção a Capitão do Batalhão
Patriota” para combater a Coluna Prestes; a coluna Prestes foi um movimento
entre os anos de 1925 e 1927, encabeçados por líderes tenentistas. Pois bem,
saindo da Meca Nordestina com o que havia de mais moderno em armas e munição,
teve condições para duplicar o seu poder de fogo e aumentar com isso seu
contingente de facínoras para mais de uma centena de asseclas a seu
comando.
Lampião dificilmente realizava ataques no Ceará, especialmente no Cariri, pois, segundo o próprio cangaceiro, não tinha inimigos no estado e respeitava a região por ser a terra de Padre Cícero, de quem era devoto. Se por um lado não tinha inimigos cearenses, por outro sobravam "coiteiros", como eram designados aqueles que davam abrigo e proteção aos cangaceiros. O principal "coiteiro" de Lampião no Cariri era o Coronel Isaías Arruda, do Município de Missão Velha e Aurora. Influenciado por esse poderoso chefe político, Lampião parte de Aurora para seu mais ousado e fracassado plano: assaltar a Cidade de Mossoró no Rio Grande do Norte, a segunda maior do Estado e uma das maiores do nordeste.
Lampião dificilmente realizava ataques no Ceará, especialmente no Cariri, pois, segundo o próprio cangaceiro, não tinha inimigos no estado e respeitava a região por ser a terra de Padre Cícero, de quem era devoto. Se por um lado não tinha inimigos cearenses, por outro sobravam "coiteiros", como eram designados aqueles que davam abrigo e proteção aos cangaceiros. O principal "coiteiro" de Lampião no Cariri era o Coronel Isaías Arruda, do Município de Missão Velha e Aurora. Influenciado por esse poderoso chefe político, Lampião parte de Aurora para seu mais ousado e fracassado plano: assaltar a Cidade de Mossoró no Rio Grande do Norte, a segunda maior do Estado e uma das maiores do nordeste.
Parte do bando
de Lampião que atacou Mossoró
Em 13 de junho
de 1927, os cangaceiros invadiram Mossoró, mas foram recebidos a bala, e após
cerca de quarenta minutos de intenso combate, bateram em retirada rumo a
Limoeiro do Norte no Ceará. Fortalecida após a vitória, a Polícia potiguar, com
apoio das Polícias da Paraíba e do Ceará, partiu no encalço do bando. Acuado, o
bando rumou para o Cariri. Houve confrontos nas localidades de Riacho do Sangue
(Jaguaretama), Cacimbas (Icó), Ribeiro e Ipueiras (os últimos em Aurora).
O bando seguiu
para a Serra do Góes (Caririaçu, no Ceará), nessa viagem às pressas o chefe
maior do cangaço para na Fazenda Góes do Coronel Antônio Pinheiro Bezerra de
Menezes. Basta imaginar que tal notícia deixou os moradores da pacata Vila de
São Pedro em pavorosa. Pois bem, a Vila se preparou para receber a incomoda
visita, com trincheiras nos becos e nas entradas de ruas, com fardos de algodão
e sacos de areia, tendo à frente alguns valentes experientes em enfrentar
cangaceiros, como João Gago, que já trocara tiros com o grupo de Lampião na
Paraíba, Janjão de Ouro, homem de confiança de Maria Leal em são Matheus, atual
Jucás, Antônio Delfino e Jose Neco, conhecido por Casa Velha. Tendo então o
grande chefe de bando informações de que a vila o esperava desta forma, tira no
rumo de Aurora evitando um confronto já que não lhe era vantajoso devido a
tanta perseguição.
Após um
período de alguns dias esperando a malta do mal e perdendo a paciência, seguem
os chefes dos sitiados e mais alguns homens dispostos ao encontro do bando e se
deslocam até a Serra do Góes tendo por parte do vaqueiro do coronel acima
referido a alegre notícia de que o bando já tomara outro rumo e que a terra de
São Pedro estava fora de perigo, com essa notícia volta à paz e a tranquilidade
a reinar nessa terra abençoada por Deus e protegida por nosso padroeiro São
Pedro.
Cangaceiro
Jararaca, preso em Mossoró
Queria, no
entanto, abri aqui um parágrafo para um assunto que descobri há algum tempo e
que ainda não notei ninguém dar alguma atenção e valor ao fato que narrarei
logo em seguida. Como um pesquisador vive da história e dos fatos nela
encontrados e também como um assunto puxa outro, registro aqui nessas simples
linhas um fato interessante e desconhecido. Nesse malsinado ataque a Mossoró o
rei do cangaço perdeu dois de seus homens de maior e inteira confiança,
Colchete ferido mortalmente no início da luta e Jararaca que foi ferido e
capturado, depois de alguns dias foi enterrado vivo por ordem das autoridades
locais. Chamava-se Jose Leite de Santana natural de Buíque Pernambuco, homem de
inteira confiança de Lampião. Após o ingresso desse bandido de alta periculosidade
ao bando de Lampião sua família passou a ser perseguida diariamente.
Chegou ao
ponto de seu avô o velho Zuza como era mais conhecido ter sido ameaçado de ter
seu cavanhaque arrancado pelo seu tio por nome de Francelino, não suportando
mais tanta perseguição por parte da polícia junta a família e os poucos
pertence que possuía em lombo de burros e se larga no oco do mundo indo para
onde o destino lhe chamava. Quando o dia ia dando seus primeiros raios de Sol o
tio de Jararaca já estava longe, chegando a terra do Padre Cicero, consegue uma
audiência com o Santo do Nordeste e conta sua situação, é aconselhado a seguir
com toda família para residir e trabalhar na Serra de São Pedro hoje Caririaçu,
aqui ficando por muitos anos. Segundo alguns pesquisadores, quando os mais
velhos foram morrendo os filhos e netos foram morar em Juazeiro onde ainda hoje
possuem alguns remanescentes morando na ladeira do horto. A história é, antes
de tudo, um divertimento: o historiador sempre escreveu por prazer e para dar
prazer aos outros. Mas também é verdade que a história sempre desempenhou uma
função ideológica, que foi variando ao longo dos tempos.
Marcos Borges
Caririaçu,
Ceará
http://cariricangaco.blogspot.com
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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