*Rangel Alves
da Costa
A Bíblia se
desconfigura, até mesmo sangra e sofre, pela leitura e não obediência a seus
preceitos, lições e ensinamentos. Entremeada de regras que norteiam e delimitam
a ação humana na vida terrena, pontua ainda as consequências para quem violar
seus preceitos. Mas qual sua leitura perante o mundo moderno?
O progresso do
homem, a partir da construção de um mundo muito mais humano do que cristão, fez
com que muitos de seus princípios perdessem os valores éticos, morais e de
conduta segundo os norteamentos sagrados, até mesmo pela impossibilidade de
plena subordinação às suas leis. Com efeito, muito há na Bíblia que se
distancia e confronta a realidade.
Há, contudo,
leis gerais que ainda prevalecem e que servem de base para muitas codificações
modernas: não matar e não furtar, sob pena de incriminação penal. Contudo,
outras, tais como não cometer adultério, guardar o dia de sábado, não adorar
outros deuses, honrar pai e mãe e não esculpir e adorar imagens sagradas, já
não são fielmente seguidas pela sociedade moderna.
A própria
igreja católica possui altares com imagens de santos e da própria santidade
maior. Desde os tempos mais antigos que povos elegem outros deuses nos seus
cultos, e muitos seguem unicamente tais divindades. O dia de sábado não é
guardado pela sua utilização como útil ao trabalho, ainda que em meio
expediente. Poucos são os filhos que continuam honrando pai e mãe, vez que se
arvoram de donos de seus destinos e negam sua linhagem familiar. Com relação ao
adultério, a própria Bíblia se contradiz na sua observância e o mundo moderno
logo cuidou de ter como normalidade tal prática insidiosa. A tipificação penal
sobre adultério, pela ineficácia de aplicabilidade, acabou sendo revogada no
Brasil.
A Bíblia não
menciona expressamente os chamados pecados capitais, que foram disseminados no
seio da própria Igreja: orgulho, avareza, inveja, ira, luxúria, gula e
preguiça. Mas em Provérbios consta que são consideradas como abomináveis: olhos
altivos, língua mentirosa, mãos que derramam o sangue inocente, coração que
maquina planos malvados, pés que correm para a maldade, testemunha falsa que
profere mentiras e o que semeia discórdia entre os irmãos.
Os sete
pecados disseminados pela Igreja são, na maioria, próprios do ser humano que,
em maior ou menor prática, os dissemina nas suas atitudes cotidianas. A mentira
e o falso testemunho são tão corriqueiros que dificilmente se obtém alguma
prova verdadeira através da palavra, vez que esta sempre tendenciosa, como,
aliás, sempre ocorre com a maioria dos seres humanos. E o que mais se observa
são corações maldosos, invejosos e que vivem em busca de contentamento pelo mal
do próximo.
Mas a Bíblia
contém verdadeiros exageros aos olhos modernos. Com efeito, alguns preceitos
soam como impraticáveis, inobserváveis, impossíveis de serem considerados como
algo que realmente possa ser acolhido. Assim manda oferecer a outra face para
ser igualmente atingida, desfazer-se dos bens para ajudar o próximo, silenciar
perante as injúrias e abominações, perdoar todo mal e toda pessoa maldosa,
dentre outros aspectos. Muito disso é justificado como simbólico pela Igreja,
afirmando que a leitura mais aprofundada leva a outro conhecimento das
exigências. Mas assim está escrito e é pela escrita que se conhece.
Ademais,
determinados costumes citados na Bíblia, e muitos destes tidos como prova de fé
e de comunhão, são tidos como absurdos no mundo moderno. Há uma passagem onde o
pai, pela fé, só não matou o filho porque um anjo impediu. Há cordeiros e
outros animais constantemente sendo imolados perante os altares, e para o
agrado de Deus. Em muitas passagens, o sangue jorra em nome dos sacrifícios.
Assim, perante a lei moderna, muito do contido na Bíblia se consubstanciaria como
ação criminosa.
A verdade é
que, forçosamente, muito do livro sagrado foi revogado em nome dos novos
costumes e das novas exigências de convívio. Será preciso, pois, depurar seus
ensinamentos e acolhê-los segundo a crença e a fé arraigadas em cada pessoa. É
esta que faz sua própria lei, moral e de conduta, ajustando-a ao que a Bíblia
ensina e diz.
Por outro
lado, é o afastamento dos princípios bíblicos que conduz ao desregramento
humano. A violência, a barbárie, a verdadeira insanidade, não é fruto somente
do afastamento do homem da palavra de Deus. E por isso mesmo a Bíblia sangra e
chora toda vez que sua palavra é negligenciada em nome do livre-arbítrio
humano. Nem com rédeas o homem conduz sua liberdade, muito menos com o seu
senso de arrogância e poderio.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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