Material do acervo do pesquisador/historiador Guilherme Machado
O Withworth 32
era uma geringonça de 1,7 tonelada, que precisava de 20 juntas de bois para ser
puxado. Os sertanejos apelidaram-no de "matadeira". A condução dessa
poderosa máquina de guerra até os sertões da Bahia afigurou-se um erro de
estratégia dos militares, visto tratar-se a mesma de uma peça excessivamente
pesada e, por conseguinte, imprópria para regiões acidentadas, como aquela em
que tinha curso o conflito armado entre o exército brasileiro e os adeptos de
Antônio Conselheiro. Tratava-se de um artefato de uso da marinha do Brasil, que
acabou incluído no rol de armamentos destinados à guerra de Canudos. Sobre ele
escreveu Euclydes da Cunha: “...A pesada máquina, feita para a quietude das
fortalezas costeiras - era o entupimento dos caminhos, a redução da marcha, a
perturbação das viaturas, um trambolho a qualquer deslocação vertiginosa de
manobras”. E arremata: “Era preciso, porém, assustar os sertões com o
monstruoso espantalho de aço” ( CUNHA, Euclydes da. Os Sertões, 1ª edição. Rio
de Janeiro: Laemmert & C. Editores, 1902, p. 391). “Era dificílimo acertar
o alvo com esse canhão. A balística exigia cálculos a cada tiro, havia mais de
um engenheiro para cada canhão”, afirma o escritor Godofredo de Oliveira Neto,
sobrinho neto do general Mesquita, oficial na guerra de Canudos. No dia 29 de
junho (1897), durante intenso canhoneio, o Withworth 32 sofreu uma explosão,
provocando a morte de dois oficiais do exército: o médico Alfredo Gama e o 2º
tenente Odilon Coriolano. A peça estava posicionada no Alto da Favela, de onde
tentava bombardear o povoado de Canudos. Alguns historiadores acham que a
explosão se deveu a uma sabotagem dos canudenses, que se infiltraram nas tropas
da quarta expedição, usando uniformes militares. Certa feita, Antônio Pajeú e
Joaquim Macambira Filho formaram um grupo, junto com outros 10 combatentes,
para atacar o canhão. Todos foram mortos nesta heroica tentativa. Apenas um
conseguiu escapar para contar a história (No hino da artilharia brasileira há
uma referência a este fato). Abandonado pelas tropas no final da guerra, o
Withowort 32 receberia, anos mais tarde, os cuidados do DNOCS (Departamento
Nacional de Obras Contra a Seca), sendo posto em imponente pedestal. Em 1940
recebeu a visita do presidente Getúlio Vargas, que cumpria agenda política na
Canudos pós-conselheirista. Com a construção do açude do Cocorobó, nos anos
sessenta, foi transportado para Salvador, ficando exposto no Museu do Unhão. Em
1983, foi removido para a cidade de Monte Santo, onde permanece até hoje. Ali,
ele divide espaço com mais dois monumentos: a estátua do Conselheiro e o busto
do marechal Bitencourt. Por José Gonçalves do Nascimento
FONTE: CANUDOS ONLINE
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