Por Verluce Ferraz
Para não ser
apanhado pelas Volantes, Lampião criava seus próprios métodos, ora sendo
caçador era incansável senhor do sertão, empreendendo longas viagens no lombo
dos cavalos; enganava a todos que por suas pegadas procuravam nas pedras, nos
matos quebrados e até nas fisionomias dos coiteiros.
Por onde passava ia
deixando nuvens de fumaça, removendo restos de comidas, atravessava um pau nas
bocas dos cachorros para os mesmos não latirem, tudo com bons resultados.
Outras, não relutava, e no mesmo atropelo, se desfazia dos problemas ou
sentimentos continuando o seu passeio, aproveitando as oportunidades para dar
expansão aos seus instintos sádicos. Seus dons de estilista eram mostrados nas
roupas, nas alpargatas, nas armas e no chapéu de abas quebradas para cima,
moedas e estrelas eram pregadas. Exibia nos dedos, os anéis; no pescoço os
trancelins de ouro, tudo roubado.
Os lenços usados no pescoço, em substituição
as gravatas presas com argolas; as vestes e bornais eram bordados com sutache e
sianinhas. O sonho do cangaceiro era ser Governador do Sertão, para comandar o
seu Estado, depois de dividir o Nordeste. A farda de capitão, que recebera de
Floro Bartolomeu, era oficial das Forças Volantes, com todas insígnias dos
militares de carreira, afinal, provocar era ‘uma singularidade no cangaceiro,
que se intitulara de Capitão do Sertão’. Recuperava facilmente objetos
perdidos, confeccionava ele mesmo, os seus adornos, se fazia hóspede de
comerciantes e fazendeiros, sem oferecer rosas nem amabilidade, apenas expondo
suas armas e o seu silêncio, quem explodia eram as armas. Todos os seus
cangaceiros tinham a marca dele, do visual até as atitudes, compartilhavam
todos dos sentimentos anti-sociais que regulavam o cangaço lampiônico.
Lampião
refugiava-se ao reino do próprio delírio, como alguém já disse ‘hei de vingar’
ele nunca interrompeu o desejo de matar; impossível aplacar seu desejo e assim
usa o nome do pai, insistindo que todos os por ele assassinados eram era a
representação do pai; acabando por matar inúmeras pessoas, como se isso lhe
restituísse a dignidade.
Verificamos que isso desce a um nível mais profundo,
ao constatarmos que tudo vem de uma relação infantil, só explicada pelo desejo
de matar o próprio pai, seu único rival. Considera-se que o seu modo pessoal
renasce de sua física aparência e estereótipo compartilhados com o desejo
esquecido na infância de fazer renda.
Está na infância a fonte de suas
fantasias, por isso é que usará tempos depois, todo seu acervo de impressões
infantis. O desenvolvimento de seus desejos será revelado subsequentemente,
pelo uso de apetrechos e nos crimes perpretados pelo cangaceiro, porque jamais
morreu a sua relação infantil e ainda continuará nele atuantes.
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