Por Redação - 16 DE OUTUBRO DE 2018
O Memorial da Resistência a céu aberto é o principal equipamento turístico da cidade de Mossoró, que expulsou Lampião
Mossoró era
uma cidade de grande porte em relação às demais saqueadas por Lampião. A
tentativa de invadi-la arranhou sua imagem de estrategista
Mossoró
(RN). A mais fragorosa derrota de Virgulino Ferreira da Silva aconteceu
nesta cidade do Rio Grande do Norte, em junho de 1927. O Rei do Cangaço foi de
encontro ao que sempre apregoou: jamais invadir uma cidade com mais de duas
torres (igrejas). O fato denotava a condição da cidade ser grande e também das
"torres" serem utilizadas como mirantes.
Igreja Cagrado Coração de Jesus - Igreja construída pelo empresário Miguel Faustino que fora empregado do coronel Delmiro Gouveia. - Acervo do historiador Geraldo maia do Nascimento
A cidade norte-rio-grandense
tinha nada menos do que quatro torres. Duas pertenciam à Igreja de Santa Luzia,
uma ao Sagrado Coração de Jesus e a quarta à Igreja de São Vicente. Todas elas
viraram cidadelas inexpugnáveis.
O cangaceiro Massilon Leite
Mas Lampião
deixou-se levar pela argumentação de um cangaceiro chamado Massilon, que morava
em um lugarejo próximo a Mossoró, onde trabalhava como cambeiro, levando e
trazendo mercadoria.
Catedral de Santa Luzia de Mossoró
Por causa da antiga profissão, conhecia bem a cidade. O
cangaceiro descreveu o futuro alvo como um local de "povo pacífico, mofina
e incapaz de se defender". Além disso, lembrou que a cidade contava com a
agência de número 36 do Banco do Brasil, o que era sinal de grande prosperidade
à época.
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'Era cabeça que não acabava mais' diz testemunha de batalha.
Seguindo o seu
padrão, Lampião escreveu um bilhete endereçado ao prefeito Rodolpho Rodrigues
solicitando 400 contos de reis para não atacar a cidade. Ao receber o bilhete
de um portador chamado Formiga, o prefeito mostrou uns tambores com mercadoria
e disse a ele que estavam cheios de bala, como forma de intimidar o cangaceiro
enviado por Lampião.
Prefeito de Mossoró Rodolfo Fernandes
A situação de
Mossoró era temerária. Rodolpho Rodrigues já houvera solicitado ao governo do
Estado do Rio Grande do Norte ajuda para combater a Coluna Prestes que, segundo
ele, estava na iminência de invadir sua terra. A ajuda veio. A Coluna, não.
Quando foi pedir a interferência do Estado para barrar a entrada de Lampião, o
governo julgou que tal jamais aconteceria e negou o pedido.
Ciente do
perigo e da iminência ao ataque, o prefeito arregimentou comerciantes,
lideranças políticas e civis e a população em geral para se cotizar e
contribuir na aquisição de armamentos para enfrentar o bando de Lampião. No dia
13 de junho, no fim da tarde, chovia bastante. Virgulino dividiu o grupo em
três blocos, permanecendo ele no intermediário.
A residência do prefeito Rodolpho Fernandes é hoje o Palácio da Resistência, sede da Prefeitura; a Igreja de São Vicente preserva a marca de balas na sua torre, onde homens armados defenderam a Cidade
Igreja de São Vicente lugar que ficou uma boa parte dos combatentes para defender a cidade.
Disfarce
À frente o
cangaceiro Sabino Gomes vestido de policial. Outra estratégia de Lampião era
mandar seus homens se disfarçarem de mendigos, vendedores, policiais etc. E
entrar na cidade para sondar o ambiente. Ele se aproximou da residência do
prefeito, que desconfiou da artimanha, dizendo que não pediu ajuda à Polícia, e
mandou os homens responderem à bala. Sabino Gomes se escondeu perto da ferrovia
e, depois, comandou o ataque à casa do prefeito, o Palácio da Resistência, sede
atual da Prefeitura, onde se estabeleceu a maior das trincheiras, dentre tantas
espalhadas pela cidade. Nesse combate, o cangaceiro Colchete tombou morto.
O cangaceiro Jararaca
"Foi uma
hora de tiroteio aproximadamente. Após a morte de Colchete e Jararaca ser
baleado, os demais cangaceiros bateram em retirada", conta o pesquisador
mossoroense Eriberto Monteiro, para quem a resistência podia ter sido derrotada
por causa de um vacilo. "Quando soaram os sinos da Capela de São Vicente,
esqueceram de fechar a porta. Se os cangaceiros tivessem descoberto esse
deslize, creio que a história poderia estar sendo contada de outra maneira".
Artimanhas
José Leite
Santana, o Jararaca, saiu baleado e ainda conseguiu escapar pelo mato por
algumas horas. Foi capturado, porém, pelas forças policiais. A história do
primeiro Jararaca é um capítulo à parte (leia na página 7). Aqui um parêntese
para explicar o uso de homônimos no cangaço. Virgulino, longe de ter sido um
simples bandido, era idealizador de artimanhas que conseguiam ludibriar seus
inimigos. Uma delas era dar o mesmo apelido para vários cangaceiros.
Apelido
Usava o ardil
com dois objetivos, segundo o depoimento de alguns pesquisadores.
Primeiramente, para homenagear seus homens mais "valorosos" que
morriam. Manter o mesmo apelido era uma forma de "ressuscitá-los".
Por outro lado, isso desmoralizava a Polícia, os chamados macacos.
É que muitos
volantes se gabavam de ter matado tal cangaceiro. Ao tomar conhecimento desse
fato, Lampião fazia questão de passar no local e conversar com o
"defunto" (substituto), deixando a Polícia no descrédito. Há casos de
três pessoas que ostentaram a mesma alcunha.
O homem que
ganhou a confiança de Virgulino
Padre Cícero Romão Batista e Benjamin Abraão
A trajetória do sírio Benjamim Abraão, inclusive a sua morte, é também cheia de mistérios. Ele migrou para o Brasil em 1915, segundo consta, para fugir da convocação obrigatória durante a Primeira Guerra Mundial. Dentre outras atividades, atuou no comércio de tecidos e miudezas. Depois de residir em Recife (PE) por muitos anos, seguiu para Juazeiro do Norte de olho no grande número de romeiros que buscavam a cidade do Cariri cearense.
Sua vida
começou a mudar quando conheceu Padre Cícero e passou a ser seu secretário. Em
1926, foi apresentado a Lampião, durante sua passagem pela Cidade, no episódio
que ficou conhecido como o da entrega de armas e da patente de capitão ao
cangaceiro para que, juntamente com seu bando, enfrentasse a Coluna Prestes. Em
1929, Abrahão fotografou o líder cangaceiro ao lado do Padim. Após a morte do
religioso, Abrahão obteve a permissão do "Rei do Cangaço" para
acompanhar o bando na Caatinga. Conseguiu captar as imagens que o consagraram e
deram fama. À essa altura, já contava com a parceria do cearense Ademar Bezerra
de Albuquerque, proprietário da Aba Film que, além de lhe ceder os
equipamentos, ensinava como usá-los. Esteve junto aos cangaceiros liderados por
Lampião pelo menos em duas ocasiões.
Abrahão teve
seus trabalhos confiscados pelo Estado Novo, que via na sua atuação algo
"perigoso" para o regime. Guardada pela família de libaneses
Elihimas, em Pernambuco, a película foi analisada pelo Departamento de Imprensa
e Propaganda (DIP), um órgão de censura.
Sua morte foi
parecida com a de outras vítimas da luta entre policiais e cangaceiros. Foi
esfaqueado quarenta e duas vezes. O crime jamais foi devidamente esclarecido.
Não se conhece o autor nem a motivação. Uma das versões é de que foi morto pelo
Estado Novo para não levar adiante a história do cangaço. A outra dá conta de
que o fotógrafo sírio-libanês foi alvo de um latrocínio. A terceira é que sua
morte teria sido um crime passional.
Adendo:
Tenho lido também que ele fora morto porque estava
de namoro com a mulher de um deficiente,
e ele com ciúme o matou. Mas não
sei se tem procedência,e se não
tem, eu não sou o culpado
da informação errada.
sei se tem procedência,e se não
tem, eu não sou o culpado
da informação errada.
José Mendes Pereira.
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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