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domingo, 18 de dezembro de 2011

Messianismo e Cangaço: UNIASSELVI entre Cruz e a Espada

Por: João de Sousa Lima

UNIASSELVI ENTRE A CRUZ E A ESPADA.
Os alunos do curso de história da UNIASSELVI de Paulo Afonso, ciceroneados  pelo professor Alcivandes Santana (autor da biografia de Pedro Batista), visitaram o Museu de Pedro Batista , em Santa Brígida, Bahia, passando antes no Museu Casa de Maria Bonita, no povoado Malhada da Caiçara, Paulo Afonso, Bahia.
O messianismo com seus beatos, romeiros e penitentes deixou um longo capítulo histórico nas páginas da historiografia nordestina. Sobre o tema existem centenas de estudos, teses, textos e reportagens. O professor Gilfrancisco escreveu sobre o messianismo:
“O cristianismo primitivo, ideológico, contraditório no que se refere ao conteúdo social da doutrina, surgiu após a morte de Cristo. Era em sua origem, a expressão dos oprimidos, o escravo, o pobre, os homens privados dos direitos os quais se encontravam subjugados pelo Império Romano. Tal como é o socialismo que prega o término da escravidão e miséria, que em toda sua existência conquistou posição tal, que seu triunfo se encontra assegurado de modo absoluto. Três séculos depois de seu nascimento, Roma reconheceu o cristianismo como religião do Estado e do Império do mundo.
Os movimentos messiânicos existem entre nós desde os primórdios da colonização portuguesa, quando foram registradas as primeiras ocorrências de tais ajuntamentos ou agrupamentos de pessoas, identificadas como fanáticas visionárias e supersticiosas. Tais movimentos nasceram em decorrência da falta a princípio dos jesuítas e mais tarde dos padres, fato que sempre preocupou as autoridades eclesiásticas, e o completo isolamento em que vivia o povo da colônia diante da metrópole. Portanto, surgiram em face do choque cultural existente entre os sertões e o litoral, que se desconhece e se separam, mas esta paisagem continua a mesma, nada foi alterado”.
    No nordeste, entre as histórias de violência e de religião, o sertanejo viveu entre a cruz e a espada. Como toda criação de sociedade, fundamentada pelos conflitos violentos e amenizadas pela ação ideológica do catequizador, vários lideres fizeram história, tendo o  exemplo mais marcante no nordeste o de Antonio Conselheiro, nas margens do rio Vaza Barris, em Canudos, alto sertão baiano, que lutou contra milhares de homens do exército brasileiro, em quatro expedições e acabou sendo dizimado com seus seguidores.
A resistência ficou gravada também na pessoa do padre Cícero Romão Batista, excomungado pela igreja e perseguido pela coluna Prestes, hoje um homem venerado pelas romarias que seguem até Juazeiro do Norte.
O Caldeirão de Santa Cruz do Deserto surgiu no Crato, interior do Ceará sob a liderança do beato José Lourenço.
Consistia numa comunidade igualitária onde todos os habitantes tinham direitos e deveres iguais. Tal ideal não agradava o governo estadual e os fazendeiros da região.
O Caldeirão era protegido pelo Padre Cicero, que inclusive ajudou o beato José Lourenço a arrendar o terreno. Após a morte do sacerdote, governo e fazendeiros se aproveitaram para destruir a comunidade.
Por volta de 1940, Santa Brígida era apenas um pequeno Povoado do município de Jeremoabo, composto por algumas casas de barro cobertas de palha. A agricultura, mal dava para a subsistência e a pecuária limitava-se mais a criação de bodes e cabras.
Santa Brígida era uma região famosa pela passagem de Lampião.
Em 1942 peregrinava pelos Estados de Alagoas, Sergipe e Pernambuco um penitente de barba e cabelos grisalhos, pregando e curando, que se chamava Pedro Batista da Silva. Serviu o exército aos dezessete anos, sendo deslocado posteriormente para Foz do Iguaçu e Ponta Grossa, no Paraná. Após desligar-se do exército trabalhou como marinheiro e estivador nos portos do Rio de Janeiro, Santos e Paranaguá, onde se fixou e viveu como pescador. Uma "visão" fez regressar ao Nordeste, onde peregrinou até fixar-se em Santa Brígida com a permissão do Coronel João Sá que acompanhou a chegada dos romeiros até certificar-se de que o movimento não ameaçava se tornar uma nova Canudos. Em suas andanças Pedro Batista ficou famoso pela sua sabedoria em dar conselhos, efetuar curas e libertar pessoas de maus-espíritos.
Esta postura cativou os romeiros que via nele um representante de Deus. Pedro Batista não comentava com os romeiros sobre a sua vida, de onde veio quem era seus pais ou se tinha irmãos, pouco interessava aos seus adeptos. Era como se ele não tivesse tido princípios de dias. Sua chegada a Santa Brígida ocorreu em 14 de junho de1945, tinha como objetivo formar a romaria e desenvolver a agricultura como meio de subsistência para as famílias que ali residiam. Correndo pelo sertão a notícia que o Beato Pedro Batista estava instalado em Santa Brígida, a gente que o conhecia de Alagoas, Sergipe e Pernambuco, veio visitá-lo em romarias. Uns com o fito de se instalar ao pé do "Padrinho", outros traziam dinheiro para comprar terras ou alugá-las, pretendendo ali, viver atraídos pela crença, fé e pela ordem que faziam reinar em torno de si. A exemplo da saudosa Madrinha Dodô, que veio do povoado Moreira, no município de Água Branca, onde conheceu o Beato e resolveu acompanhá-lo por afinidade dos trabalhos comunitários de atendimento ao povo pobre e sofrido da região, tornando-se assim, a pessoa mais próxima do padrinho Pedro Batista. Madrinha Dodô, como era conhecida, foi a grande confidente e herdeira espiritual do Beato, passando a ser respeitada e enaltecida pelos romeiros, que viam nela a sabedoria e a caridade, comparando-a com a saudosa Irmã Dulce da Bahia.
Foi a esse mundo de Santa Brígida, onde o Museu de Pedro Batista guarda seus pertences e suas lembranças que estivemos visitando e conhecendo capítulos dessa história, assim como no Museu da Rainha do cangaço, em Paulo Afonso, uma aula “In Loco” da Mulher Cangaceira e de uma das passagens do messianismo em nossa região, traços marcantes de uma época preservados pela memória coletiva de um povo marcado pelo estigma da violência e da crença incondicional.
Na foto acima um passagem no Museu Casa de Maria Bonita.
Aqui na capela de Dona Generosa, no povoado Riacho. Ela foi grande coiteira dos cangaceiros.
Estátua de Pedro Batista, em Santa Brígida, Bahia.


Igreja em Santa Brígida


Museu Pedro Batista

Penitentes em Santa Brígida
Pedro Batista ladeado por seus fiéis seguidores da fé.
Enviado pelo escritor e pesquisador do cangaço:

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