Por: Rangel Alves da Costa(*)
AOS
QUE NÃO GANHARAM
Contrariamente
ao que pareça, não ser eleito para prefeito, vice-prefeito ou vereador não é
algo assim tão ruim. O não reconhecimento do eleitorado também tem os seus
lados positivos. E são muitos.
Certamente que
quem entra numa disputa postulando ser eleito para o executivo municipal ou o
legislativo, e faz desse desejo mirabolâncias exacerbadas, com gastos,
correrias, promessas, mentiras e outras invencionices politiqueiras, sempre
quer ser reconhecido nas urnas.
O
reconhecimento através do voto, contudo, nem sempre reflete as reais qualidades
do candidato. É sabido por todos que pouca valia terá apenas a seriedade e a
honradez se tais aspectos positivos não estiverem ladeados com alguns
deploráveis mecanismos.
Ora, para
alcançar o âmago do eleitor, o político tem de prometer o impossível de ser
realizado, tem de mentir, de fazer amizades suspeitosas, de reatar amizades com
inimigos de sempre, de vender a alma ao coisa ruim. Ou faz assim ou não vai
adiante mesmo, não passará de um rejeitado nas urnas.
Mas quando a
pessoa perde, quando os votos comprados ou adquiridos por força das promessas,
a coloca na lista dos derrotados, logicamente que as promessas automaticamente
são apagadas, os débitos contraídos ficarão esquecidos por um bom tempo, nenhum
eleitor vai ter a petulância de bater à sua porta com conta de água ou luz. E
já começa a ficar menos doloroso daí.
Aquele que foi
candidato e não se elegeu não deixa de ter conquistado mais poder. Não o
executivo ou legislativo, mas de influência política e de mecanismo para ter
voz e reivindicar perante as forças políticas partidárias aquilo que desejar,
principalmente para si e seus familiares. Assim, fica muito mais fácil
conseguir um emprego, um cargo em comissão, uma colocação política qualquer.
Mesmo não
tendo sido reconhecido nas urnas, o candidato passa a ter mais respeitabilidade
nos seus pronunciamentos, nas suas opiniões políticas, nas críticas que queira
fazer. E muitas vezes, para não ter aquele ex-candidato como um calo no seu pé,
cobrando, exigindo, o eleito busca logo aproximação. E como essa junção tem seu
custo, então eis o melhor momento para a barganha, para tirar o máximo
proveito.
Com a
esperteza existente na maioria dos candidatos, dificilmente algum sai do pleito
mais pobre do que entrou. Entra para a disputa sabendo que vai gastar muito,
que vai ter muitas despesas, porém poucas vezes mete a mão no bolso para tirar
de suas economias. Ora, o candidato a vereador vai buscar recursos com o
partido, com o candidato a prefeito, e este com deputados e lideranças maiores,
e assim por diante.
Só o fato de
ter sido candidato já garante ao derrotado ser recebido pelas lideranças
políticas estaduais. No encontro, o pleito para uma assessoria, um cargo para
um parente, a afirmação de que os votos obtidos poderão ser redobrados ou
triplicados em favor do prefeito eleito, do deputado, do governador ou do
senador. E aí começam os acertos com ganhos para o derrotado.
São muitos os
candidatos que além de não gastar um tostão do seu bolso, sempre se
apresentando como pobres em defesa da pobreza, ainda colocam nas suas contas
bancárias os fundos partidários que recebem, as ajudas de custo de outros
políticos, todo centavo que obtenha em nome de sua campanha. Tem até candidato
que recebe alimentos e outros objetos para distribuir entre os eleitores e acha
sempre melhor deixar na própria cozinha.
Aos que não
ganharam, nada de tristezas ou aborrecimentos. Muitos sabem que não disputaram
para vencer, mas apenas para tirar proveito da candidatura. E gente assim,
esperta demais, certamente sairá vitorioso com o obtido e não distribuído, com
o que seria para o eleitor pobre e ficou em seu poder. Ademais, mais tarde não
vai ter de aturar gente batendo à sua porta, procurando seu gabinete, exigindo
isso ou aquilo.
Por isso mesmo,
muitas vezes é até melhor perder. Ao menos pode jogar pra fora suas raivas
reprimidas e esculhambar logo com tudo mundo. Tanto que prometeram e nada,
então ninguém presta mesmo. Eis, então, o momento de lavar os panos sujos.
Poeta e
cronista
e-mail:
rac3478@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com
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