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sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Mossoró, a cidade que escorraçou Lampião



                 O fim do cangaço começa a se desenhar depois que, pela primeira vez, Virgulino Ferreira e seu bando perderam uma batalha

Escrito por: Esdras Marchesan
 Blog: Brasileiros

Lampião
       
                 Cinco e meia da tarde daquele 13 de junho de 1927, ouviram-se os últimos disparos. No pátio externo da Capela de São Vicente, um cangaceiro morto é a maior prova da derrota imposta por Mossoró ao rei do cangaço. Era a primeira vez que Lampião saía escorraçado de uma luta. Seu Dionísio Pereira tinha 23 anos quando o bando invadiu a cidade, e lembra bem do pavor que causou. "Era tiro demais", recorda. Mas, a maior lembrança é a do corpo do cangaceiro Colchete estendido na frente da Capela de São Vicente. "Eu cheguei a guardar uma orelha, que foi arrancada pelo tiro, mas não sei onde foi parar", diz.
 
Ficheiro:Igreja-São-Vicente-Mossoró.jpg
Foto da Igreja de São Vicente de Paulo
 
                 A resistência mossoroense ao bando de Virgulino Ferreira aconteceu sem apoio da polícia. Quando soube que o cangaceiro queria invadir a cidade, o prefeito Rodolfo Fernandes comprou armas e munições e as entregou a quem quisesse lutar. E foram muitos os voluntários.
 
Prefeito Rodolfo fernandes de Oliveira
 
                No dia 12 de junho, o prefeito recebeu um bilhete assinado pelo coronel Antônio Gurgel, que havia saído de Natal com destino a Mossoró para buscar os parentes e foi seqüestrado pelos cangaceiros. O bilhete era claro:
 
              "Caro Rodolfo Fernandes, desde ontem estou aprisionado do grupo de Lampião, o qual está aquartelado aqui bem perto da cidade. Manda, porém, um acordo para não atacar mediante a soma de 400 contos de réis. Penso que, para evitar o pânico, o sacrifício compensa, tanto que ele promete não voltar mais a Mossoró".
 
                Ao que o prefeito respondeu: "Antônio Gurgel, não é possível satisfazer-lhe a remessa. (...) Estamos dispostos a recebê-los na altura em que eles desejarem. Nossa situação oferece absoluta confiança e inteira segurança". Era ousadia demais para Lampião, que escreveu, de próprio punho, um bilhete decisivo:
 
               "Cel. Rodolfo. Estando Eu até aqui pretendo Dr. já foi um aviso, ahi p o Sinhoris, si por acauso rezolver, mi, a mandar será a importança que aqui nos pede, Eu invito di Entrada ahi porem não vindo essa importança eu entrarei, até ahi penço que adeus querer, eu entro; e vai aver muito estrago por isto si vir o Dr. eu não entro, ahi mas nos resposte logo".
  
                 Determinado, o prefeito deu a resposta que seria o estopim para o início da batalha. "Virgulino Lampião, recebi o seu bilhete e respondo-lhe dizendo que não tenho a importância que pede. (...) A cidade acha-se firmemente inabalável na sua defesa, confiando na mesma."
 
                Na tarde do dia 13 de junho, começou a chuva de balas entre o povo da terra de Santa Luzia e os cabras de Lampião. Eram pouco mais de 80 cangaceiros contra cerca de 200 mossoroenses. Durante uma hora e meia, a população resistiu às investidas dos cangaceiros. Colchete foi acertado por um tiro que lhe arrancou a cabeça. Jararaca, um dos principais homens de Lampião, saiu ferido no peito e na perna. Lampião e seu bando fugiram. Fim do ataque e começo de uma história que iria se espalhar por todo o Nordeste e marcar o início da queda do rei do cangaço.
 
José Leite de Santana - O Jararaca
 
              Segundo alguns historiadores, a derrota foi pressentida por Virgulino ao avistar as torres das igrejas de São Vicente, Alto da Conceição e Matriz de Santa Luzia. "Cidade de mais de uma torre não é pra ser tomada", teria dito antes da invasão.
 
               Esdras Marchesan

               Revista - Edição 12 - Julho/2008 - Memória
PONTO TURÍSTICO Homenagem aos homens que combateram Lampião
No espaço a céu aberto, atrás da Capela de São Vicente, a prefeitura municipal construiu um memorial em homenagem aos homens que lutaram contra o bando do rei do cangaço. Seu Manoel José de Morais ficou surpreso ao ver a fotografia de José Paulino Bezerra, o "Pequeno", agricultor que foi vítima do bando de Lampião. "Esse senhor eu conheci quando era rapaz lá no sertão onde morei. Ele dizia que quando foram invadir sua casa ele botou o dinheiro que tinha no buraco do tijolo. Apanhou um bocado, mas não disse de jeito nenhum onde tava o dinheiro", explicava aos visitantes que observavam a foto de seu "Pequeno". O lugar já está se transformando em ponto turístico.

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