Por: João de Sousa Lima
A região nas proximidades da cidade alagoana de Água Branca foi muito visitada por Lampião e vários outros cangaceiros, inclusive alguns depoimentos relatando que foi nessa cidade que nasceu o cangaceiro Corisco.
Quando Lampião se mudou com a família saindo de Serra Talhada por questões de desavenças com o vizinho Zé Saturnino, eles vieram residir em Santa Cruz do Deserto, bem próximo a água Branca e lá viu seu pai ser assassinado por Zé Lucena.
Lampião deixou definitivamente gravado seu nome na história de Água Branca quando vasculhou os aposentos do casarão da Baronesa Joana Torres saqueando-a e arrecadando um verdadeiro tesouro com esse ataque.
O coronel Ulisses Luna, da fazenda Cobra foi um dos grandes coiteiros de Lampião entre os munícipios de Água Branca.
O povoado Pariconhas foi outro que sofreu ataque dos cangaceiros.
O emaranhado de serras que circundam Água Branca transformaram-se naturalmente em esconderijos dos cangaceiros. Com suas terras sempre verdejantes e úmidas aquelas paragens era um vale rico em diversidades de frutas e grãos e suas nascentes tinha as mais límpidas corredeiras de águas potáveis do nordeste.
A Serra dos Cavalos era um dos paraísos na diversificação das frutas e Lampião mandou um recado por um dos seus inúmeros coiteiros para o senhor Joaquim Flor dizendo que iria lá um dia conhecer o lugar.
Promessa feita, promessa cumprida: Eis que chega à Serra dos Cavalos Lampião e seu grupo. O bando se dirige para uma casa de farinha. Na casa estava morando Maria Vieira com suas quatro filhas pequenas: Iraci Vieira da Silva, Maria de Jesus (Nenê), Maria José Vieira e Rosa Vieira da Silva. Lampião bateu na porta e Maria Vieira não abriu, o cangaceiro se dirigiu para a casa vizinha onde se encontrava Joaquim Flor e sua esposa Minervina. A casa foi tomada pelos cangaceiros. A visita causou uma grande confusão entre a família com a visita daqueles estranhos e tão temidos homens. Na casa os cangaceiros se fartaram de pinha, jaca, banana e manga, porém nada fizeram de mal aos ocupantes da residência. Os cangaceiros agradeceram as frutas e foram embora. Minervina ainda assustada seguiu até a casa de farinha e chamou Maria Vieira, reclamando:
- ÊÊ comadre, você ouviu o barulho e não foi ver o que era!
- O que foi que aconteceu?
- O que foi que aconteceu o que, você ouviu o barulho na porta da casa de farinha e não teve a coragem de abrir a porta?
- Eu só ouvi uma pisada!
- QUEM VÊ EU CHORAR ESSE ANO CHORA COMIGO TAMBÉM E QUEM NÃO CHORAR ESSE ANO CHORA NO ANO QUE VEM!
Minervina deixou essa frase enigmática, deu as costas e saiu com raiva da comadre.
Da casa de Minervina e Joaquim Flor os cangaceiros seguiram até a casa do comerciante Limeira que se encontrava com sua esposa Zizi e seus filhos pequenos. Na casa de Limeira uma cangaceira viu uma caixa na mesa se dirigiu pra ver o que era. O conteúdo da caixa era uma máquina Singer, de mão. A cangaceira pegou a máquina pra levar e um dos cangaceiros mandou devolver, o que foi de pronto atendido. Lampião olhou pra Limeira e falou:
- ÔÔÔ Limeira você sabe o que é que vai aqui com nóis?
- Não!
- Lenço Branco, Facarina e Sergipana!
- HÔÔÔ Lampião, esses são meus burrinhos de fazer a feira! Quando é que você devolve?
- Só quando eles criar cabelos brancos!
Os cangaceiros desceram a Serra e Limeira ficou lamentando a perda dos burros de estimação: Lenço Branco, Facarina e Sergipana.
Ao amanhecer chegou à Serra dos Cavalos um dos amigos de Limeira e disse:
- Limeira, acabo de ver seus burros lá em Pariconhas, os cangaceiros deram um fogo com a polícia e na fuga deixaram os burros!
Limeira desceu a Serra e foi buscar seus animais que o auxiliavam no transporte de mercadorias, produtos que garantiam seu sustento e de sua família. Os cangaceiros continuaram andando naquelas terras, ora de passagem em fuga, ora na casa de algum coiteiro. A terra continuou dando seus frutos, e Limeira continuou trafegando por muito tempo transportando seus produtos nos lombos de Lenço Branco, Facarina e Sergipana.
As quatro filhas de Maria Vieira ainda residem nas Serras de Água Branca e guardam em suas lembranças uma noite de medo quando nos braços da mãe ouviram Lampião bater na porta da casa de farinha onde elas residiam.
João de Sousa Lima
Escritor e Historiador.
*Pesquisa realizada no dia 01 de julho de 2012, nas Serras de Água Branca, na companhia dos amigos Maria Zélia Vieira, Cícero Soares Pereira (Pelé) e Joseane Vieira.
Iraci, joão, Rosa e Cícero (Pelé), elas eram pequenas quando Lampião passou no terreiro de sua casa na serra dos cavalos.
Maria José, Nenê, Rosa e Iraci, quatro irmãs que estavam com a mãe quando Lampião passou na Serra dos Cavalos. Elas ainda residem nas Serras que circundam a cidade de Água Branca, Alagoas.
A casa de Iraci, na serra de Água Branca, sempre em festa para receber os amigos e os familiares. Na foto: Pelé, Zélia e sua mãe Iraci. Detalhe da foto: Um burro e seu condutor vendendo produtos de limpeza.
Iraci e Zélia
Cícero (Pelé) nasceu na Serra dos Cavalos e hoje reside em Paulo Afonso.
No dia de nossa entrevista a chuva castigou as estradas e só conseguimos chegar até certo ponto depois que o carro atolou subimos o resto caminhando.
Extraído do blog do escritor e pesquisador do cangaço: João de Sousa Lima
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