Ontem, em meio
a uma conversa informal me pediram que eu falasse um pouco sobre Patativa do
Assaré. Me surpreendeu o súbito silencio que tomou conta de mim. Na realidade
me quedei pensando se falava de Antônio Gonçalves da Silva ou de Patativa do
Assaré.
Coincidentemente,
nesses últimos dias tenho me debruçado em leituras. Ando atento e relendo
algumas pérolas do grande Patativa do Assaré. Me encanta em especial o fato da
não existência REAL, do Patativa do Assaré. Me encanta saber que o “PATATIVA”
era na realidade um personagem criado pelo agricultor e cantador Antônio
Gonçalves da Silva.
Adianto que
são poucos os que sabem dessa diferença. Mas ela existe. E eu só pude perceber
quando convivi mais tempo com o grande
poeta. Houve um tempo em que os contatos pessoais se intensificaram e eu passei
a frequentar a sua casa em alguns sábados, unicamente pra conversar.
Numa dessas
visitas, descobri o arsenal de livros, já surrados pelo tempo, que foram lidos
por ele. Acervos de poesias de Olavo Bilac, Juvenal Galeno, Catulo da Paixão
Cearense, estavam guardados em meio a livros de Machado de Assis, e tratados
politicos diversos. Só aí pude conhecer as duas faces; a do cidadão, bravo
lutador e guerreiro Antônio Gonçalves, e a do personagem por ele criado e
nominado pelo Jornalista José Carvalho como Patativa do Assaré.
A grandeza da
poética de Antonio Gonçalves da Silva está na verdade escondida na sua
capacidade de mimesis e de diégesis quando mistura o homem do
campo com o personagem da sua própria poesia. Assim, advogo que emana do homem
do campo Antônio Gonçalves da Silva, o personagem Patativa do Assaré e que este
é o canal através do qual o poeta dá voz ao seu instinto
poético/político/ativista.
Senão vejamos
quando o próprio Antônio Gonçalves denuncia em suas rimas a sua onipresença nos
versos creditados a Patativa quando canta evocando a sua origem sertaneja, a
sua ligação com o campo:
Poeta, canto
da rua,
Que na cidade
nasceu,
Cante a cidade
que é sua,
Que eu canto o
sertão que é meu.
Na estrofe
acima, vê-se Mimetizado e falando ao povo pela voz de Patativa do Assaré, em
palavras recheadas de uma clara e invejável oralidade - não menos importante
das erudições lusitanas - destacando as denuncias feitas por ele quando reclama
da forma desigual com que é tratado o homem do campo. Fato este que caminha
para as desastrosas consequências geradas pela desigualdade social como:
miséria, fome, insalubridade, etc. Ou seja, através do personagem Patativa, ele
fala das agruras sofridas pelo homem do campo. Classe na qual se insere Antônio
Gonçalves da Silva.
Ou em outro trabalho quando deixa
aparecer a sua visão social e politica, denunciando as causas do sofrimento dos
sertanejos:
Não é Deus que
nos castiga
nem é a seca
que obriga
sofrermos dura
sentença
não somos
nordestinados
nós somos
injustiçados
tratados com
indiferença.
Sofremos em
nossa vida
uma batalha
renhida
do irmão
contra irmão
nós somos
injustiçados
nordestinos
explorados
nordestinados,
não.
De toda forma,
Antônio Gonçalves da Silva foi um ser humano ímpar, singular. Patativa do
Assaré permanece entre nós. Em livros, poesias, denuncias, etc.“Consciente do
seu papel social e com a clareza de pensamento que lhe distinguiu como poeta e
como homem, Patativa do Assaré depõe a favor de sua própria arte diante de si
mesmo, ao explicar seus versos no poema acima, eu Digo e não peço segredo, dizendo
para Tadeu Feitosa: (Mª Socorro O. Brandão)
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