Desde as
últimas e sensacionais notícias, na edição de ontem, sobre a morte necessária
do celebérrimo Lampião, publicávamos, ainda, um despacho telegráfico,
procedente de Maceió, que afirmava Corisco, lugar-tenente graduado do
chefe-geral dos bandidos abatidos, tentaria, na certa, reorganizar o bando
disperso sob a sua chefia imediata.
E repetimos a expressão gaulesa de “rei morto, rei posto”.
Mal sabíamos que, horas depois, a cidade, ou melhor, o Brasil, o estrangeiro seriam abalados com a notícia da bárbara “revanche” dirigida por Corisco.
O substituto de Lampião, que escapara do ataque à fazenda Angicos, levando consigo, na fuga, 37 homens, tomou de surpresa, ontem mesmo, a fazenda Patos, de propriedade do coronel Correia de Brito, e cruelmente sangrara quatro vaqueiros e outro tanto fizera a duas mulheres moradoras naquela propriedade.
Corisco à
frente de cerca de 80 homens
Assassinado
friamente aquelas seis indefesas criaturas, Corisco fizera decepar a cabeça das
mesmas e as remetera à vila alagoana de Piranhas.
Segundo ouvimos na Rádio Tupy ontem à noite, Maceió afirma que, segundo informações recebidas de Piranhas, Corisco está dirigindo um troço de oitenta cangaceiros.
A temibilidade
de Corisco
Afirma-se com
verdade que se Corisco não é estrategista como Lampião, supera-o, entretanto,
na audácia e na perversidade.
Forças da
polícia conjugadas no encalço dos bandidos
Logo que se
soube da chacina, ontem na fazenda Patos, as forças sergipanas que se encontram
destacadas nas localidades do norte do estado, tiveram ordem de se juntar às de
Alagoas que subiram o rio São Francisco em perseguição aos terríveis
bandoleiros, cujas fileiras estão sendo engrossadas depois da morte do seu
chefe supremo Virgulino Ferreira.
Reorganizavam-se
para um ataque às localidades mais populosas
A crer-se nas
notícias divulgadas, ontem à noite pelo rádio, o aumento de 37 bandidos para
80, sob o comando de Corisco, claro está que houve um “toque de reunir” para
empreitada de grande estilo. Não padece dúvida que em Angicos houve um “congresso”
de bandoleiros, onde estavam sendo ouvidas as determinações de Lampião. O
notável celerado, hoje felizmente morto, de vez em quando reunia os seus grupos
destacados em várias direções para traçar novas diretivas de assalto. A
imprensa alagoana noticiou que Lampião pretendia assaltar Propriá.
O seu ódio à população da cidade de Capela, que o repelira valentemente quando da sua tentativa de entrada em 1930 era manifesta. Ele afirmava sempre onde passava que Capela ainda lhe pagaria a “recepção” que lá tivera ao contrário da de um ano antes. Corisco, seu substituto, possivelmente agora, cheio de ódio, preparando o revide, terá incluído Capela no seu programa de invasão. O assassinato cruel do pacato cidadão João Porto há poucos dias...
A morte de Lampião não extinguiu definitivamente o cangaceirismo que tanto mal nos tem trazido.
"CORREIO
DE ARACAJU" - 04/08/1938
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