LIMA, Noádia
da Costa. Gravidez e Maternidade no Cangaço Lampiônico ( 1929-1938).
Os bandos de
cangaceiros se caracterizavam como grupos armados formados exclusivamente por
homens, esses subsistiam da prática de roubos, extorsões e sequestros, faziam
uso da tortura e assassinato para impor o medo. A presença de mulheres não era
permitida em tais bandos, pois essas eram vistas como seres frágeis e que
trariam problemas ao grupo.
A sociedade
patriarcal e machista da época tratava a mulher de forma inferiorizada, e
restringia o espaço feminino ao lar. As funções da mulher seriam: a prática de
atividades domésticas, o cuidado com seu esposo e filhos, e no caso das
mulheres pobres o trabalho na lavoura para ajudar no sustento da família.
Não se
visualizava a mulher deixando a tranquilidade do seu lar, para acompanhar um
grupo nômade de facínoras pelos sertões. Essa quebra de padrão ocorreu com
Lampião, antes dele nenhum chefe de grupo permitiu a incorporação de mulheres
nos bandos. Lampião modificou as regras e forjou nova forma de Cangaço ao
permitir o ingresso de Maria Bonita em seu grupo.
Segundo (LIMA,
2017:10) Maria Bonita entrou para o Cangaço no finalzinho de 1929 ou princípio
de 1930. Vale ressaltar que Maria não aderiu ao Cangaço apenas por vontade
própria, ela precisou da autorização e aceitação de Lampião para segui-lo.
Os antecessores
de Lampião nunca permitiram a presença permanente de mulheres no seio de seu
grupo, considerando que elas representavam um perigo tanto no plano real como
no plano simbólico. Foi depois da entrada de Maria Bonita para o Cangaço, como
companheira de Lampião, que outras mulheres se juntaram ao grupo. O grupo de
cangaceiros já não era organizado apenas como um pequeno exército ou como uma
tropa de homens ligados por laços de compadrio: doravante ele passava a
estruturar-se com base em laços familiares.
(JASMIN, 2016:121)
A entrada de
Maria Bonita possibilitou que outras moças abandonassem o ambiente doméstico e
ingressassem nos vários subgrupos de cangaceiros, passando a ocupar lugar que
antes era exclusivamente masculino. Gradativamente os cangaceiros passaram a
arranjar companheiras e trazê-las para o bando do qual faziam parte, tendo como
consequência o aumento da quantidade de cangaceiras nos subgrupos.
Com a chegada
das mulheres o cotidiano dos bandos se alterou significativamente, a presença
feminina ao mesmo tempo que possibilitou uma vida sexual regular, diminuiu a
ocorrência de estupros cometidos pelos cangaceiros. Esses além de escapar das
perseguições da polícia, teriam nova incumbência: garantir a segurança de suas
companheiras e impedir que fossem capturadas ou mortas.
A função da
mulher cangaceira era essencialmente afetiva, ela apenas acompanhava seu par
pelas andanças no sertão e não participava das batalhas, a exceção foi Dadá,
companheira do cangaceiro Corisco, que participou de um único combate. Elas não
possuíam função doméstica, pois antes da entrada dessas, tais tarefas já eram
divididas e realizadas pelos homens.
Referências:
JASMIN, Elise
Grunspan. Lampião –Senhor do Sertão. EDUSP, 2016.
LIMA, João de
Sousa. Mulheres Cangaceiras “a essência feminina como questão de gênero. Paulo
Afonso: Fonte Viva, 2017.
OLIVEIRA,
Aglaê Lima de (1982). Lampião, Cangaço e Nordeste. Editora O Cruzeiro-
2aEdição. 1970.
Na foto abaixo
o casal de cangaceiros Corisco e Dadá.
Foto: Benjamin Abrahão
https://www.facebook.com/groups/1617000688612436/permalink/1913538605625308/
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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