Por Junior
Almeida
Na manhã do
dia 14 de junho de 2018 dezenas de pessoas estiveram em Angelim, no Agreste
Meridional de Pernambuco, para prestar homenagens ao oficial das Forças
Volantes, CAPITÃO JOSÉ CAETANO DE MELLO, nascido em Pesqueira, no mesmo Estado,
em julho de 1872. A referida cerimônia teve como objetivo resgatar a história
de um dos mais valentes oficiais de volantes que combateu o cangaço de
Porcinos, Matildes, Augusto Santa Cruz, Antônio Silvino, Sinhô Pereira e por
último Lampião.
Numa iniciativa do Instituto Cariri Cangaço do Brasil, através do seu conselheiro, pesquisador Junior Almeida, Polícia Militar de Pernambuco, na pessoa do comandante do 90 BPM, Tenente Coronel Paulo César Gonçalves e Prefeitura Municipal de Angelim, que tem à frente o gestor Douglas Duarte, a cerimônia cívico militar foi realizada no centro da cidade, em frente ao cemitério local. Coronel Iturbison Agostinho dos Santos, ex-comandante geral da corporação, foi quem presidiu a cerimônia.
Um resumo da
carreira de Zé Caetano foi lido pelo cerimonial, e o Coronel Iturbison, ao usar
da palavra, ressaltou a importância dos antigos volantes, a exemplo, do
homenageado, na preservação da lei e da ordem. No interior do campo santo, uma
placa com as logomarcas do Governo de Pernambuco, Secretaria de Defesa Social,
PMPE, Batalhão Arruda Câmara (90 BPM), Prefeitura de Angelim e Instituto Cariri
Cangaço, foi descerrada pelo neto de José Caetano, Humberto Marcos, e pelos
representantes das instituições à frente da homenagem.
Ao lado do
túmulo do antigo volante, o Grupo de Ações Tática Itinerante – GATI -
homenageou José Caetano com salvas de tiros de fuzil. Do lado de fora do
cemitério, a banda do 40 Batalhão de Polícia Militar, em Caruaru, executou o
Hino Nacional, da PMPE, e dobrados militares, um em cada momento da solenidade.
Ao término da cerimônia, o prefeito Douglas Duarte, os oficiais PMs, Iturbison e Paulo césar, além do escritor Junior Almeida, concederam entrevistas onde ressaltaram a importância do resgate histórico do Capitão José Caetano.
Só ressaltando
que essa não é a primeira vez que abnegados homens e mulheres não medem
esforços para preservação da História do Nordeste, em especial da saga
cangaceira. Cangaceiros e volantes já tiveram seus nomes reavivados por pessoas
que têm a seriedade necessária e o compromisso para fazer o devido resgate.
Vamos aos casos:
QUEIMADAS,
BAHIA
Em 22 de dezembro de 1929, Lampião à frente de vários cangaceiros entrou na cidade de Queimadas, Bahia, onde cometeu um dos crimes mais covardes da sua vasta história de bandoleiro. Depois de cortadas as linhas de transmissão do telégrafo da cidade, o Cego de Vila Bela, acompanhado de seus cabras, foi até o destacamento da Força Pública, no centro da cidade, onde surpreendeu os militares que lá se encontravam, prendendo-os no lugar dos presos, que foram libertados.
Depois de
saquear tudo que podiam no comércio, os cangaceiros voltaram para o
destacamento e puseram os sete policiais que tinham prendido para fora do
prédio, assassinando-os fria e covardemente a tiros e golpes de punhal, no meio
da rua.
Por essas mortes, a Polícia Militar daquele Estado, em parceria com a Prefeitura de Queimadas realizou em 22 de setembro de 2014 uma solenidade para homenagear os sete policiais militares mortos covardemente por Lampião em 1929. O evento aconteceu na praça onde fica a cadeia pública, local da chacina, onde tombaram sem vida os sete militares.
No ato, o
Comandante Geral da PM, Coronel Alfredo Castro, e o Prefeito Tarcísio de
Oliveira reinauguraram o Destacamento da PM, batizado com o nome de um dos
mártires, Aristides Gabriel de Souza. Após a solenidade, que contou com
discursos, resumo histórico e desfile de tropa, o povo de queimadas acompanhou
as autoridades em cortejo até o Cemitério Municipal, onde, no túmulo dos
heróis, havia sido afixada uma placa em memória deles. Lá foram depositadas
flores e foi ordenado toque de um minuto de silêncio, que as pessoas
aproveitaram para fazer suas orações.
O coronel
Souza Neto, cidadão queimadense e idealizador da homenagem, disse que “era
dever que estava em sua consciência, resgatar a história de Queimadas, que
sentia gratificado.
MORENO E
DURVINHA
O casal Antônio Inácio da Silva, Moreno, e de Durvalina Gomes de Sá, Durvinha, foram cangaceiros bando de Lampião, e haviam abandonado o Nordeste depois da morte do Rei do Cangaço em julho de 1938, vivendo resto de suas vidas em Belo Horizonte, Minas Gerais. Ao morrer em 2008, Durvinha foi enterrada em um cemitério da capital mineira, depois, em 2010, Moreno também faleceu,sendo sepultado em outro local, ambos em simples sepulturas.
Em 2014 o
pesquisador e conselheiro do Cariri Cangaço, Ivanildo Silveira, que é promotor
de justiça no Rio Grande do Norte, através de ofício, entrou em contato com a
prefeitura de Belo Horizonte, explicando a importância histórica daqueles dois
personagens da história do Brasil, estarem enterrados em terras mineiras, e
solicitou que o poder executivo local destinasse uma sepultura melhor para o
casal de cangaceiros, bem como o depósito dos restos mortais de Moreno e
Durvinha em um único local.
O pedido de
Doutor Ivanildo foi atendido, e a Prefeitura mandou construir um mausoléu para
o casal no Cemitério da Saudade, na Zona Leste de belo Horizonte. A filha mais
velha do casal de cangaceiros, que também faz parte do conselho do Instituto
Cariri Cangaço, Neli Conceição, a Lili, na época, bastante emocionada, declarou
à imprensa que:
É muito gratificante para a minha família ter esse reconhecimento. Tenho muito
orgulho de saber que os dois fizeram parte da história do Brasil e que agora
vão estar juntos.
ANTÔNIO
SILVINO
Manoel Baptista de Morais nasceu na Serra da Colônia em Afogados da Ingazeira, Pernambuco, em 2 de novembro de 1875. Entrou no cangaço em 1896 após a morte do seu pai, Pedro Baptista de Morais, o Batistão do Pajeú, adotando o nome de Antônio Silvino, em homenagem ao seu tio Silvino Aires. O Rifle de Ouro, como era chamado, é considerado o primeiro rei do cangaço, e morreu em Campina Grande, Paraíba em 30 de julho de 1944.
Depois de mais
de meio século da morte do célebre cangaceiro, seu túmulo estava lá, no
Cemitério de Monte Santo, em Campina Grande, sem que ninguém se desse conta que
ali estavam os restos mortais de um grande personagem da história do Brasil.
Inconformada com esse desprezo perante à história, em 2014 a pesquisadora e
radialista Sulamita Buriti resolveu “arregaçar as mangas” e bancou por conta
própria e com a ajuda de um irmão a reforma do túmulo do “Rifle de Ouro”.
Sulamita revelou
que a princípio pretendia fazer a reforma e ficar no anonimato, mas depois que
apareceram algumas pessoas querendo ser “o pai da criança”, inclusive postando
fotos em redes sociais, como se fossem os responsáveis pela obra, ela resolveu
contar a novidade aos colegas de imprensa, que fizeram várias reportagens sobre
a vida de Antônio Silvino, seus últimos dias em Capina Grande e a reforma de
sua sepultura, ato de grande valia para preservação da história do cangaço e do
Brasil.
ADRIÃO PEDRO
Morto por cangaceiros, provavelmente por Balão, o militar foi a única baixa das forças volantes que mataram Lampião, Maria Bonita e parte do seu bando em 28 de julho de 1938. Merecidamente o soldado Adrião Pedro também foi homenageado. Por duas vezes a mesma homenagem. A primeira em 2015, o pesquisador e conselheiro do Cariri Cangaço, Antônio Vilela, de Garanhuns, Pernambuco, decidiu em parceria com outros pesquisadores do Instituto Cariri Cangaço, colocar uma cruz e uma placa na Grota do Angico, Poço Redondo, Sergipe, local onde ele foi morto. Pouco tempo depois a cruz e a placa sumiram misteriosamente, o que obrigou o pesquisador a refazer sua homenagem. Ele voltou o ano seguinte acompanhado de outros pesquisadores e fez tudo de novo. Atualmente cruz e placa homenageando Adrião, estão no mesmo lugar.
ANTÔNIO FERREIRA
Em 28 de maio de 2015 durante o Cariri Cangaço de Floresta, Pernambuco, vários pesquisadores estiveram na Fazenda Poço do Ferro, município de Ibimirim, para conhecer o famoso coito de propriedade de Anjo da Gia, onde Lampião e seus cabras passavam dias e dias descansando das correrias, e também para colocar uma nova cruz na sepultura de pedras do cangaceiro Antônio Ferreira, irmão de Lampião, morto em 1926. A iniciativa foi do Grupo Paraibano de Estudos do Cangaço – GPEC- que tem à frente os pesquisadores e conselheiros do Cariri Cangaço Jorge Remígio, Jair Tavares e Narciso Dias. A velha cruz, carcomida pelo tempo, não fazia jus a tão importante personagem da saga cangaceira, o cangaceiro Esperança, irmão do rei do cangaço. Preocupados com a História, abnegados pesquisadores deixaram a sua marca de responsabilidade em meio à caatinga, sinalizando para futuros visitantes que naquele local está sepultado um importante personagem da história do Brasil.
*Fotos: 1-
Pesquisador Junior Almeida, prefeito de Angelim, Douglas Duarte, Humberto
Marcos, neto do Capitão José Caetano, Coronel Iturbison Agostinho e TC Paulo
César; 2- Queimadas BA; 3- Túmulos dos cangaceiros Moreno e Durvinha em MG; 4-
Cangaceiro Antônio Silvino; 5- Pesquisadora Sulamita Buriti; 6- Placa que
homenageia o soldado Adrião na Grota do Angico SE; - 7- Cruz de Antônio
Ferreira, Fazenda Poço do Ferro, Ibimirim PE.
https://www.facebook.com/groups/lampiaocangacoenordeste/
http://blogdomendesemendews.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário