Lampião era um
gênio, doutor dos sertões e mestre das caatingas, ele conhecia inúmeras ervas,
folhas, sementes, frutos, caules e raízes que eram aproveitados para serem
usados para curar e cicatrizar ferimentos, lesões, entorses, e ainda amenizar a
dores de seus cabras, dentes, barriga, rins bexiga, febre e diversos tipos de
infecções, além de combater também peçonhas de repteis, aracnídeos e inúmeros
tipos de insetos.
O Rei do Cangaço fazia até parto das cangaceiras no meio ao
mato, ele também suturava cortes na pele e lesões por tiro ou facada. Virgulino
era um verdadeiro médico, os métodos eram os mais primitivos, mas ele dava
sempre um jeito e resolvia o caso. O que o Capitão Cangaceiro temia ouvir dos
seus cabras quando chegava com um ferido à bala ou a faca era: Capitão! Fedeu a
bosta! Ah! Daí Lampião já balançava a cabeça e se benzia fazendo o sinal da
cruz porque sabia que o cabra estava condenado a morte, e ele nada podia fazer.
Dizem que uma vez Lampião chegou com seu bando em uma fazenda e pediu ao
proprietário abrigo e comida pra pernoitar até de manhã, o dono mandou matar
dois cabritos e cozinhar um caldeirão de feijão e macaxeiras para a cabroeira
se alimentar. Depois de saciados cada um procurou um canto para descansar e
dormir. A lua brilhava alta no céu, a urutau com seu canto soturno enchia as
caatingas de pavor, enquanto a mortalha negrejava solitária nos galhos de uma
braúna. Lampião sentou-se com o dono da fazenda em um banco na varanda e pegou
a prosear, a conversa tava boa quando o Rei do Cangaço ouviu de dento da casa
pela janela, um profundo gemido de dor, no átimo Virgulino já perguntou o que
estava sucedendo.
O fazendeiro disse ao Capitão que era seu filho de treze anos
que pegou uma infecção no estômago e estava desenganado pelos médicos de
Juazeiro, e assim trouxe o pobre menino pra morrer em casa. Lampião perguntou o
que o menino sentia, e pediu ao proprietário para vê-lo e sob a luz de uma
lamparina o Rei do Cangaço observou o pobre infeliz. Meu senhor, pegue essa
lamparina e vamos comigo dar uma volta nas caatingas! Atônito o homem sem saber
o intento do chefe cangaceiro o acompanhou calado.
Lampião colheu algumas ervas
e casca de pau, depois votou à casa da fazenda, e logo misturou os ingredientes
esmagou e fez um chá bem quente e deu uma canecada para o menino beber. Assim
foi feito, e Lampião acendeu um cigarro de palha e continuou a prosear com o
velho no mesmo lugar. Quando se despediram para irem dormir, já era duas horas
da manhã, o menino começou a tossir e vomitar, depois começou a suar frio e
desmaiou.
Lampião disse aos familiares da casa: Se tiver algum cristão aqui
comece a rezar pra Virgem Maria, que o menino esta melhorando nisso a mãe que
estava aflita e em prantos se acalmou ouvindo o pedido daquele bandido. E todos
foram dormir, exceto a genitora e o pai da prole enferma. Quando o galo cantou
ás seis da manhã, o menino estava sentado na cama tomando um copo de leite de
cabra. Lampião e seus cabras se despediram do proprietário e os demais e foram
embora, mas ao virar a curva da estrada o Rei do Cangaço ainda contemplou o
menino que da janela de seu quarto acenava a Lampião, que acenando também sumiu
embrenhando-se caatinga adentro seguindo rumo ignorado.
Cabo Francisco
Carlos Jorge de Oliveira. CABO PMPR RR
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