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quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

“CANGAÇO” HISTORIAS QUE O POVO CONTAM.


Lampião era um gênio, doutor dos sertões e mestre das caatingas, ele conhecia inúmeras ervas, folhas, sementes, frutos, caules e raízes que eram aproveitados para serem usados para curar e cicatrizar ferimentos, lesões, entorses, e ainda amenizar a dores de seus cabras, dentes, barriga, rins bexiga, febre e diversos tipos de infecções, além de combater também peçonhas de repteis, aracnídeos e inúmeros tipos de insetos. 


O Rei do Cangaço fazia até parto das cangaceiras no meio ao mato, ele também suturava cortes na pele e lesões por tiro ou facada. Virgulino era um verdadeiro médico, os métodos eram os mais primitivos, mas ele dava sempre um jeito e resolvia o caso. O que o Capitão Cangaceiro temia ouvir dos seus cabras quando chegava com um ferido à bala ou a faca era: Capitão! Fedeu a bosta! Ah! Daí Lampião já balançava a cabeça e se benzia fazendo o sinal da cruz porque sabia que o cabra estava condenado a morte, e ele nada podia fazer. 


Dizem que uma vez Lampião chegou com seu bando em uma fazenda e pediu ao proprietário abrigo e comida pra pernoitar até de manhã, o dono mandou matar dois cabritos e cozinhar um caldeirão de feijão e macaxeiras para a cabroeira se alimentar. Depois de saciados cada um procurou um canto para descansar e dormir. A lua brilhava alta no céu, a urutau com seu canto soturno enchia as caatingas de pavor, enquanto a mortalha negrejava solitária nos galhos de uma braúna. Lampião sentou-se com o dono da fazenda em um banco na varanda e pegou a prosear, a conversa tava boa quando o Rei do Cangaço ouviu de dento da casa pela janela, um profundo gemido de dor, no átimo Virgulino já perguntou o que estava sucedendo. 


O fazendeiro disse ao Capitão que era seu filho de treze anos que pegou uma infecção no estômago e estava desenganado pelos médicos de Juazeiro, e assim trouxe o pobre menino pra morrer em casa. Lampião perguntou o que o menino sentia, e pediu ao proprietário para vê-lo e sob a luz de uma lamparina o Rei do Cangaço observou o pobre infeliz. Meu senhor, pegue essa lamparina e vamos comigo dar uma volta nas caatingas! Atônito o homem sem saber o intento do chefe cangaceiro o acompanhou calado. 


Lampião colheu algumas ervas e casca de pau, depois votou à casa da fazenda, e logo misturou os ingredientes esmagou e fez um chá bem quente e deu uma canecada para o menino beber. Assim foi feito, e Lampião acendeu um cigarro de palha e continuou a prosear com o velho no mesmo lugar. Quando se despediram para irem dormir, já era duas horas da manhã, o menino começou a tossir e vomitar, depois começou a suar frio e desmaiou. 


Lampião disse aos familiares da casa: Se tiver algum cristão aqui comece a rezar pra Virgem Maria, que o menino esta melhorando nisso a mãe que estava aflita e em prantos se acalmou ouvindo o pedido daquele bandido. E todos foram dormir, exceto a genitora e o pai da prole enferma. Quando o galo cantou ás seis da manhã, o menino estava sentado na cama tomando um copo de leite de cabra. Lampião e seus cabras se despediram do proprietário e os demais e foram embora, mas ao virar a curva da estrada o Rei do Cangaço ainda contemplou o menino que da janela de seu quarto acenava a Lampião, que acenando também sumiu embrenhando-se caatinga adentro seguindo rumo ignorado.

Cabo Francisco Carlos Jorge de Oliveira. CABO PMPR RR

https://www.facebook.com/groups/lampiaocangacoenordeste/

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