Do acervo do Guilherme Velame Wenzinger
Ao contrário do que muitos pensam, Cristino Gomes da Silva Cleto, o Corisco, não entrou para o bando apenas após a passagem do grupo para a Bahia em Agosto de 1928. Este momento marcou o RETORNO dele para o cangaço. Em 1924 Cristino participa de uma sublevação no exército, revolta contra o tenente Maynard. O mesmo foge junto com outros militares e busca refúgio com a família em Pedra de Delmiro, no entanto, uma precatória fora expedida pedindo a sua prisão. Caiu no mundo e foi parar em Lagoa do Monteiro na Paraíba, lá encontrou trabalho e continuou levando sua vida normal. Em uma sexta-feira, num forró local, Cristino chamou uma moça para dançar duas vezes e a mesma recusou, um rapaz que estava no local achou o ato ofensivo e deferiu alguns tapas em Cristino, este, que com toda a valentia de um sertanejo e não podendo acreditar no que aconteceu, foi até a casa do seu patrão, pegou um rifle, voltou ao ambiente e matou o homem, na correria conseguiu fugir e se encontrou com seu patrão, sendo recomendado pelo homem que ele se entregasse a polícia. O homem louro aceitou a recomendação, entregou-se e foi preso, posteriormente recebeu uma condenação de 15 anos, nesta época era entendimento que todo homem que recebesse pena maior do que 15 anos fosse morto. Ficou encarcerado com mais 8 homens, um destes era o "líder", de nome "Cordonis", este famoso ladrão de cavalos. Um dia Cordonis recebe do prefeito uma cesta com alimentos, dentro havia frutas, uma talhadeira, um martelo e um bilhete com os dizeres:
"Me
compadeci da situação de vocês. O que pude fazer é isso. Vão fuzilar os presos
amanhã de madrugada."
E assim os presos
começaram a cavar um buraco na cela, omitindo o barulho cantarolando. Os presos
conseguiram êxito e começaram a fugir, um dos 9 que estavam na cela, este que
não conseguiu sair pelo buraco gritou: "Us preso tão fugino!". Dois
presos que ainda estavam dentro da cela antes de sair acabaram por matar o
delator, com pancadas de cabo de madeira e uma garrafada no pescoço. Os
soldados percebendo a fuga começaram a atirar nos criminosos em fuga mas não
conseguiu pegar nenhum deles. 10 anos depois, um dos soldados que estavam nesse
dia e era carcereiro reencontraria Corisco, mas não mais pelo lado da lei, e
sim como cabra de Virgínio, este vinto a ser o cangaceiro Serra de Fogo. Dadá
contou ao Dr. Antônio Amaury que Serra de Fogo sempre ficava desconfiado quando
encontrava-se com o bando de Corisco. Após a fuga, o ainda Cristino
perambulando pela caatinga topa sozinho com a força volante de Nego Higino, ele
se esconde e aguarda a tropa passar, depois dá alguns passos e se encontra com
dois membros da força, dois negros altos, que estavam mais para trás, estes
gritam com Cristino, o chamam de coiteiro e perguntam sobre Lampião, este
responde que não sabe de nada, sendo rebatido pelos policiais. Os dois largam
Cristino e voltam para seguir a força, a partir desse dia Corisco nutre uma
certa aversão e preconceito a negros.
No início de
1926, Cristino estava trabalhando em Vila Bela onde foi apresentado ao
fazendeiro José Carlos, dono da Fazenda Condado, onde foi chamado para
trabalhar na lavoura dando duro no cabo de enxada. Um certo dia Cristino se
desentendeu com José Carlos, pediu as contas e foi embora, pedindo abrigo na
fazenda Maxixeiro, esta de propriedade de Simplicio Pereira Maranhão e Josefina
Pereira Maranhão, esta neta do Barão do Pajeú.
O ano de 1926
continuou com algumas viagens, visitas a família e outras passagens menos
importantes para Cristino. Mas neste ano ele conheceu um fazendeiro chamado
Neco Valões que ficou muito seu amigo e estava amasiado com sua prima,
Bernardina. Neco Valões viria a ser o personagem principal do encontro de
Lampião com Corisco. Neco certo dia pediu a um coiteiro de Lampião para em
descrição marcar um encontro deles, este local foi acertado na localidade de
"Poço de Dentro". Enquanto esperava o dia da visita, o fazendeiro recebeu
a visita de algumas pessoas de Vila Bela, dentre estes, o filho do prefeito,
que acabou por reconhecer Cristino. Chamando Neco Valões para um local isolado,
este disse:
""Seu
Neco, o meu pai recebeu uma precatória para a prisão desse moço. É caso doloroso,
eu sei. Ele vai ser morto, não é nem pra chegar na cadeia."
Neco Valões
viu a precatória e foi avisar a Corisco sobre o ocorrido, e assim o propõe:
"Você vai ter que sair daqui. Só vejo um jeito de escapar. Quer ir para
onde está Lampião?"
Sob a ameaça
de morte e vendo que não tem o que fazer, Cristino responde: "Eu vô".
Dias depois
Neco foi ao encontro de Lampião no dia marcado e contou a situação do rapaz,
pedindo para Lampião que o aceitasse no grupo. O Rei do Cangaço marcou a
entrada de Cristino nas proximidades da vila de Santa Maria, no povoado
"São Francisco. Era 24 de agosto de 1926 quando no ponto marcado Neco
Valões se despediu de Lampião e Cristino, este que agora faria parte de seu
bando. Lampião gostou do que viu do novo "cabra", jovem aloirado,
alto, forte. No mesmo dia Virgulino entregou Cristino aos cuidados de um
afamado cangaceiro, o José Leite de Santana, vulgo Jararaca, este disse ao
chefe que se encarregaria dos cuidados e de dar um nome de guerra ao novo
cangaceiro. No dia 26 de Agosto de 1926 o bando saiu em direção a fazenda
Tapera, o atacado era Manoel Gilo, o bando cercou a casa e o "pau
quebrou", Manoel Gilo estava acompanhado de apenas mais 4 homens dentro da
casa. Depois de horas de intenso tiroteio e apenas Manoel Gilo resistindo o
mesmo é preso pelos cangaceiros e levado até a presença de Lampião, que acaba
por ser morto pelo cangaceiro Horácio Grande(esta morte de Gilo pode ser
explorado pesquisando no google por "Massacre da família Gilo").
Depois do combate, Jararaca tendo reparado no rápido manejo de Cristino com o
"papo amarelo", vendo as chamas amarelas do cano como
"relâmpagos", vendo que a rapidez do rapaz era como um raio, sim, um
raio, mas este nome não ficaria bom. O moço loiro atira e rola no aceso da
luta: Corisco. E assim foi batizado e nasceu o cangaceiro Corisco, o Diabo
Loiro, um dos mais afamados cangaceiros da história do Nordeste.
Informações
retiradas do livro "Gente de Lampião - Dadá e Corisco" do Dr. Antônio
Amaury. Vale ressaltar que nem tudo são transcrições, mas sim descrito com
minhas palavras acerca daquilo que está no livro. Terá continuação.
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