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quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

NA TRILHA DO CANGAÇO

Segredos de esconderijos - Diário de Pernambuco
 

Pesquisador Antonio Vilela de Souza afirma que Lampião tinha no Agreste pernambucano um local seguro. Em uma antiga casa-grande, cangaceiros podiam descansar antes de um próximo ataque.


Antonio Vilela e Belízia Canuto de Souza

O casarão de paredes grossas ainda conserva, na sua base, a senzala onde os negros eram recolhidos depois de mais um dia de trabalho. Antiga casa-grande da Fazenda Nova, em Águas Belas (a 273 quilômetros do Recife), o sobrado do Riacho Fundo foi, aos poucos, abandonado em troca do conforto de uma sede, situada às margens da BR-423. Para se chegar até lá, é preciso autorização dos proprietários e disposição para percorrer, a pé ou a cavalo, cinco quilômetros de uma estrada íngreme e deserta. Se hoje é um esconderijo perfeito, na época do cangaço era um dos coitos preferidos de Lampião quando se deslocava pelo Agreste pernambucano.

Na propriedade do coronel Audálio Tenório, chefe político da região, os cangaceiros podiam descansar em um abrigo que tinha cinco quartos, duas salas, uma grande cozinha e que permitia ainda uma visão total de seu entorno. Mas a volante nunca passou por aquelas bandas. O coronel foi considerado um dos grandes coiteiros de Lampião em Pernambuco e responsável, segundo alguns pesquisadores, pelo contato entre

Virgulino e o libanês Benjamin Abrahão que resultou nas imagens registradas em 1936. O vaqueiro Manoel Oliveira dos Santos, 52 anos, conta que ouviu histórias de que havia ouro enterrado perto da casa. "Mas chegar até é aqui judiativo, tem gente que desiste no meio do caminho". Outro coronel que também deu guarida para Lampião em Pernambuco foi José Abílio, de Bom Conselho.
Mesmo atuando preferencialmente no entorno do Rio São Francisco, entre Bahia, Sergipe e Alagoas, Lampião não deixou de fazer suas andanças em seu estado natal. Tanto que, em 20 de junho de 1935,
Maria Bonita acabou baleada durante um ataque à vila de Serrinha, na serra do Catimbau, na época pertencente a Garanhuns. Avisado de que os cangaceiros estavam chegando, o comerciante e comissário João Caxeado montou a defesa com dois soldados e alguns civis. No tiroteio, Maria Bonita foi atingida nas costas e um cachorro do bando foi atingido pelos tiros e morreu. Feirantes foram obrigados a transportar a ferida, como reféns temporários.
"Há duas versões para a entrada dos cangaceiros, uma de que Lampião veio cobrar dez contos de réis de um homem chamado Chiquito e a outra é de que ele pretendia fazer um baile. Assim como Mossoró, Serrinha expulsou o bandido mais temido do Nordeste, mas não tira proveito deste fato histórico como a cidade potiguar", afirma o professor e historiador Antonio Vilela de Souza, 53 anos, autor de O incrível mundo do cangaço. Há uma década que ele, a partir de sua base em Garanhuns, parte em viagens para entrevistar remanescentes do cangaço e conhecer locais onde ocorreram os principais acontecimentos envolvendo os bandos de Lampião.
Integrante da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço (SBEC), Antonio Vilela de Sousa condensou, em sua obra, as curiosidades envolvendo o fenômeno do banditismo no Nordeste, como a existência de pelo menos 24 casais entre os grupos ligados a Lampião. Sobre a mulher no cangaço, Vilela cita a opinião de
Balão, um dos bandidos contrários à presença feminina. "Ele acreditava que a mulher não tinha resistência física e atrapalhava o homem. A prática de relações sexuais deixaria o cangaceiro de corpo aberto", conta.
"A história do cangaço é rica em detalhes", considera Vilela, que passou a se interessar pelo assunto ainda criança, ao ouvir as histórias de uma vizinha sobre os feitos de Lampião. Ela prepara um novo livro, com mais detalhes sobre a passagem de Lampião em Pernambuco. Outro tema que despertou o interesse do garanhuense foi o pouco interesse dado à morte de
Adrião, o único soldado que tombou no ataque a Angicos, que terminou com a trajetória de crimes de Lampião, Maria Bonita e outros nove cangaceiros.
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