Autor: José Augusto Araújo da Silva
CARTA A ANTÔNIO FRANCISCO
Dia tal do ano tal,
Mês do nosso carnaval,
Bairro do Abolição
Vizinho do Redenção.
– Meu caro, Antônio Francisco,
Daqui vai esse rabisco
Isso para lhe chamar
Para você nos dizer
O que se deve fazer
Co’as fendas desse lugar.
Não queria amigo não
Por nada nem um tostão
Dessa vez lhe incomodar,
Mas não podemos calar
Nem deixar de novo o povo
Dormir no ponto de novo
Nesse mundão de buraco,
Ficar nessa quarentena
Penar até fazer pena
E não suar nem sovaco.
“Não vou falar do prefeito”
Que leva tudo de eito
Pra não lhe aborrecer,
Também não vou lhe dizer
Que aqui pode afundar
“Para não lhe aperrear”.
E quem está aqui co’a gente
É o poeta Concriz
Com pá, enxada e verniz,
Coco rimado e repente.
Avisando que deixou
De ser poeta e botou
Uma pequena bodega,
Mas isso só lhe deu prega.
Agora está decidido,
E de rosto destemido
Pra mostrar como se tapa
Cada buraco daqui
Sem colocar rififi,
Farinha seca e garapa.
Talvez, Antônio Francisco
Nem por um novo disco
De Eliseu Ventania
O povo acreditaria
No que eu vou dizer agora;
Não é papo de caipora
Nem conversa de menino
É a mais pura verdade...
E perante a sua idade
Eu digo, firmo e assino.
Pois quem me disse não mente,
Não aumenta nem desmente
Que ouviu um carro dizer,
Uma moto responder
Como pisa sem vontade
No piso dessa cidade.
E também ouviu falar
Uma Calói magricela,
Um carroção sem biela;
Loucos para reclamar.
Assim o carro dizia:
– Não suporto essa agonia
Já estou de pneu rachado,
Amortecedor cansado
Batendo feito chocalho
E de vez em quando eu falho.
De tanto pular buraco
Já ando me arrastando
Quase sem voz e comando
Tossindo e de motor fraco.
Perdi balanceamento,
Ando sem alinhamento,
Meu freio vive estressado,
Meu toca-fitas quebrado,
Direção sem direção
Rodando feito um pião.
E Digo pros meus pistões
Cada buraco que eu vejo
Faço careta e despejo
Um palmo de palavrões.
A moto piscou o farol,
Rodou igual caracol
E disse para os ouvintes:
– Eu não gosto de requintes
Enfrento qualquer caminho,
Passo por cima de espinho,
Subo serra, desço serra,
Desbravo qualquer terreno.
Mas, amigos eu condeno
Os buracos dessa terra.
Já passei em muitos cantos
Por cima de fendas, mantos,
Mas digo, eu nunca passei
Se passei não reparei
Tantos buracos e emendas
No tanto de tantas fendas
Que corta vila por vila
Dessa terra que se cala,
Cala e não desacasala
Dos chefes que lhe mutila.
E quando a moto parou
Deu um pinote e levantou
Dizendo pra bicicleta:
– Diga agora sua meta
Que o carroção também
É mais um “alguém” que tem
Razão para reclamar
E está doido pra dizer
O que se pode fazer
Pra ajeitar nosso lugar.
Mas quando o carroção quis,
Quis falar, gritou Concriz:
– Olha lá quem vem ali
Pulando feito saci,
Com “Meu Martelo”, Crispin,
Luiz Campos de cetim,
Marcelo Morais pintando.
Logo atrás Zé Ribamar
E com ele Ademar
Duelando e declamando.
Aldaci, Gustavo Luz,
Um no meio de capuz
Que não quer mostrar a cara.
Toinho de Zezé para,
E Nildo da Pedra Branca
Diz com sua fala franca:
– Nós vamos já consertar
Co’a força de Laurentino,
Nilson Silva e Severino
Os rombos desse lugar.
Nisso chegou Dona Nira,
Com tudo na sua mira
Como sempre organizando,
Por Antônio perguntando
E Demirto respondendo:
– Nira, é mesmo que eu tá vendo
Antônio só deve estar
Juntando gente e mais gente
Pra vi pra esse batente
E essa terra costurar.
Quando Demirto findou
Dona Nira nos mostrou:
– Lá vem Antônio ali
Igualzinho um colibri
Batendo asas e voando
Declamando e recitando
Dizendo: – Vamos lá gente!
Começar por essa rua
Fazendo ali meia-lua
E seguindo essa tangente.
Mas antes de colocar
Qualquer coisa e espalhar,
Na base de cada fenda
Vamos pontilhar de renda,
Lenda, conto e fantasia.
Pandeiro pra melodia,
O canto do menestrel,
Alma pra nossa cultura,
Letras pra nossa leitura
E uma acorda, Cordel.
Talvez as fendas tapando
E mais a gente cobrando
Do governante a decência,
Da nação a consciência
Encurtamos o caminho
E salvamos nosso ninho.
Talvez a democracia,
Respire e diga de novo:
Só assim nosso povo
Vive mais cidadania.
Dia tal do ano tal,
Mês do nosso carnaval,
Bairro do Abolição
Vizinho do Redenção.
– Meu caro, Antônio Francisco,
Daqui vai esse rabisco
Isso para lhe chamar
Para você nos dizer
O que se deve fazer
Co’as fendas desse lugar.
Não queria amigo não
Por nada nem um tostão
Dessa vez lhe incomodar,
Mas não podemos calar
Nem deixar de novo o povo
Dormir no ponto de novo
Nesse mundão de buraco,
Ficar nessa quarentena
Penar até fazer pena
E não suar nem sovaco.
“Não vou falar do prefeito”
Que leva tudo de eito
Pra não lhe aborrecer,
Também não vou lhe dizer
Que aqui pode afundar
“Para não lhe aperrear”.
E quem está aqui co’a gente
É o poeta Concriz
Com pá, enxada e verniz,
Coco rimado e repente.
Avisando que deixou
De ser poeta e botou
Uma pequena bodega,
Mas isso só lhe deu prega.
Agora está decidido,
E de rosto destemido
Pra mostrar como se tapa
Cada buraco daqui
Sem colocar rififi,
Farinha seca e garapa.
Talvez, Antônio Francisco
Nem por um novo disco
De Eliseu Ventania
O povo acreditaria
No que eu vou dizer agora;
Não é papo de caipora
Nem conversa de menino
É a mais pura verdade...
E perante a sua idade
Eu digo, firmo e assino.
Pois quem me disse não mente,
Não aumenta nem desmente
Que ouviu um carro dizer,
Uma moto responder
Como pisa sem vontade
No piso dessa cidade.
E também ouviu falar
Uma Calói magricela,
Um carroção sem biela;
Loucos para reclamar.
Assim o carro dizia:
– Não suporto essa agonia
Já estou de pneu rachado,
Amortecedor cansado
Batendo feito chocalho
E de vez em quando eu falho.
De tanto pular buraco
Já ando me arrastando
Quase sem voz e comando
Tossindo e de motor fraco.
Perdi balanceamento,
Ando sem alinhamento,
Meu freio vive estressado,
Meu toca-fitas quebrado,
Direção sem direção
Rodando feito um pião.
E Digo pros meus pistões
Cada buraco que eu vejo
Faço careta e despejo
Um palmo de palavrões.
A moto piscou o farol,
Rodou igual caracol
E disse para os ouvintes:
– Eu não gosto de requintes
Enfrento qualquer caminho,
Passo por cima de espinho,
Subo serra, desço serra,
Desbravo qualquer terreno.
Mas, amigos eu condeno
Os buracos dessa terra.
Já passei em muitos cantos
Por cima de fendas, mantos,
Mas digo, eu nunca passei
Se passei não reparei
Tantos buracos e emendas
No tanto de tantas fendas
Que corta vila por vila
Dessa terra que se cala,
Cala e não desacasala
Dos chefes que lhe mutila.
E quando a moto parou
Deu um pinote e levantou
Dizendo pra bicicleta:
– Diga agora sua meta
Que o carroção também
É mais um “alguém” que tem
Razão para reclamar
E está doido pra dizer
O que se pode fazer
Pra ajeitar nosso lugar.
Mas quando o carroção quis,
Quis falar, gritou Concriz:
– Olha lá quem vem ali
Pulando feito saci,
Com “Meu Martelo”, Crispin,
Luiz Campos de cetim,
Marcelo Morais pintando.
Logo atrás Zé Ribamar
E com ele Ademar
Duelando e declamando.
Aldaci, Gustavo Luz,
Um no meio de capuz
Que não quer mostrar a cara.
Toinho de Zezé para,
E Nildo da Pedra Branca
Diz com sua fala franca:
– Nós vamos já consertar
Co’a força de Laurentino,
Nilson Silva e Severino
Os rombos desse lugar.
Nisso chegou Dona Nira,
Com tudo na sua mira
Como sempre organizando,
Por Antônio perguntando
E Demirto respondendo:
– Nira, é mesmo que eu tá vendo
Antônio só deve estar
Juntando gente e mais gente
Pra vi pra esse batente
E essa terra costurar.
Quando Demirto findou
Dona Nira nos mostrou:
– Lá vem Antônio ali
Igualzinho um colibri
Batendo asas e voando
Declamando e recitando
Dizendo: – Vamos lá gente!
Começar por essa rua
Fazendo ali meia-lua
E seguindo essa tangente.
Mas antes de colocar
Qualquer coisa e espalhar,
Na base de cada fenda
Vamos pontilhar de renda,
Lenda, conto e fantasia.
Pandeiro pra melodia,
O canto do menestrel,
Alma pra nossa cultura,
Letras pra nossa leitura
E uma acorda, Cordel.
Talvez as fendas tapando
E mais a gente cobrando
Do governante a decência,
Da nação a consciência
Encurtamos o caminho
E salvamos nosso ninho.
Talvez a democracia,
Respire e diga de novo:
Só assim nosso povo
Vive mais cidadania.
Fim
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