Por: Juarez Conrado
O outro caso de que tem notícia aconteceu nos arredores do município de Frei Paulo. Em uma das costumeiras viagens de Zé Baiano à sede do município, Lídia, sua mulher, cabocla formosa e de corpo muito bonito, foi flagrada em pleno adultério por Coqueiro, cangaceiro que, havia muito tempo, tentava conquistá-la.
Desconfiado de suas ligações com Bentevi, um dos comandados do sanguinário matador, sempre cercava o coito de Lídia com a esperança de encontrá-la traindo Zé Baiano.
O cangaceiro Zé Baiano
Passou a vigiá-la com mais frequência e viu confirmada as suas suspeitas: Lídia e Bentevi entraram sorrateiramente no mato e, sobre uma moita de capim brabo, iniciaram o ato sexual, sendo surpreendidos pelo perigoso indivíduo, que, para alcançar seu objetivo, tentou chantagear a jovem e bela mulata: ou satisfazia seus desejos ou Zé Baiano seria informado de sua infidelidade.
Lídia, entretanto não aceitou.
Correndo, entrou em sua tolda, onde permaneceu calada, imaginando o que iria lhe acontecer. Coqueiro, sem controlar seus bestiais instintos, continuava rondando o esconderijo. Cada vez mais, entretanto, perdia as esperanças de conseguir o que desejava, passando a alimentar o propósito de vingar-se da infiel mulher.
Se ela estava formicando com Bentevi, por que se negava a atendê-lo?
Ao retornar ao acampamento, tal como Coqueiro havia ameaçado, Zé Baiano foi informado, de maneira detalhada e em tom sarcástico, que “mesmo valente como era, não passava de um corno”.
O famigerado bandido estremeceu, querendo saber que história era aquela. Coqueiro não apenas confirmou como falou das suas desconfianças e a maneira como procedeu para vê-las confirmadas.
Inquirida pelo temível cangaceiro, quando arrastada para fora de sua tolda, se era verdade o que acabara de ouvir, Lídia confirmou o fato, mas fazendo outra revelação igualmente grave. “É verdade, sim. Tudo é verdade”, disse Lídia ao companheiro. Mas, sem deixar que ele lhe cortasse a palavra, acrescentou: “Já disse que é verdade, mais ele não falou que está lhe contando tudo porque também queria me comer e eu não quis nada com este negro imundo fedorento”, denunciou.
Um estampido, seguido da queda de Coqueiro, foi ouvido. O tiro, contudo, não partira da arma de Zé Baiano. Lampião, que a tudo assistia, sinalizou para
Gato, que imediatamente atirou na cabeça do cangaceiro. Por ironia do destino, Coqueiro caiu morto nos pés de Lídia.
Mas, sabendo-se perdida, a mulher de Zé Baiano dirigiu dramáticos apelos às companheiras, no sentido de contornarem a situação.
Só Maria Bonita, porém, tentou salvá-la, sendo repreendida por Lampião. Em alta voz – o que jamais fazia com a baiana de Paulo Afonso – disse que o problema era de Zé Baiano. A parte que lhe cabia fazer, já tinha feito: mandou matar o chantagista. (No caso, Coqueiro).
Zé Baiano, levando a companheira pelo braço, arrastou-a com um misto de ódio, humilhação e vergonha. Decepcionado com a infidelidade de Lídia, em quem confiava plenamente, matou-a a pauladas, deixando-a com as feições inteiramente deformadas, tal a violência dos golpes que nela aplicou.
Em seguida, cavou um buraco onde jogou o corpo da mulher, e só então, aparentando muita tristeza, pois era notório o seu amor por Lídia, recolheu-se ao esconderijo, para encobrir o desespero.
Extraído do livro:
"Lampião Assaltos e Morte em Sergipe"
Publicado em Aracaju - Sergipe
Ano de publicação: 2010
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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