Por: João de Sousa Lima
Lendo a
revista Aventuras na História, edição 118, de maio de 2013, com o título: “Amor
e Morte no Cangaço”, texto do jornalista Rodrigo Cavalcante, encontrei algumas
falhas nas informações e proponho uma análise do jornalista para uma futura
correção.
No inicio do texto falando do nome de Lampião, fala-se Virgulino e o nome certo
é Virgolino (com O). Mais abaixo falando do local onde morreu Lampião fala-se
Grota de Angico e o nome certo é Grota “do” Angico. Seguindo o texto Rodrigo diz
que na Grota Lampião viveria longos 12 anos e a verdade é que aquele dia da sua
morte era a segunda vez que Lampião e seu grupo havia ido lá. Ainda na
seqüência do texto o jornalista diz que na Grota Lampião teve tempo suficiente
para se apaixonar, viver e morrer ao lado da baiana Maria Gomes de Freire.
Primeiro o nome de Maria Bonita é Maria Gomes de Oliveira e não existe esse
sobrenome Freire. Também não foi na Grota que Lampião se apaixonou e viveu com
Maria Bonita. Eles se conheceram no povoado Malhada da Caiçara, em Paulo
Afonso, Bahia. De Paulo Afonso à Grota do Angico temo no mínimo uns 50
quilômetros de distância e ainda o Rio São Francisco dividindo os dois estados,
Bahia e Sergipe.
Quando Rodrigo cita o escritor Euclides da Cunha, que escreveu o livro “Os Sertões”,
se referindo ao texto racista que chama o sertanejo de sub-raça, o jornalista
recai no mesmo erro de Euclides por não ter feito uma análise da frase para o
pensamento atual, pois não existe sub-raça, existe a raça humana e somos todos
descendentes de uma única ramificação. O que diferenciou o sertanejo por muitos
anos do resto do povo brasileiro foi a falta de políticas públicas, assistência
dos governantes do país que levavam os recursos e as tecnologias para o sul e
sudeste, além da região ser castigada por uma quase permanente seca os recursos
governamentais não se fizeram presentes nessa terra como apoio direto. Sofremos
com a alta taxa de mortalidade infantil, tivemos precárias instituições
educacionais, ausência de postos, agentes de saúde e médicos. Vivemos muito
tempo marcados pelo estigma da violência, da fome, da sede e das injustiças.
Hoje o quadro ainda necessita de reparos, porém vivemos em um país mais
justo. Temos problemas ainda, mais estamos interligados com o mundo através da
tecnologia que uniu o mundo, com os avanços nas áreas sociais, na moda, na
produção artística, comercial e industrial. Não somos mais “nação” de homens
iletrados, não vivemos do arco e da flecha, somos parte desse mundo, somos raça
humana.
Rodrigo falando do Sertão, das fronteiras do nordeste, diz que a cidade de
Paulo Afonso faz fronteira com alguns estados e entre eles com a Paraíba. Faz
fronteira com Pernambuco, Sergipe e Alagoas, aonde se chega com poucos minutos
de viagem, o estado paraibano está há muitos quilômetros de distância. Seguindo
Rodrigo diz que Lampião se engraçou por Maria “Da Déia” e na verdade o apelido
correto é Maria “De Déia”. Quando o jornalista cita o nome do ex-marido de
Maria Bonita ele o chama de Zé Nenê e o nome certo é Zé De Nenê.
Falando do primeiro encontro entre Lampião e Maria Bonita Rodrigo diz que o
cangaceiro deixou 15 lenços para Maria bordar com seu nome. Na verdade não se
tem essa quantidade em nenhum dos depoimentos deixados por quem presenciou a
cena. Antônia Gomes de Oliveira, irmã de Maria Bonita, foi uma das
que se encarregaram dos bordados e nunca citou essa quantidade de lenços, em
todos os seus informes ela sempre dizia: ...”Alguns Lenços”!
Na página 32 Rodrigo faz uma análise sobre as vestimentas dos cangaceiros.
Citando o chapéu ele diz que tinha a aba da frente levantada e na verdade as
duas abas são levantadas. Na apreciação número 6 falando da jabiraca, que
é o lenço que os cangaceiros e cangaceiras usavam, o jornalista coloca a
palavra cartucho e nunca ouvi nenhum depoimento que na jabiraca iam cartuchos,
os cartuchos iam nas cartucheiras e ainda em bornais e também nunca ouvi
nenhum remanescente ou pesquisador afirmar que a jabiraca servia de coador. A
jabiraca era uma peça de enfeite dos cangaceiros e era fechada ao pescoço por
grossas alianças e anéis de ouro. No item 10 Rodrigo diz que Maria Bonita tinha
uma luva com as inicias M.O.S.- Maria Oliveira da Silva. No início do capítulo
Rodrigo tinha dito que o nome de Maria Bonita era Maria Gomes de Freire, por
duas vezes ele errou o nome de Maria Bonita, o verdadeiro nome dela é Maria
Gomes de Oliveira.
Quando o repórter fala do cangaceiro Vinte e Cinco diz que o verdadeiro nome
dele é José Alves de Barros e na verdade é José Alves de Matos. Ele ainda
encontra-se vivo e lúcido e pode tirar essa dúvida, já estive por diversas
vezes com ele em Maceió e além de ser uma pessoa luzente conta a história
em seus detalhes.
Discorrendo sobre o armamento usado pelas mulheres no cangaço o jornalista diz
que elas usavam revólveres 28 e 32. Eu nunca ouvi falar desse calibre 28 em
revólver. O mais provável seria 38.
Na página 36 Rodrigo incorre novamente no erro de falar Grota de Angico e o
certo é Grota “DO” Angico. Seguindo ele chama o coiteiro Pedro Cândido e
na verdade é Pedro de Cândido, como foi vinculado nos noticiários da época e
que como se dirigem os amigos de Pedro sempre que ele é lembrado. Alguns
parentes do Pedro afirmam que seria Pedro de Cândida, pois Cândida seria a mãe
do coiteiro.
Se referindo as mortes na Grota do Angico o repórter fala que foram onde
pessoas e na verdade foram 12 os mortos daquele dia 28 de julho de 1938.
Morreram 11 cangaceiros, sendo 09 homens e 02 mulheres e um soldado chamado
Adrião Pedro de Souza.
Narrando sobre
as cabeças Rodrigo diz que elas permaneceram no Instituto Nina Rodrigues até
1962 quando foram enterradas e na verdade as cabeças foram enterradas em
1969, mais precisamente no dia 06 de fevereiro.
O repórter diz que Corisco foi morto quando estava se preparando para se
entregar, aproveitamento a Lei de anistia promulgada por Getúlio Vargas. Nunca
passou pela cabeça de Corisco se entregar, ele estava em fuga com sua
companheira Dadá, próximo a Barra do Mendes e foi seguido e cercado pela
volante do tenente Zé Rufino. Não houve troca de tiros por que Corisco estava
aleijado dos dois braços em decorrência de um tiro sofrido em um dos combates
acontecidos em Sergipe. O intuito do tenente Zé Rufino foi de se apoderar do
dinheiro e das jóias em ouro que o casal transportava na fuga.
Paulo Afonso
08 de maio de 2013
João de Sousa
Lima
Historiador e
Escritor
Membro da
ALPA- Academia de Letras de Paulo Afonso.
Membro do
GECC- Grupo de Estudos do Cangaço do Ceará.
Biógrafo de
Maria Bonita.
Autor de 10
livros dos quais seis sobre o cangaço.
Enviado pelo o autor do texto: João de Sousa Lima
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
João tem autoridade pra escrever e informar os equívocos cometidos na matéria. Com classe e comedido, João faz as suas colocações. Parabéns pelos comentários.
ResponderExcluirKydelmir Dantas
Mossoró - RN