Macabro cortejo das cabeças cortadas
Não apenas a população de Piranhas, mas das cidades circunvizinhas, de
um e de outro lado do São Francisco, acorreram para ver as cabeças decepadas
dos cangaceiros. As cabeças foram
oficialmente reconhecidas e o registro foi feito em livro próprio, no Cartório
de Registro Civil da Cidade, como um documento valioso. Um caminhão fretado
levou as cabeças para Santana do Ipanema e dois outros caminhões levaram a
soldadesca que formava um tétrico cortejo ao tempo em que faziam a segurança do
macabro empreendimento. Passaram em várias cidades da região sob a curiosidade
do povo.
Relata-se que em Pedra, a usina local fechou as portas para que os operários pudessem assistir ao tenebroso desfile das cabeças cortadas. Grunspan ressalta que “as cabeças de Lampião e seus companheiros foram levadas de cidade em cidade, de vilarejo em vilarejo, numa espécie de procissão macabra em que se mesclavam tradições solenes e manifestações de júbilo popular, o sagrado e o profano. O transporte das cabeças ao som de uma fanfarra, se fez como nas procissões de sexta-feira santa; as cabeças eram exibidas e o povo seguia o cortejo, parando como nas estações da via-sacra. A Lampião, aquele que substituía o padre, respondeu com um simulacro de rito sagrado”.
Relata-se que em Pedra, a usina local fechou as portas para que os operários pudessem assistir ao tenebroso desfile das cabeças cortadas. Grunspan ressalta que “as cabeças de Lampião e seus companheiros foram levadas de cidade em cidade, de vilarejo em vilarejo, numa espécie de procissão macabra em que se mesclavam tradições solenes e manifestações de júbilo popular, o sagrado e o profano. O transporte das cabeças ao som de uma fanfarra, se fez como nas procissões de sexta-feira santa; as cabeças eram exibidas e o povo seguia o cortejo, parando como nas estações da via-sacra. A Lampião, aquele que substituía o padre, respondeu com um simulacro de rito sagrado”.
Antônio Amaury Corrêa, um dos mais importantes pesquisadores sobre vida
e morte de Lampião, registra que “todos os cangaceiros mortos tiveram suas
cabeças decepadas e esses macabros troféus foram levados em cortejo triunfal e
exibidos em várias cidades de Alagoas até chegarem à capital, Maceió.
Mais tarde, a cabeça de Lampião e a de Maria Bonita foram transferidas para o Instituto Nina Rodrigues, em Salvador, capital do Estado da Bahia, onde Lampião andou fazendo também estripulias. Ali permaneceram até 1969, ano em que foram enterradas no Cemitério de Quintas, depois de uma longa história de protestos por parte de jornalistas e advogados, que cobraram das autoridades um maior respeito pelos mortos”.
Diante de todo o abuso que se cometeu com os corpos dos cangaceiros e o desrespeito que se seguiu à memória deles e de suas famílias, as quais nada tinham com o trágico destino de banditismo dos bandoleiros, vale ressaltar a palavra de um magistrado.
Mais tarde, a cabeça de Lampião e a de Maria Bonita foram transferidas para o Instituto Nina Rodrigues, em Salvador, capital do Estado da Bahia, onde Lampião andou fazendo também estripulias. Ali permaneceram até 1969, ano em que foram enterradas no Cemitério de Quintas, depois de uma longa história de protestos por parte de jornalistas e advogados, que cobraram das autoridades um maior respeito pelos mortos”.
Diante de todo o abuso que se cometeu com os corpos dos cangaceiros e o desrespeito que se seguiu à memória deles e de suas famílias, as quais nada tinham com o trágico destino de banditismo dos bandoleiros, vale ressaltar a palavra de um magistrado.
O doutor Sérgio Augusto de Souza, juiz de Direito e pesquisador da
história do cangaceirismo no Nordeste, escreve:
“... é importante por em relevo que, no auge daquele período, o próprio povo parecia aprovar as ações arbitrárias da polícia, neste particular. Muitas destas cabeças que foram separadas do corpo, inclusive a do próprio Lampião, passaram décadas expostas à curiosidade popular em um museu na capital baiana. Sob pretexto de serem estudadas à luz da Antropologia e da Criminologia, e através deste se buscar as causas da criminalidade, um grupo de intelectuais, liderados pelo médico Estácio de Lima, tornou-se exponencial defensor da exposição permanente daquelas cabeças. Durante anos, ali se buscou em vão as raízes da delinquência rural. Nenhuma delas, porém, foi efetivamente estudada, como se alardeou no afâ de sustentar o frágil argumento. O que se viu na prática é que as cabeças nada mais foram do que troféus macabros, e jamais objetos de estudo. As visitas à estante macabra do Instituto Nina Rodrigues, durante anos, tornaram-se parte integrante de qualquer roteiro de viagem a Salvador”.
Finalmente, em 1969, depois de uma verdadeira cruzada de importantes jornalistas e autoridades públicas na Imprensa brasileira, eis que os corpos de Lampião e Maria Bonita receberam o descanso digno. Foram inumados pondo fi a uma série de equívocos cometidos não apenas pelas autoridades, mas também pela própria Academia, através do Instituto Nina Rodrigues.
Sérgio Augusto de Souza Dantas
“... é importante por em relevo que, no auge daquele período, o próprio povo parecia aprovar as ações arbitrárias da polícia, neste particular. Muitas destas cabeças que foram separadas do corpo, inclusive a do próprio Lampião, passaram décadas expostas à curiosidade popular em um museu na capital baiana. Sob pretexto de serem estudadas à luz da Antropologia e da Criminologia, e através deste se buscar as causas da criminalidade, um grupo de intelectuais, liderados pelo médico Estácio de Lima, tornou-se exponencial defensor da exposição permanente daquelas cabeças. Durante anos, ali se buscou em vão as raízes da delinquência rural. Nenhuma delas, porém, foi efetivamente estudada, como se alardeou no afâ de sustentar o frágil argumento. O que se viu na prática é que as cabeças nada mais foram do que troféus macabros, e jamais objetos de estudo. As visitas à estante macabra do Instituto Nina Rodrigues, durante anos, tornaram-se parte integrante de qualquer roteiro de viagem a Salvador”.
Finalmente, em 1969, depois de uma verdadeira cruzada de importantes jornalistas e autoridades públicas na Imprensa brasileira, eis que os corpos de Lampião e Maria Bonita receberam o descanso digno. Foram inumados pondo fi a uma série de equívocos cometidos não apenas pelas autoridades, mas também pela própria Academia, através do Instituto Nina Rodrigues.
Sérgio Augusto de Souza Dantas
Juiz de Direito e pesquisar da História do cangaceirismo no Nordeste.
Revista: Nordestevinteeum
Edição nº 41 Dezembro de 2012
Gentilmente cedida pelo poeta, escritor e pesquisador do cangaço Kydelmir Dantas
http://blodomendesemendes.blogspot.com
Mendes amigo: Desta feita estou encontrando matéria do Dr. Sérgio Augusto na postagem de hoje. Contudo, tanto quanto o Dr. Leandro Cardoso, os seus artigos têm feito falta para nós. Envie matérias Dr. Sérgio para o blog do companheiro Mendes, uma vez que o mesmo é muito bem lido e de uma grande variação de escritos.
ResponderExcluirAbraços,
Antonio Oliveira - Serrinha-Ba. Email: antonioj.oliveira@yahoo.com.br
E pensar que hoje os brasileiros vão assistir a exposições com corpos de chineses plastinados, e quem por acaso invoca o "respeito aos mortos" nessas ocasiões? Curioso como hodiernamente as pessoas formam suas opiniões por base em pesos e medidas distintas, igual a "justiça" brasileira, diga-se de passagem.
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