Imagem: Família de Lampião (desenho de Lauro Villares utilizando-se de antigos retratos)
“De pé, diante da sepultura do
pai, enquanto as crianças choravam, Virgulino tirou o chapéu e rezou. Tinha
perfeita consciência da real extensão do problema. Encontrava-se num caminho
sem volta.
- Pois é, meus irmão – começou a dizer, pausadamente -, vejam a qui ponto nóis
chegou. Nóis se mudamo treis veis pra fugi das intriga de nossos inimigo. E
agora mataro nosso pai, a única riqueza qui nos restava. O coitado nun tinha
nem cinquenta ano. Um home bom, sempre preocupado cum a famia. Viveu toda
a sua vida com honra, sem tê um só inimigo, e foi matado logo por quem, pela...
pu-li-ça! E na mia cabeça é cuma se fosse a puliça qui também matou nossa mãe,
coitada, apurriada cum essa vida de vai pra aqui, vai pra açula, ua mudança
atrais da outa... Ninguém suporta o qui ela suportou.
Fez uma pausa, arrumando as ideias, e anunciou a assustadora decisão:
Eu vou vingá meu pai! Home nihum nasceu pra sê pisado! Nun quero qui ninguém
bote roupa de luto! E nun adianta chorá, nóis temo é qui agi! João, cê vai levá
as criança pra Pernambuco. Cuide delas. Procure os nossos parente, os amigo de
nosso pai, o coroné Chico Martins, coroné Zezé Abílio... Tonho e Livino eu nem
progunto, purque sei qui eles vão cum eu. Mais se quisere ainda tá im tempo,
podem ir cum João, as mana e as criança. Eu pirdi a isperança de tê ua vida
norma, criá gado, tangê burro. Mia casa de hoje im vante vai sê o meu chapéu!
Até hoje, só peguei no rife pra defendê a honra de mia famia! Mais a parti
dagora vou sê cangacero! Já qui a puliça qué assim, assim vai sê! Pra me vingá
do qui fizero com a mia famia, eu vou lutá até a morte! Se eu matasse todos os
sordado do mundo, ainda era pouco!! E seu pudesse tocava fogo no Istado de
Alagoas!!"
“LAMPIÃO a Raposa das
Caatingas”, de José Bezerra Lima Irmão – pág. 102, (fulcro in obra de Billy
Jaynes Chandler, Frederico Bezerra Maciel, Vera Ferreira e Antonio Amaury
Correa e João Gomes de Lyra)
Fonte: facebook
Página: Antônio Corrêa
Sobrinho
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Caro Mendes, ótimo texto este que você extraiu da página do pesquisador Antonio Correa Sobrinho. Estão bem esclarecidas as palavras pronunciadas por Virgolino na morte do pai.
ResponderExcluirEstá de parabéns ainda a arte da pintura da foto da FAMÍLIA FERREIRA, por Lauro Villares. Apenas a foto que está ao lado de dona Jacoza, que deve ser o senhor JOSÉ FERREIRA (pai de Virgolino), não consegui fazer a leitura. É que deve ter sido uma foto via skaner, ou o grau dos meus óculos certamente perdeu a validade.
Abraços,
Antonio Oliveira - Serrinha