A reputação de
um homem é o que mantém o outro de boca aberta ou fechada, já dizia o metido a
sabichão Zeinha de Menelau. E dizia mais: Até mesmo o falador e mentiroso tem
de esconder sua língua nos dentes antes de dizer qualquer coisa sobre pessoa de
nomeada. Por mais que deseje enlamear o nome ou manchar a imagem, terá de
engolir sua vontade diante da honradez e lisura já considerada até mesmo pelos
desconhecidos. E assim porque pessoas existem que levam consigo um escudo
contra invejas e aleivosias.
Já Totinha da
Quixabeira afirmava que o nome chegando antes do homem servia pra duas coisas:
ou abrir ou fechar a porta. Ninguém pode ser bem recebido se vai trazer consigo
a fama do que não presta. Mas se a pessoa é respeitada pela sua postura ou
reconhecida pela decência, então será chamado a entrar e festejado com água de
moringa e doce de leite. E finalizava seu pensamento com um ditado que repetia
sempre como de sua lavra: Quem tem o nome sujo paga preço alto ao vento pra não
espalhar demais sua presença, ainda que longe esteja.
Interessantíssimo
era o entendimento sobre o renome defendido por Flosina das Flores, uma
prostituta que se arvorava de ser exemplo maior de reputação. Segundo ela, se
reputação significa o modo como a pessoa é percebida pela sociedade, então não
haveria lamaçal maior que o jogado sobre si, sobre sua honra, pois quase sempre
vista como desonrada pela escolha de vida. Mas por outro lado - dizia -, se a
reputação também for o reconhecimento da honestidade na conduta e da retidão
nos atos praticados, então o meu pecado se transforma em santidade e passo a
não dever nada nem ao mais íntegro dos seres humanos.
Difícil dizer
quem está com a razão, vez que o conceito de reputação nem sempre comunga com
as realidades. Com efeito, consta dos livros ser a reputação a opinião que os
outros possuem acerca de determinada pessoa; é a percepção que os outros têm
dos sujeitos, construída a partir de informações sobre o que são e o que fazem
no seu percurso de existência; é o resultado das impressões que os indivíduos
possuem sobre outros indivíduos, implicando sempre numa valorização positiva ou
negativa. Em síntese, reputação é o que o outro vê em você, ainda que seu
esforço seja descomunal para ser reconhecido como se acha merecedor.
Mas da opinião
de Flosina das Flores pode se chegar a algumas considerações importantes. Mesmo
prostituta, sem jamais negar tal condição ou esconder sua opção, ainda assim se
sentia como pessoa de reputação ilibada, sem dar motivo algum para ser vista em
contrário. E talvez sua atividade enquanto prostituta não interferisse em nada
no seu sentimento pessoal de honradez e na normalidade de sua conduta social, e
por isso mesmo pudesse ser vista como pessoa séria, respeitadora e cumpridora
de suas obrigações. Contudo, pelo simples fato de ser prostituta sua desonra já
estava patente perante a sociedade. E então?
Então se
percorre o nem sempre claro limite entre o que a pessoa realmente é e naquilo
que é transformada. São muitos os exemplos em que acusações maldosas,
insinuações infundadas e fofocas acreditadas provocam danos profundos e de
difícil reparação nos injustamente afetados. Do mesmo modo, são muitos os casos
onde as desonras são provocadas por interesses pessoais. O problema maior é
fazer com que a sociedade filtre as informações repassadas e não tenha como
verdade tudo que surge acerca dos indivíduos. Ou acreditando tenha a virtude de
se redimir a tempo e a contento. Mas nunca acontece assim.
Sobre a
reputação já disse Sócrates, o filósofo grego, que a maneira de se conseguir
boa reputação reside no esforço em ser aquilo que se deseja parecer. E esforço
grande mesmo e ainda assim com a certeza de que sua fama será uma quando de sua
presença e outra quando já tiver virado as costas. Infelizmente é assim que
costumeiramente se observa. Dificilmente a desonra e a desonestidade são
alardeadas na presença da pessoa assim havida, eis que o fingimento de
aceitação e respeito é a cal cimentadora da pocilga que se vai construindo às
escondidas. Assim que a pessoa dá as costas já se tornou na vileza em pessoa.
Atitude sempre reprovável, porém tão costumeira quanto o verdadeiro respeito
que a maioria das pessoas devota ao próximo.
Desse modo,
difícil é reconhecer até onde a reputação pode incidir mesmo sobre pessoas
tidas como exemplos maiores de conduta social, vez que nunca são reputadas como
íntegras pelo que verdadeiramente fazem, mas pelo que os outros sentem a seu
respeito. E logo se vê que não é fácil obter o justo reconhecimento num mundo
envolto de invejas, concorrências pessoais, desonestidades e mentiras
intencionalmente propagadas para macular imagens, desonrar pessoas, tornar
imprestável aquilo que é essencialmente bom. Por depender do outro, do conceito
que este cria e alardeia, mesmo o mais reputado dos homens corre o risco de
cair na desgraça por uma língua ferina.
Contudo,
pessoas existem cujas reputações são as mais deploráveis possíveis. Mas não
pelo que são pessoalmente, enquanto indivíduos, e sim pelo que socialmente
representam. O exercício de cargos e funções, bem como o status de poder e
governança, são portas abertas para que verdadeiros lamaçais lhes sejam
atribuídos. Porém nem sempre se perpetuam com tais máculas, vez que o próprio
povo tem o dom de tornar conhecida a má reputação e depois cuidar de endeusar o
enlameado. Assim ocorre na política. Depois de eleitos são tidos e havidos como
o que de pior possa existir, mas sempre são endeusados quando apenas
candidatos.
Poeta e
cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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