Por João de Sousa Lima
ELIAS VENTURA:
UM SOBREVIVENTE DA FAZENDA PATOS.
Logo após a
morte de Lampião, no dia 28 de julho de 1938, Corisco que estava sendo
aguardado pelo Rei do Cangaço, estando do outro lado do rio, em Alagoas, ouviu
o tiroteio e depois confirmou a morte do famoso cangaceiro, através de uma
fotografia das cabeças que lhe chegou às mãos através de um coiteiro que havia
ido a Piranhas saber se a notícia da morte era verdadeira. Estava confirmado:
Lampião morreu mesmo.
João de Sousa Lima e Elias Ventura
Corisco ficou arquitetando sua vingança. Por mais que sua
imaginação buscasse uma resposta, Domingos Ventura, vaqueiro da fazenda Patos,
de propriedade de Antonio Brito, Avô de Cira Brito, esposa do tenente João
Bezerra.
Cyra Britto e João Bezerra
Alguns depoimentos citam a traição confirmando ser Domingos Ventura,
pelo próprio traidor de Lampião: Joca Bernardes. O Joca teria dito a Corisco
que Domingos havia traído Lampião. Na verdade ele mesmo, o Joca, havia
denunciado que Pedro de Cândido sabia onde Lampião se encontrava acoitado.
Na fazenda
Patos o senhor Odon Ventura, filho de Domingos, era grande coiteiro de Lampião.
Sua esposa Maria da Glória havia dado a luz ao filho Elias Ventura, dia 20 de
julho de 1938 e estava com doze dias de resguardo. Corisco
chegou à fazenda dia 02 de agosto, Guilhermina, esposa de Domingos, foi fazer
café para os cangaceiros. Dadá conversava com Maria da Glória quando entrou um
cangaceiro que falou:
- O capitão
mandou buscar essas duas!
Dadá
perguntou:
- Buscar pra
quê?
- Pra matar
elas!
- Cadê
Guilhermina e Valdomira?
- Já morreram!
Dadá
levantou-se e foi aos fundos da residência. No curral de pedras deparou-se com
uma dantesca cena. Ela viu os cangaceiros matarem os inocentes.
João de Sousa Lima, Elias Ventura e Joventino
No momento foi
chegando Domingos Ventura e mais três filhos que estavam todos encourados
campeando animais. Corisco deu voz de prisão e sem resistência os cangaceiros
prenderam pai e filhos. O cangaceiro acusou Domingos de traição e por mais que
o velho dissesse que não sabia de nenhuma traição e mesmo assim foram
degolados. Os cangaceiros trouxeram Odo E José Ventura e mataram os dois
também. Mataram as mulheres Guilhermina e Valdomira.
Seu Elias sempre bem visitado
Corisco mandou
pegar Maria da Glória e Carmelita, Dadá ficou estarrecida com a matança e
ordenou:
- Quem morreu,
morreu, quem não morreu não morre mais. Essas ninguém mata!
Corisco
aceitou a ordem da esposa.
Os cangaceiros
armaram uma festa e durante toda noite dançaram ao sabor da velha cachaça,
diante de seis corpos inertes, sem cabeças, rios de sangue correndo sob as
pedras de um velho curral.
Geno, João de Sousa Lima, Elias, Joventino e Aldiro
Dia seguinte
Corisco mandou por João Crispim, as cabeças endereçadas ao tenente João
Bezerra. O prefeito João Correia Brito recebeu o macabro presente e
providenciou um enterro cristão para os inocentes.
Geno, João de Sousa Lima, Elias, Joventino e Aldiro
Maria da
Glória, sobrevivente da chacina, pegou seu bebê Elias e junto com Carmelita
deixaram aquele palco macabro e foi residir em Água branca, no povoado
Boqueirão.
Ainda hoje,
naquelas paragens, habita Elias Ventura, sobrevivente da chacina da fazenda
Patos. Homem simples, famoso vaqueiro, por tempos atravessou as caatingas,
rasgando vestes e carne à procura de animais fugidios, pisando terras ardentes,
passos que marcam na areia escaldante do nordeste suas mais tristes lembranças,
imagens manchadas com o sangue que banharam sua trajetória, turvaram de dor o
coração de uma criança que escapou a sede de vingança de uma sentença
equivocada. Inocentes feridos. Marcas que nunca saem. Eternas feridas expostas
na mais profunda caverna da alma.
Conheci Elias
Ventura, por anos procurei seu paradeiro, pude partilhar sua dor, ouvir seu
lamento, entender o silêncio que por décadas ele se escondeu.
Elias hoje tem
76 anos de idade, homem triste e ao mesmo tempo feliz com a família que constituiu
feliz com os amigos que adquiriu realizado com sua vida de campo, campeando por
longos tempos.
Eu, Genildo
Alexandre, Antônio Lira do Ó, Joventino e Aldiro, estivemos com ele.
Seu depoimento
é triste. Entre misto de dor e sorrisos, ele fala de sentimentos, da tragédia
que abalou sua vida e entre suas palavras sábias observamos seus olhos
brilharem e seus olhares se perderem na direção das
árvores farfalhantes de um dia quente e empoeirado.
Desejo que
Elias Ventura seja abençoado sempre, que a felicidade faça morada em seu
coração ferido, que sua dor seja amenizada pela promessa da justiça
Divina.
João de Sousa
lima
Historiador /
Escritor
Membro da SBEC
– Sociedade Brasileira de estudos do cangaço
Membro da
ALPA- Academia de Letras de Paulo Afonso (cadeira nº 06)
Membro do IGH-
- Instituto Geográfico e Histórico de Paulo Afonso.
Paulo Afonso
13 de outubro de 2014.
Enviado pelo autor João de Sousa Lima
Enviado pelo autor João de Sousa Lima
http://www.joaodesousalima.com/2014/10/nas-trilhas-do-cangaco-elias-ventura.html?spref=fb
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Pois é Mendes, foi este terrível fato que o nobre economista Silvio Bulhões lembra até hoje como sendo uma das piores injustiças praticadas pelo seu pai - Corisco.
ResponderExcluirAntonio Oliveira - Serrinha