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segunda-feira, 17 de novembro de 2014

A fuga de Vicente Venâncio do bando de Lampião - Parte final.

Por Antonio Morais

Momentos depois da saída de Mário de São, um dos cangaceiros, eram 46 ao todo, trouxe preso o velho Lúcio, em cuja casa Venâncio se hospedara. Levado à presença de Sabino, declarou haver mandado um menino buscar o cavalo que, segundo informação em poder do bando, era gordo, descansado e ligeiro. Sabino, ao ouvir de Lúcio a conversa da ida do menino, chamou-o de velho safado e mentiroso, dizendo-lhe ainda que fosse logo ver o animal, sob de levar umas chibatadas na cara. 

- Vamos, Seu Lúcio, ver o cavalo do homem - disse Venâncio, temendo pela sorte do amigo. 

Em companhia de um cangaceiro indicado por Sabino, seguiram os dois com a missão de trazer o animal. O local não ficava muito longe de onde o grupo se encontrava. O cabra que nos acompanhou - explica:

 - Era um tipo alto, delgado e vestia uma túnica de oficial da polícia. Ia a cavalo, enquanto nós íamos a pé. Quando subimos, a capoeira era grande. Depois vinha o carrasco. Aqui e acolá uma moita no meio da caatinga. Foi aí que me veio a ideia salvadora: Olhei para o cangaceiro e disse: - moço, além do cavalo que seu Sabino mandou ver para o capitão, existe outro mais adiante, também bom e descansado. 

- Se estiver mentindo cabra safado, eu te mato. 

Venâncio jogava a última cartada com a história de um cavalo que só existia em sua imaginação. Mas como evitar que o cangaceiro fosse até lá? Parecia impossível. Veio-lhe a vontade de segurar no cabeçote do animal do cangaceiro e derrubá-lo da sela e depois fugir. Mas o bando estava perto.

Minutos depois chegava o menino com o cavalo, comprovando que de fato, o velho Lúcio havia falado a verdade. Empolgado com a beleza do animal, após ouvir a expressão: - Este é o cavalo que o capitão preferiu, o cabra mandou Venâncio ver o cavalo imaginário, levando o outro pela corda para mostrar ao chefe. Um episódio acorrido antes da decisão do cangaceiro: Venâncio olha para o velho Lúcio e diz baixinho: 

- Seu Lúcio, eu vou fugir. Eu não volto mais aqui. Daqui não vai escapar ninguém. 

- Venâncio, não faça isso, que eles me matam. Cala a boca que o cabra vem aí.

Voltando a falar sobre a fuga, disse Venâncio: 

- Enquanto o cabra ia seguindo com o cavalo eu ia andando de costas, em sentido contrário. Vendo que ele não olhava, fui pulando de moita em moita, pois conhecia a serra como a palma da minha mão, até que alcancei o carrasco. Nem vaqueiro bom me pegava. O coração batia como se quisesse saltar. Aqui e acolá era surpreendido com barulho no mato e me escondia pensando serem os bandidos. Eram reses pastando. Às duas da tarde alcancei a estrada que demandava a Jardim. A essa altura já me encontrava a salvo do famigerado grupo. Mesmo assim me assustava com qualquer barulho. Só penetrei na estrada bem perto da cidade. O itinerário maior foi vencido dentro do mato bravo, cansado, suado, com fome e com medo. Mário de São percorreu todo comércio de jardim, e não conseguiu reunir os cinco contos de reis. Era muito dinheiro para aquela época. Apelando para familiares de Vieira que moravam próximo da cidade, completou a importância do resgate, que não foi entregue, pois, ao chegar em Caririzinho, o grupo já havia batido em retirada, depois do insucesso do cerco de Ipueiras dos Xavier. No meio do caminho, Lampião, duplamente revoltado - os cinco contos de reis não recebidos e o malogro de Ipueiras, matou perversamente o fazendeiro Pedro Vieira, que não teve, como os seus companheiros, inclusive o velho Lúcio, a sorte de escapar com vida da fúria insopitável do famoso Rei do Cangaço - Capitão Virgulino Ferreira da Silva.

Fonte - Andanças e Lembranças.

FIM.
Enviado pelo autor Antonio Alves de Morais

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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