Por Antonio Morais
Momentos
depois da saída de Mário de São, um dos cangaceiros, eram 46 ao todo, trouxe
preso o velho Lúcio, em cuja casa Venâncio se hospedara. Levado à presença de
Sabino, declarou haver mandado um menino buscar o cavalo que, segundo
informação em poder do bando, era gordo, descansado e ligeiro. Sabino, ao ouvir
de Lúcio a conversa da ida do menino, chamou-o de velho safado e mentiroso,
dizendo-lhe ainda que fosse logo ver o animal, sob de levar umas chibatadas na
cara.
- Vamos, Seu
Lúcio, ver o cavalo do homem - disse Venâncio, temendo pela sorte do amigo.
Em
companhia de um cangaceiro indicado por Sabino, seguiram os dois com a missão
de trazer o animal. O local não ficava muito longe de onde o grupo se
encontrava. O cabra que nos acompanhou - explica:
- Era um tipo alto, delgado e
vestia uma túnica de oficial da polícia. Ia a cavalo, enquanto nós íamos a pé.
Quando subimos, a capoeira era grande. Depois vinha o carrasco. Aqui e acolá
uma moita no meio da caatinga. Foi aí que me veio a ideia salvadora: Olhei para
o cangaceiro e disse: - moço, além do cavalo que seu Sabino mandou ver para o
capitão, existe outro mais adiante, também bom e descansado.
- Se estiver
mentindo cabra safado, eu te mato.
Venâncio jogava a última cartada com a
história de um cavalo que só existia em sua imaginação. Mas como evitar que o
cangaceiro fosse até lá? Parecia impossível. Veio-lhe a vontade de segurar no
cabeçote do animal do cangaceiro e derrubá-lo da sela e depois fugir. Mas o
bando estava perto.
Minutos depois
chegava o menino com o cavalo, comprovando que de fato, o velho Lúcio havia
falado a verdade. Empolgado com a beleza do animal, após ouvir a expressão: - Este é o cavalo que o capitão preferiu, o cabra mandou Venâncio ver o cavalo imaginário,
levando o outro pela corda para mostrar ao chefe. Um episódio acorrido antes da
decisão do cangaceiro: Venâncio olha para o velho Lúcio e diz baixinho:
- Seu
Lúcio, eu vou fugir. Eu não volto mais aqui. Daqui não vai escapar ninguém.
- Venâncio, não faça isso, que eles me matam. Cala a boca que o cabra vem aí.
Voltando a
falar sobre a fuga, disse Venâncio:
- Enquanto o cabra ia seguindo com o cavalo
eu ia andando de costas, em sentido contrário. Vendo que ele não olhava, fui
pulando de moita em moita, pois conhecia a serra como a palma da minha mão, até
que alcancei o carrasco. Nem vaqueiro bom me pegava. O coração batia como se
quisesse saltar. Aqui e acolá era surpreendido com barulho no mato e me
escondia pensando serem os bandidos. Eram reses pastando. Às duas da
tarde alcancei a estrada que demandava a Jardim. A essa altura já me encontrava
a salvo do famigerado grupo. Mesmo assim me assustava com qualquer barulho. Só
penetrei na estrada bem perto da cidade. O itinerário maior foi vencido dentro
do mato bravo, cansado, suado, com fome e com medo. Mário de São
percorreu todo comércio de jardim, e não conseguiu reunir os cinco contos de
reis. Era muito dinheiro para aquela época. Apelando para familiares de Vieira
que moravam próximo da cidade, completou a importância do resgate, que não foi
entregue, pois, ao chegar em Caririzinho, o grupo já havia batido em retirada,
depois do insucesso do cerco de Ipueiras dos Xavier. No meio do caminho,
Lampião, duplamente revoltado - os cinco contos de reis não recebidos e o
malogro de Ipueiras, matou perversamente o fazendeiro Pedro Vieira, que não
teve, como os seus companheiros, inclusive o velho Lúcio, a sorte de escapar
com vida da fúria insopitável do famoso Rei do Cangaço - Capitão Virgulino
Ferreira da Silva.
Fonte -
Andanças e Lembranças.
FIM.
Enviado pelo autor Antonio Alves de Morais
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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