Material do acervo do pesquisador Antonio Corrêa Sobrinho
RECIFE (O
GLOBO) – O padre pernambucano Frederico Bezerra Maciel, depois de 30 anos de
pesquisa no sertão, afirma no seu livro “Lampião, seu tempo e seu reinado” que
o capitão Virgulino Ferreira morreu envenenado. Ao contrário de historiadores
que afirmam que o cangaceiro foi assassinado a tiros de fuzil, o padre Maciel
acha que está em condições de apoiar a tese do envenenamento, anteriormente
levantada por outros estudiosos.
- Foi o veneno que o coiteiro Pedro de Cândido colocou no café e provavelmente na comida – escreve o padre Maciel – que matou Lampião, e quando a volante do tenente João Bezerra entrou em ação o cangaceiro já estava morto. Para o tenente Bezerra seria importante encontrar o líder dos cangaceiros vivo, pois exterminá-lo lhe daria fama. Mas ele só conseguiu eliminar os companheiros de Lampião.
O livro, dividido em duas partes e cinco volumes, aborda o lado menos divulgado do cangaço e os aspectos positivos da vida de Lampião, visto como “um guerrilheiro místico, justiceiro, romântico, carismático e político”. Na primeira parte, em quatro volumes, o autor faz uma análise histórica do aparecimento do cangaço, “mas sem se limitar ao alinhamento dos fatos cronológicos, procurando dar uma visão histórica ligada à sociologia, antropologia e ecologia”.
MOTIVAÇÕES
O primeiro
volume da primeira parte conta porque Virgulino Ferreira se tornou Lampião, sua
vida em família, a ligação afetiva com os pais e a perseguição que a família
Ferreira sofreu até perder seus bens. Explica o padre Maciel que, com a morte
do pai, Virgulino, até então um homem pacífico, “partiu para o cangaço como
forma de luta contra os seus perseguidores, mas sem ser um simples salteador
sanguinário, como muitos acreditaram”.
Os dois volumes seguintes, rotulados de “A Guerra de Guerrilhas de Lampião”, descrevem as táticas de luta do cangaceiro, mencionando mais de 200 batalhas. Segundo o padre Maciel, as guerrilhas armadas pelo cangaceiro eram formas de defesa contra os ataques da polícia e dos inimigos.
- Lampião era um gênio nas táticas de guerrilha – escreve o padre Maciel -, usava métodos muito inteligentes, mas só atacava para se defender dos primeiros ataques e quando, penetrava em cidades e fazendas, só tirava dinheiro e alimentos à força quando seus pedidos não eram atendidos.
ROMANTISMO
O quinto e
último volume da obra analisa a personalidade de Lampião e mostra a imagem de
um homem que, embora muitas vezes violento, “sempre por necessidade”, não
deixou de ser um poeta, um romântico e “um grande compositor e repentista que
conseguia conversar durante horas com seu interlocutor em verso”.
O autor cita uma memória de João Ferreira, o irmão do cangaceiro, que denuncia as perseguições movidas pelos inimigos e pela polícia contra a família de Lampião e destaca a sensibilidade de Virgulino interessado em fazer justiça e dividir o dinheiro que arrecadava entre o povo.
- Lampião tirava dos fazendeiros, dinheiro e gêneros alimentícios por dois motivos: primeiro, para sobreviver e depois para dividir com o povo pobre. Por isso, ele não era temido por essa gente que, ao contrário, gostava e respeitava Lampião. Entre o povo, ele era um líder, e entre seus companheiros, exercia uma influência carismática.
Para o padre Maciel, a morte de Lampião acelerou o desaparecimento do cangaço: “Ele institucionalizou o cangaço e nenhum outro cangaceiro conseguiu superar suas técnicas, suas formas de preparar os companheiros e nem o sentido social que ele dava a essa forma de vida”.
Segundo o autor do livro, no sertão atual é impossível o reaparecimento do cangaço, porque os meios de comunicação e as mudanças geográficas impedem o fenômeno. Para o padre Maciel, a figura do cangaceiro é típica de uma estrutura geográfica histórica, social e cultural de uma época, mas nenhum outro teve “a visão e a inteligência de Virgulino Ferreira”.
Fonte: facebook
Página: Antônio Corrêa Sobrinho
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
É. Poderá isso ter acontecido, já que ninguém estava apto para reagir no momento do tiroteio contra os cangaceiros.
ResponderExcluirPois é caro amigo Mendes, as muitas polêmicas em torno do Rei do cangaço sempre existiram, e são dúvidas que não sabemos quando serão dirimidas, uma vez que após 76 anos essas dúvidas continuam existindo.
ResponderExcluirOk, Antonio Oliveira