Por: Antonio José de Oliveira
O cangaço foi sem sombra de dúvida um fenômeno nordestino que teve as diversas
motivações para sua origem, sendo, portanto, um conjunto de fatores que
conduziram os nossos jovens sertanejos às perigosas aventuras.
E, por certo é
um fenômeno ocorrido, praticamente em uma única região do nosso vasto país: o
Nordeste. Procurei pesquisar nas outras quatro regiões, se encontrava vestígios
do cangaço e, apenas encontrei um episódio – que o tenho por isolado -, de um
cidadão de nome
Januário Garcia Leal - redescobrimento.com.br
Januário
Garcia Leal, de uma família renomada, que, revoltado com o assassinato trágico
de seu irmão, por sete indivíduos, que o ataram a uma árvore e lhe arrancaram a
pele até a morte, ingressou na vida do crime, juntamente a outros familiares, e
não deu trégua até matar todos os assassinos de seu irmão.
Informa a
Wikipédia em data de 21.03.2013, que Januário, antes do crime havia sido
nomeado Capitão de Ordenança do Distrito de São José de Nossa Senhora das
Dores, hoje Alfenas-MG. Portanto, cidadão de uma família de posição social
elevada.
“A Justiça
colonial não tomou providências, deixando impunes os sete irmãos que havia
perpetrado a revoltante barbárie” – informação da supramencionada fonte.
As centenas de
cangaceiros dos relatos da história do cangaço são filhos dos sofridos sertões
nordestinos, especialmente nos idos anos VINTE e TRINTA do século passado.
Mesmo assim,
há mais de cento e quarenta anos antes do ingresso de Virgolino na senda do
cangaço, morria na forca em Recife, o
José
Gomes, O Cabeleira - www.onordeste.com
Cangaceiro
José Gomes - O Cabeleira, que tinha como companheiros de infortúnio, seu
próprio pai Joaquim Gomes (que o ensinou a ser cruel) e Teodósio. Informa o
escritor Franklin Távora em seu romance O CABELEIRA.
Lucas da Feira
- blogdomendesemendes.blogspot.com
Lucas da Feira - Há
um consenso entretanto que ele ajudou a formar um dos primeiros
grupos considerados como cangaço na primeira metade do século XIX. - depressaoepoesia.ning.com
“Em 25 de
setembro de 1849, Lucas da Feira, o mais célebre bandido de seu tempo, foi
enforcado num patíbulo erguido no Campo do Gado de Feira de Santana” – Informa
o escritor Nelson Cadena em Memórias da Bahia.
Assim
entendemos que, setenta anos, antes de Virgolino entrar no cangaço, morria na
forca, um indivíduo que era tratado como cangaceiro. Lucas era tão perverso que
a tradição relata que o
Dom Pedro II - www.diariodorio.com
D.
Pedro II, em retrato do pintor Delfim da Câmara em 1875 - Carioca - educacao.uol.com.br
Imperador D.
Pedro II, solicitou que o mesmo fosse conduzido a sua presença para que ele
conhecesse a fisionomia de alguém que era tão cruel.
Capitão Lampião - Pernambucano
Antes de
Virgolino virar Lampião, existia o cangaceiro romântico, Jesuíno Alves de Melo
Calado, ou simplesmente Jesuíno Brilhante.
Jesuíno brilhante - Uma representação artística - pt.slideshare.net
Mais tarde,
comandou um grupo de cangaceiros, Manoel Batista de Morais, que passou a se
chamar Antonio Silvino, apelidado de O Rifle de Ouro.
Antonio Silvino - http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Silvino foi
preso em 1914 quando Virgolino ainda era um adolescente de 16 anos e, pensava
apenas no trabalho de almocreve junto ao pai. Informa Semira Adler Vainsencher
da Fundação Joaquim Nabuco.
Semira Adler Vainsencher da Fundação Joaquim Nabuco - semiraadlervainsencher.blogspot.com
Sinhô Pereira -blogdomendesemendes.blogspot.com
Sebastião
Pereira da Silva – o Sinhô Pereira foi o chefe de cangaço que, em 1922,
abandonou o cangaço e entregou o grupo a um dos seus componentes – Virgolino
Ferreira da Silva, vindo a falecer em 1972.
Sinhô Pereira - honoriodemedeiros.blogspot.com
Muitos foram
os fatores que levaram os jovens nordestinos a ingressarem no cangaço,
começando pela própria aridez de um sertão que, se com os recursos de hoje não
propicia melhores dias para seus habitantes, diga você, há oitenta e cem anos
passados!
Porém,
conforme os escritos que acompanhamos, a maioria entrou no cangaço por algum
tipo de vingança, principalmente vingança contra aqueles que praticaram atos
violentos contra seus familiares, como foi o caso de Januário Garcia Leal, que
viu seu irmão João Garcia ser assassinado sem que houvesse providência. Antonio
Silvino, que teve o pai assassinado e nada aconteceu com quem cometeu o
assassinato. Sinhô Pereira, que passou pela mesma situação quando assassinaram
seu irmão Né Pereira. E, Virgolino, que embora já tivesse as suas desavenças
com a família vizinha, mas poderia ter sido evitado o pior, que foi a morte do
velho pai – José Ferreira.
José Ferreira e Maria Sulena pais de Lampião - Bico
de pena de Lauro Villares com retratos da época - blogdomendesemendes.blogspot.com
Um renomado
pesquisador do cangaço, cujo nome não me recordo, afirmou que “entre os
sertanejos, o filho que soubesse quem assassinou o pai e nada fizesse como
vingança, seria desprezado pela sociedade do seu tempo. Era tido como um
covarde”.
Tantos outros cangaceiros
têm a sua história de vingança.
E com essa
coragem tão extremada dos nossos jovens sertanejos, as consequências foram as
mais desastrosas possíveis. Foram mortes, sequestros, furtos para a
sobrevivência de uma vida errante por entre as caatingas, sem falar na grande
quantidade de jovens que deixaram seus familiares e ingressaram na Polícia e
saíram a caçar, muitas vezes os próprios conterrâneos, como aconteceu com o Tenente Zé
Rufino, que conhecia Virgolino, e ingressou na Força Policial, chegando a matar
mais de vinte jovens-cangaceiros, conforme ele mesmo relatou em entrevista.
Tenente
Zé Rufino - cangaconabahia.blogspot.com
Assim foi o
cangaço! Repleto de lutas, vinganças e sofrimento. Só uma coisa eu digo:
“Ninguém nasce cangaceiro”!
Antonio José
de Oliveira
Povoado Bela Vista
Serrinha-Ba.
Povoado Bela Vista
Serrinha-Ba.
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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