O gerente
Jaime Fernandes Guedes analisa em seu relatório que o cangaceiro não é
originariamente “um caso psicológico”. Não é também o caldeamento da raça, nem
outras fantasias literárias que surgem amiúde, ora em artigos pela imprensa,
ora nos duelos oratórios nas duas Casas do Congresso. O cangaceiro é, em geral, um tipo normal,
degenera-se pelo consórcio permanente de duas calamidades: a falta de polícia e
a falta de Justiça, resumidas em uma outra maior, a falta de governos”.
Continua: “ O
cangaceiro é uma fonte de receita de certos, determinados e conhecidos coronéis
do sertão que, explorando a ignorância a falta de instrução dos trabalhadores
de suas fazendas e sítios, que hajam em qualquer ocasião demonstrado coragem,
os faz ingressar na senda do crime, primeiramente, na consecução de certos
“servicinhos”, insinuando-os depois ao banditismo, mediante as seguintes
condições: metade dos roubos, abrigo, proteção, armas e munição. Contam também
esses bandos de celerados com a proteção de alguns oficiais das milícias,
comandantes de colunas volantes que aparentemente os perseguem em troca de
gordas gorjetas. Isso está mais do que provado.
Estão aí os
depoimentos dos cangaceiros aprisionados e as entrevistas concedidas num
momento de revolta por oficiais das polícias cearense e norte-rio-grandense que
estiveram ao encalço do nefando grupo de Lampião, que atacou esta cidade,
motivadas pelas ocorrências deprimentes verificada durante a perseguição
movida, pela primeira vez, pela polícia cearense, cujo comando, segundo afirmam
aqueles oficiais, estava entregue a um oficial que é cunhado de um dos maiores
protetores daquele execrante facínora, se não bastasse o testemunho
insuspeito de vária pessoas de fé,
residentes nas localidades em que Lampião e seus assecla são bem recebidos:
Aurora, Lavras, Missão Velha, Juazeiro, Crato, Barbalha, Milagres e muitas
outras localidades situadas na zona do Cariri são focos permanentes do
banditismo. Ali se refazem constantemente em armas e munições, homens e
animais, esses grupos que andam levando o desassossego, a desonra e o luto,
através do imenso território de quatro Estados: Rio Grande do Norte, Paraíba,
Pernambuco e Alagoas.
Por residirem
em território cearense os maiores protetores desses bandos nefastos e
certamente por insinuação daqueles, essas feras tornam-se em verdadeiros
cordeiros logo que ingressam em território cearense. Daí atribui-se com visos
de verdade, ao governador daquele Estado, quando interpelado, antes dessa
última excursão do grupo de Lampião, quando acoitados em território cearense, a
resposta foi a seguinte: “Eles não cometiam nenhum crime no Ceará”.
O relatório
denuncia que “de todos os Estados citados, quando tem o seu território invadido
por essa malta de degenerados, são recebidas notícias frequentes sobre a
posição dos bandidos e o rumo que tomaram, porém logo que penetram em
território cearense, as notícias escasseiam até desaparecer completamente, ou
então são mentirosas, como se constatou quando lampião, antes de entrar no rio
Grande do Norte, atravessando Estado da Paraíba, se passou para o Ceará. Deste
foi comunicado que Lampião e seu grupo havia rumado para o Estado do Piauí,
quando efetivamente ele se encontrava em Aurora, preparando-se para o ataque a
Mossoró”.
O relatório
adverte: “Se medidas severas e radicais não forem tomadas a tempo, na repressão
ao banditismo, este tende a se alastrar, sendo previsível até que ponto
chegará. Consequências ruinosas para a nação já se vão verificando. Os
proprietários de terras situadas nas zonas infestadas por esses grupos de
bandidos, que dispõem de alguns recursos, já estão abandonando as suas
propriedades. Por todos os motivos de ordem moral, financeira e econômica,
esses fatos deprimentes e ruinosos para a nação não devem continuar. Urge que o
governo federal, reconhecendo a importância ou a indiferença dos governos
estaduais, tome medidas enérgicas para extirpar de uma vez esse cancro do
organismo nacional”.
Ao centro o cangaceiro Jararaca
O documento do
gerente do Banco do Brasil conta todos os detalhes do ataque à Mossoró quando
morreram dois dos mais famosos cangaceiros de Lampião, Jararaca e Colchete. Os
bandidos, segundo o relato, foram expulsos à bala da cidade, voltaram para o
Ceará. Entraram em Limoeiro do Norte, dando vivas ao padre Cícero e ao governo
do Estado. “Foram inclusive recepcionados com um banquete oferecido pelas
autoridades de Limoeiro num verdadeiro congraçamento entre a lei e o banditismo.
O gerente
Jaime Fernandes Guedes conclui o seu relatório sugerindo o fechamento da
agência do Banco do Brasil de Mossoró por absoluta falta de segurança. O
relatório é um libero contra os cangaceiros, mas evidencia a influência dos
coronéis”. Mostra que os cangaceiros foram vítimas de uma ordem social injusta
e discriminatória.
O documento enviado na época da Superintendência do Banco, depois que o bando tentou invadir Mossoró, faz uma análise sociológica do cangaço, denuncia as crueldades cometidas por Lampião e as ligações com os que chamou de "coronéis do sertão".
"As incursões de grupos de cangaceiros ocasionaram séria paralisação nos negócios nos meses de maio e junho do ano corrente".
"O cangaceiro, na sua horrenda psicologia, é ainda um tipo superior a dessas teratológicos/coronéis, seus mandantes e protetores. Pelo menos, aquele arrisca a própria vida, enquanto estes comandantes aguardam o produto dessas vilegiaturas, em que a morte é o mais humano de todos os crimes".
"O cangaceiro não é originariamente "um caso psicológico". Não é também o caldeamento da raça, nem outras fantasias literárias que surgem amiúde, ora em artigos pela imprensa, ora nos duelos oratórios nas duas Casas do Cangaço.
"O cangaceiro é, em geral, um tipo normal, degenera-se pelo consórcio permanente de duas calamidades; a falta de polícia e a falta de Justiça, resumidas em uma outra maior; a falta de governo".
O documento enviado na época da Superintendência do Banco, depois que o bando tentou invadir Mossoró, faz uma análise sociológica do cangaço, denuncia as crueldades cometidas por Lampião e as ligações com os que chamou de "coronéis do sertão".
"As incursões de grupos de cangaceiros ocasionaram séria paralisação nos negócios nos meses de maio e junho do ano corrente".
"O cangaceiro, na sua horrenda psicologia, é ainda um tipo superior a dessas teratológicos/coronéis, seus mandantes e protetores. Pelo menos, aquele arrisca a própria vida, enquanto estes comandantes aguardam o produto dessas vilegiaturas, em que a morte é o mais humano de todos os crimes".
"O cangaceiro não é originariamente "um caso psicológico". Não é também o caldeamento da raça, nem outras fantasias literárias que surgem amiúde, ora em artigos pela imprensa, ora nos duelos oratórios nas duas Casas do Cangaço.
"O cangaceiro é, em geral, um tipo normal, degenera-se pelo consórcio permanente de duas calamidades; a falta de polícia e a falta de Justiça, resumidas em uma outra maior; a falta de governo".
FINAL.
Fonte: Jornal
"DIÁRIO DO NORDESTE"
Cidade:
Fortaleza-CE
Data: 26 de
julho de 1997
Ano: ?
Número: ?
Digitado e ilustrado por José Mendes Pereira
Digitado e ilustrado por José Mendes Pereira
Este jornal
foi a mim presenteado pelo pesquisador do cangaço e sócio da SBEC - Sociedade
Brasileira de Estudos do Cangaço Francisco das Nascimento (Chagas Nascimento). Desculpem-me alguma falha na digitação, sou um pouco cego.
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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