Em 07 de março de 2010 postamos
aqui no blog um artigo intitulado "A Canção e a Lenda da Cabocla Maringá", de
autoria dos professores José Romero Araújo Cardoso e Gilberto de
Sousa Lucena em que retrata a história da origem da canção Maringá e sua
relação com a cidade de Pombal-PB.
Recentemente, a internauta Ângela Xavier, natural de Maringá-PR, em comentário a dita postagem, traz uma abordagem abrangente sobre o tema o qual julgo merecedor de destaque tanto pelo seu contraponto a questão anteriormente aqui publicada quanto pela possibilidade do nosso blog em oportunizar democraticamente o direito de opinião.
Leia abaixo a posição da internauta maringaense sobre o tema:
Em que pesem os fatos históricos narrados no presente artigo, creio que seus autores foram deselegantes ao se referirem aos maringaenses como “usurpadores” que “indevidamente, sem nenhum direito histórico ou geográfico” se apoderaram da composição de Joubert Carvalho. Sou filha de pioneiros, ambos paraibanos e que ajudaram a construir esta cidade. Mas eles não estavam aqui sozinhos. O historiador João Laércio Lopes Leal lembra que os nordestinos eram numerosos e deram grande contribuição na formação da cidade. Vinham abrir picadas, trabalhavam nas lavouras, eram furadores de poços, operários na construção de casas, carregadores de sacos de café. Todos conheciam a realidade da seca no Nordeste, tanto que vieram para cá em busca de uma vida melhor, mas não esqueceram suas raízes e sua cultura. A temática do poema pode ter sido inicialmente dirigida “apenas” à cidade de Pombal, mas a “realidade sertaneja” a quem os autores se referem é mais abrangente e com certeza atinge o fluxo de nordestinos que migraram para o estado do Paraná e se estabeleceram em Maringá, pois naquela época a migração de paraibanos (não somente os de Pombal) para outros estados brasileiros era sim uma realidade no sertão nordestino.
Considero absurda a afirmação de que “em tese, não há a menor relação da mensagem poética com a cidade paranaense de Maringá, a qual nunca foi constituída por caboclos, como o sertão da Paraíba”. Dizer isso é o mesmo que desconhecer a história da colonização de Maringá. Ora, se eles estavam aqui arando a terra, na qualidade de “retirantes” como não se identificar com os versos da canção popular? Será que os autores saberiam dizer quantas caboclas bonitas e nordestinas (que aqui estavam) se identificaram com a história da cabocla Maringá, narrada nos versos de Joubert de Carvalho? Saberiam eles dizer quantas Marias deixaram em seu estado de origem um amor antigo, cujo coração jamais se esqueceria? Afirmar que a população de Maringá nunca foi constituída por caboclos é negar a história da nossa colonização. Meu pai era o próprio caboclo, cuja fala de homem popular nunca negou o sotaque. Autêntico paraibano daqueles que faziam repentes em praça pública. Existiu e ainda existe aqui forte influência europeia, mas a formação de Maringá não se constituiu somente de europeus. A troca de culturas ocorrida na época da colonização foi uma das nossas maiores riquezas e as famílias de europeus, principalmente as italianas que aqui estavam logo nos ensinaram seus costumes. Aprendemos a comer polenta, macarronada com frango, pão feito em casa e outras comidas que nunca havíamos visto antes. De nossa parte, ensinamos a fazer cuscuz, tapioca, galinha a cabidela, mingau e tantas outras variedades da cozinha nordestina.
Temos o privilégio de não sofrer com estiagens a ponto de expulsar os filhos da terra para outros estados. Mas temos espaço e coração generoso para acolher quem chega disposto a trabalhar e a nos ajudar a crescer, como o caso dos irmãos nordestinos e tantos migrantes outros migrantes. Esta canção ficou conhecida aqui porque os nordestinos se identificavam com a letra, pelas lembranças que trazia de sua terra natal e porque era um sucesso nacional. Não usurpamos nada nem nos apropriamos de nada. Quando algo se torna sucesso passa a ser de domínio público, tanto que a música foi cantada naturalmente pelo povo (não somente os nordestinos, mas mineiros, paulistas e demais migrantes de outros estados brasileiros) na época da colonização, a ponto de se tornar o nome da cidade. E nome é uma referência muito forte. Tão forte que ainda hoje a canção de Joubert Carvalho é referência. Talvez se não existisse uma cidade tão bela e tão pujante com esse nome, a música já tivesse caído no esquecimento. Muitos sucessos da época tiveram esse destino. Há que se questionar: Maringá é famosa por causa da música ou a música é famosa por causa de Maringá? O certo é que ambas se beneficiaram desse enfoque: Maringá tem um belo nome e uma bonita história. A música de Joubert Carvalho não poderia ter melhor cidade como referência.
Recentemente, a internauta Ângela Xavier, natural de Maringá-PR, em comentário a dita postagem, traz uma abordagem abrangente sobre o tema o qual julgo merecedor de destaque tanto pelo seu contraponto a questão anteriormente aqui publicada quanto pela possibilidade do nosso blog em oportunizar democraticamente o direito de opinião.
Leia abaixo a posição da internauta maringaense sobre o tema:
Em que pesem os fatos históricos narrados no presente artigo, creio que seus autores foram deselegantes ao se referirem aos maringaenses como “usurpadores” que “indevidamente, sem nenhum direito histórico ou geográfico” se apoderaram da composição de Joubert Carvalho. Sou filha de pioneiros, ambos paraibanos e que ajudaram a construir esta cidade. Mas eles não estavam aqui sozinhos. O historiador João Laércio Lopes Leal lembra que os nordestinos eram numerosos e deram grande contribuição na formação da cidade. Vinham abrir picadas, trabalhavam nas lavouras, eram furadores de poços, operários na construção de casas, carregadores de sacos de café. Todos conheciam a realidade da seca no Nordeste, tanto que vieram para cá em busca de uma vida melhor, mas não esqueceram suas raízes e sua cultura. A temática do poema pode ter sido inicialmente dirigida “apenas” à cidade de Pombal, mas a “realidade sertaneja” a quem os autores se referem é mais abrangente e com certeza atinge o fluxo de nordestinos que migraram para o estado do Paraná e se estabeleceram em Maringá, pois naquela época a migração de paraibanos (não somente os de Pombal) para outros estados brasileiros era sim uma realidade no sertão nordestino.
Considero absurda a afirmação de que “em tese, não há a menor relação da mensagem poética com a cidade paranaense de Maringá, a qual nunca foi constituída por caboclos, como o sertão da Paraíba”. Dizer isso é o mesmo que desconhecer a história da colonização de Maringá. Ora, se eles estavam aqui arando a terra, na qualidade de “retirantes” como não se identificar com os versos da canção popular? Será que os autores saberiam dizer quantas caboclas bonitas e nordestinas (que aqui estavam) se identificaram com a história da cabocla Maringá, narrada nos versos de Joubert de Carvalho? Saberiam eles dizer quantas Marias deixaram em seu estado de origem um amor antigo, cujo coração jamais se esqueceria? Afirmar que a população de Maringá nunca foi constituída por caboclos é negar a história da nossa colonização. Meu pai era o próprio caboclo, cuja fala de homem popular nunca negou o sotaque. Autêntico paraibano daqueles que faziam repentes em praça pública. Existiu e ainda existe aqui forte influência europeia, mas a formação de Maringá não se constituiu somente de europeus. A troca de culturas ocorrida na época da colonização foi uma das nossas maiores riquezas e as famílias de europeus, principalmente as italianas que aqui estavam logo nos ensinaram seus costumes. Aprendemos a comer polenta, macarronada com frango, pão feito em casa e outras comidas que nunca havíamos visto antes. De nossa parte, ensinamos a fazer cuscuz, tapioca, galinha a cabidela, mingau e tantas outras variedades da cozinha nordestina.
Temos o privilégio de não sofrer com estiagens a ponto de expulsar os filhos da terra para outros estados. Mas temos espaço e coração generoso para acolher quem chega disposto a trabalhar e a nos ajudar a crescer, como o caso dos irmãos nordestinos e tantos migrantes outros migrantes. Esta canção ficou conhecida aqui porque os nordestinos se identificavam com a letra, pelas lembranças que trazia de sua terra natal e porque era um sucesso nacional. Não usurpamos nada nem nos apropriamos de nada. Quando algo se torna sucesso passa a ser de domínio público, tanto que a música foi cantada naturalmente pelo povo (não somente os nordestinos, mas mineiros, paulistas e demais migrantes de outros estados brasileiros) na época da colonização, a ponto de se tornar o nome da cidade. E nome é uma referência muito forte. Tão forte que ainda hoje a canção de Joubert Carvalho é referência. Talvez se não existisse uma cidade tão bela e tão pujante com esse nome, a música já tivesse caído no esquecimento. Muitos sucessos da época tiveram esse destino. Há que se questionar: Maringá é famosa por causa da música ou a música é famosa por causa de Maringá? O certo é que ambas se beneficiaram desse enfoque: Maringá tem um belo nome e uma bonita história. A música de Joubert Carvalho não poderia ter melhor cidade como referência.
Ângela Xavier
Maringá - Paraná
Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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