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quarta-feira, 30 de novembro de 2016

TRAUMA NORDESTINO

Por Diosmen Avelino

Sou fino pernambucano
Isso nunca causou dano
Cada dia e cada ano
Amo mais o meu sertão
Sertão que sofre demais
Com as secas infernais
Sofre gente e animais
Sem cair chuva no chão

Quando a chuva se ausenta
Muita gente se lamenta
Paciência se arrebenta
E abandona o seu torrão
Pega a tralha vai embora
Sai por esse mundo a fora
Com saudades de outrora
Derrama lágrima no chão

A saudade torturando
O seu peito machucando
Ajoelha-se implorando
Para cristo lhe ajudar
Reza dizendo senhor
Ajude-me e, por favor,
Acabe com a minha dor
Que não posso suportar

Ô senhor faço oração
Pra chover no meu sertão
Pra nascer à plantação
E meu povo se alegrar
Chovendo na minha terra
A tristeza se encerra
Dou adeus pra essa guerra
E volto pro meu lugar

Enquanto a chuva não cai
Pro nordeste ele não vai
Sente saudade do pai
E da mãe que lá deixou
Como é duro o seu viver
Passa o dia sem comer
Pensando é no sofrer
De quem no sertão ficou

De noite se vai dormir
Escuta a chuva cair
Acorda-se a sorrir
Pensando que é real
E depois de se acordar
Começa logo a chorar
Vendo que tava a sonhar
Baixa, mas o seu astral.

Senta e fica calado
Com um semblante abalado
Passa a noite acordado
Lembrando de sua gente
Lembra do boi afamado
Do cavalo bom de gado
Do terreno preparado
Para plantar a semente

Lembra com muita emoção
Das festas de apartação
Do chapéu e do gibão
Quando andava em corado
Mas a seca é muito ingrata
Cada dia mais maltrata
E o vaqueiro se afasta
Pra viver no isolado

Peço para o pai divino
Um salve pro nordestino
Cuide bem desse inquilino
Acabe com o seu sofrer
Ó meu Deus onipotente
Olhe mais pra essa gente
Que quer plantar a semente
Para colher e pra comer

Olhe para os animais
Que são tão irracionais
Eles não sabem o que faz
Sem ração e sem bebida
Morrem gemendo de fome
O urubu já vem e come
Como quem assina o nome
Pula em cima da comida

Todo ano o mau proveito
A seca causando efeito
E não tem quem de um jeito
Nessa grande maldição
Só nos resta é apelar
E de joelhos se curvar
E pedir pra Deus mandar
É uma grande salvação

Deus ouvindo a nossa prece
O nordeste não decresce
Por que o povo carece
De chuva para viver
Chovendo é uma beleza
Alegra-se a natureza
E o povo na, mas certeza.
Que não vai só perecer

Bem no fundo lá dá alma
Eu tirei com muita calma
Resumindo esse trauma
Que assombra o nordeste
Desde o tempo de menino
Que vejo o nordestino
Pedindo ao pai divino
Que acabe com essa peste

Essa peste é o verão
Que destrói nosso sertão
Acaba a vegetação
Sem pena e sem piedade
Deixando a serra cinzenta
À água muito barrenta
Só o sertanejo aguenta
Esse tipo de maldade

A maldade judiando
Lentamente vai matando
Como quem tá se vingando
Sem nenhuma paciência
Deixando tudo obscuro
Para o nordestino puro
Que se sente inseguro
Com tamanha violência

Violência violenta
Tanto mata e tormenta
Mas o nordestino tenta
Encontrar a salvação
Sobrevive no sufoco
Corta pau arranca toco
Em troca de qualquer troco
Pra comprar o seu feijão

Quando não arranja nada
Come a palma assada
Divide com a criançada
Com os olhos marejados
A mulher baixa a cabeça
Ó meu Deus não se esqueça
Faça com que a chuva desça
Pra florir nossos roçados

Apela para o prefeito
Fica mais insatisfeito
Quando sente o rejeito
Dessa tal autoridade
Autoridades em vão
Só aparece na eleição
Pegando de mão em mão
Dizendo ser dá bondade

É assim que se relata
Essa sina muito ingrata
Que chega e nos maltrata
E nos deixa é sem ação
Dar vontade de chorar
Quando eu chego a lembrar
Que só serve pra votar
A nossa população

Acredite meu irmão
Tem gente sem coração
Que zomba dessa aflição
Aproveitando pra lucrar
Vendendo água na lata
Por uma quantia alta
No preço de ouro e prata
Só pensando em ganhar

É tanto aproveitador
Desonesto e malfeitor
Que aproveita sem clamor
Desse pobre vitimado
Vitimado da estiagem
Que engole a barragem
Que destrói uma paisagem
E deixa o quadro mudado

O quadro fica mudado
O curral escancarado
Não se ouvi o badalado
Dum chocalho a tocar
Não tem galo no poleiro
Não tem porco no chiqueiro
Não tem pinto no terreiro
E nem tem cão pra vigiar

A cena é de tristeza
Falta comida na mesa
Só sobra muita tristeza
Nos confins do meu sertão
A pobreza transbordando
Como barragem sangrando
Como um rio que vai jorrando
Entre grota e grutilhão

Eu termino a poesia
Esperando com alegria
Escrever num outro dia
Falando em coisa boa
Falando que o sertão
Tem água no ribeirão
Tem fartura de montão
E gente sorrindo a toa.

Diosmam Avelino= 30-11-2013



Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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