Por Junior
Almeida
Muito já foi
falado do livro da jornalista Adriana Negreiros, MARIA BONITA; SEXO, VIOLÊNCIA
E MULHERES NO CANGAÇO, lançado oficialmente em setembro do ano passado. Na
internet, os grupos que debatem o tema, matérias, comentários e mais
comentários foram postados, alguns nada simpáticos à obra. Poucos dias antes,
baseados na sinopse do livro e em algumas reportagens, escrevemos sobre o
título e algumas outras polêmicas obras e a suas repercussões em meio aos
pesquisadores do tema CANGAÇO.
Por exemplo,
citamos o livro do “Lampião de Buritis”, como ficou conhecido a obra do
fotografo mineiro José Geraldo Aguiar, o incendiário “Lampião e o Mata Sete”,
do juiz aposentado Pedro Morais, que diz que Virgulino Ferreira além de ser
gay, mantinha um romance a três: ele, Maria Bonita e Luiz Pedro. Os dois
primeiros livros por nós citados na matéria já tinham caído em total descrédito
diante do público cada vez mais exigente e criterioso por novas informações. Um
ou outo leigo talvez acredite no que diz tais obras, mas a maioria das pessoas
repudia livros assim. No final do nosso texto, jogamos a pergunta: “Seria o
livro de Adriana uma obra a mudar o que se sabia de cangaço, ou mais um a cair
no descrédito”?
Para melhor
opinar, resolvemos ler “Maria Bonita; Sexo, Violência e Mulheres no Cangaço”,
do qual destacamos alguns pontos que achamos importantes. Salientamos que não
queremos atirar pedras na obra ninguém, até mesmo por que somos também vidraça,
mas não poderíamos nos refutar de comentar sobre tão falada obra. Vamos lá:
O livro é
colocado pelo seu marketing como PRIMEIRA biografia da rainha do cangaço,
desprezando assim tudo que já foi escrito anteriormente sobre Maria Bonita.
João de Sousa Lima, por exemplo, há mais de 15 já tinha discorrido sobre a
célebre paulo afonsina.
Como
principiante no meio, Adriana Negreiros, na página 35 do seu livro, cita
Virgulino Ferreira como sendo em seu início de carreira chefiado apenas por
Sinhô Pereira, não se referindo em momento algum aos MATILDES e PORCINOS,
bandos que Lampião fez parte antes do de Sinhô. Na mesma página ela relata que
Antônio Silvino “permitiu” que seus cabras matassem uma menina de 13 anos em
Pernambuco, e a história não é bem assim. O Rifle de Ouro diria anos depois em
entrevista, que a morte da menina Feliciana, no Engenho Santa Filonila, em
Glória do Goitá, Pernambuco, tinha sido o único crime que ele teria se
arrependido na sua extensa lista, pois a menina teria sido vítima de uma bala
perdida, então Silvino não permitiu, como diz ela, que seus comandados matassem
a menina.
Na página 86
do livro, talvez a informação mais polêmica de todas, a de que Maria Bonita
tocava bandolim, com Lampião acompanhando como cantor, e que o Rei do Cangaço
“lubrificava” a goela com pastilhas Valda. A fonte citada pela escritora é o
jornal “A Noite”, do Rio de Janeiro, do dia 11 de maio de 1931. Ora! Se os
jornais nordestinos, supostamente próximos da área da guerra cangaceira
cometiam erros grotescos, o que esperar de um noticiário do Sudeste do país,
ainda mais em tempos de comunicações tão precárias? Como Geraldo Aguiar,
acreditamos que Adriana foi crédula, inocente, vítima de uma “fake news” de
quase 90 anos.
NENHUM autor,
dos mais antigos aos mais novos, nunca falou de tal fato, portanto, a
informação não se sustenta.
Três páginas adiante Adriana diz que as mulheres dos cangaceiros andavam pela caatinga usando armas de brinquedo. Sua fonte é o “Jornal do Commércio” de 2 de janeiro de 1931. Outra “barriga”. Onde já se viu? Maria Bonita, Dadá, Durvinha, dentre outras, usando armas de brinquedo? Seriam esses simulacros de madeira, barro, ou “plástico”?
Outra
informação curiosa está na página 95. Diz que Lampião andava tão equipado ao
ponto de nem poder encostar os braços ao corpo e por isso era conhecido em todo
Nordeste como ESPANTALHO. Que coisa! Nunca vi isso em lugar nenhum.
Involuntariamente lembrei daquela piada de Zé Lezim, da mulher que não fazia
sentido. Segundo o humorista paraibano Nairon Barreto, a mulher era tão gorda
que não juntava os braços ao corpo, “não fazia sentido” (termo da ordem unida
militar).
Duas páginas à
frente outra informação que deu muito o que falar nos grupos de debates foi a
de que Lampião “preparava passarinho ao vinho”, dando a falsa impressão (aos
leigos) que o cangaço era só glamour. A suposta fonte apontada pela autora,
segundo ela, está na página 10 do livro “Dadá”, do escritor José Umberto Dias.
Novamente acho que faltou um confronto de informações por parte de Adriana
Negreiros. Por falar em fontes, na página 105, a jornalista narra que Virgulino
quis matar sua filha Expedita quando essa tinha poucos dias de vida. Sua fonte
é um cordel do cearense Abrahão Batista. Na página 121 e 190 a autora discorre
sobre Maria Bonita arrancando brincos de mulheres da família Bezerra com orelha
e tudo. Essa cena ficou famosa na minissérie da Globo, onde Nelson Xavier vivia
Lampião e Tânia Alves a sua Maria Bonita. A fonte de Adriana para essa
informação é seu esposo Lira Neto.
Nas páginas
148 e 149 a escritora se refere ao cangaceiro que corneou Zé Baiano como sendo
Besouro, mas nas notas ela diz que há outra versão de que o amante de Lídia
teria sido o cabra “Coqueiro”. Diz também na página 164 que segundo Otília de
Mariano, Maria Bonita era chamada por alguns componentes do bando de “Basé”.
Para nós, também uma informação nova.
No curto
relato sobre o fogo de Serrinha do Catimbau, no Agreste de Pernambuco, nas
páginas 166 e 167, Adriana Negreiros diz que a mulher de Lampião “depois de
baleada nas costas, foi socorrida a Riacho do Saco, perto da Lagoa do Serrote”.
Hã?! Onde é isso? Maria Bonita foi baleada na bunda e na “pá” a 4 léguas de
onde moro, Serrinha do Catimbau, hoje Paranatama, com um pouquinho de exagero,
isso é quase no meu terreiro. O local que primeiramente a súcia fugiu foi
depois da desastrosa invasão foi a Serra do Tará, exatos 13 quilômetros da
minha casa.
Na obra a
escritora descreve Maria Bonita como uma mulher vulgar em certos momentos, dona
de “uma gargalhada de rapariga” e, segundo ela dá a entender, é verdadeira a
versão de um escoteiro venezuelano sequestrado pelo bando, que estava amarrado
nu a uma árvore, e teria visto quando a mulher do cangaceiro mor olhar desejosa
para ele e ainda teria soltado um gracejo. Adriana diz também que a rainha do
cangaço teria “dado” a um coronel coiteiro, mesmo já vivendo com Lampião.
Na página 197
e 226, errinhos simples: primeiro, ao narrar a morte de Nenen de Luiz Pedro, a
autora se refere ao comandante da volante como “sargento Luz”, quando na verdade
é “Deluz”, o célebre carrasco de Canidé, e cita o DISTRITO de Piranhas,
Entremontes, como uma cidade vizinha à Lapinha do Sertão.
O livro tem
umas comparações interessantes de valores da época. Por exemplo, diz que os 50
contos de réis de recompensa ofertados pelo Governo da Bahia pela captura de
Lampião, daria para comprar um bom terreno na praia de Copacabana, no Rio de
Janeiro. Na minha modesta opinião, acho que Adriana Negreiros tem potencial
para escrever cangaço. Seu livro é fácil de ler, e os erros são naturais em
quem está começando em um novo campo.
Errar é
humano, ela não foi a primeira e nem será a última. Célebres escritores de
cangaço já escreveram suas inverdades, que o diga o Padre Frederico Bezerra
Maciel, mas nem por isso, por um erro aqui, outro ali, podemos descartar todo
trabalho. Considero, depois de ler, o livro MARIA BONITA; SEXO, VIOLÊNCIA, E
MULHERES NO CANGAÇO, uma obra para iniciantes ou mesmo românticos que procuram
a “doçura” do cangaço. Tenho certeza que a autora tem plenas condições de
produzir boas obras sobre o tema. Vamos aguardar.
*Nos dois
links abaixo textos relacionados à obra:
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1820178851427279&set=gm.985901598285451&type=3&theater&ifg=1
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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