Por Saul Ramos de
Oliveira
O atual
governo ultrapassou 100 dias com pouco para se apresentar ao desenvolvimento
da região semiárida. O Ministério da Agricultura, até agora, não mostrou um
projeto ou estratégias para o desenvolvimento agrário da região, parece
que os conflitos do ministério com a política externa levada a cabo pelo
chanceler serão as maiores preocupações de Tereza Cristina por muito tempo.
Para o
Semiárido, uma estratégia vem sendo desenvolvida e divulgada pelo
Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) como uma
possível alternativa para o desenvolvimento da região e melhoria de vida de seus
habitantes, se trata da dessalinização das águas. Segundo o governo,
convênios com Israel serão realizados para trazer tal tecnologia para o Brasil.
Recentemente,
o ministro Marcos Pontes visitou o Instituto Nacional do Semiárido
(INSA), participou de debates sobre a proposta com várias autoridades e
inaugurou o Centro de Testes de Tecnologias de Dessalinização (CTTD), na
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). Segundo o ministro, o
centro testará maquinas de dessalinização nacionais e internacionais,
também realizará convênios com outros ministérios para expor os resultados
e trabalhar na extensão da técnica.
No entanto, a
técnica de dessalinização de água não é novidade no Nordeste.
Vários projetos dessa natureza já foram implantados e estão em funcionamento
em vários estados. Mesmo o projeto não sendo uma novidade e o ministro
sabendo perfeitamente disso, o governo não comenta muito sobre o passado da
proposta, talvez para resguardar a áurea de “inovação” da mesma.
Embora o
ministério tenha boa vontade, o projeto de dessalinização das águas se
ampara em uma base frágil devido uma serie de fatores.
Após 100 dias de
governo, o MCTIC teve severos cortes em seu orçamento afetando a pesquisa
brasileira de várias formas. Associado a isso, o governo emitiu uma noticia
afirmando que haverá redução do número de concursos públicos para os próximos
anos.
Diante de tais
fatos, podemos perguntar; quem irá realizar as pesquisas
sobre a
dessalinização das águas, uma vez que o governo não pretende contratar mais
técnicos qualificados? Existem equipes técnicas treinadas e especializadas
para se dedicar com mais empenho a esse projeto a nível regional? Com
quais recursos as pesquisas irão se desenvolver?
Se as questões
se estenderem para fora do MCTIC, pode se questionar; como será a
articulação com os outros ministérios, em especial Ministério do Desenvolvimento
Regional (MDR)? Existe uma meta planejada entre o MCTIC e o MDR? A
extensão rural brasileira, em especial a nordestina, é totalmente sucateada e
desfalcada em técnicos, logo, quem irá extensionar e supervisionar
as estações de dessalinização nas comunidades rurais? São questões
complicadas a serem respondidas pelo carismático ministro.
Embora chegue
com ares de novidade e selo israelense de qualidade, a estratégia de
dessalinização de água faz parte dos velhos pacotes de paliativos destinados ao
semiárido. De velhas fórmulas mágicas de ‘’transformação’’ aregião está
farta, o semiárido venceu todas elas.
Velhas
políticas não servem mais. Até quando a falta de seriedade com semiárido
nordestino? Não é disso que a região necessita, o que se precisa são reformas
mais profundas, estratégias de convivência, etc. Programas técnicos que
tenham como objetivo o uso das potencialidades da região, como a pequena
irrigação, caprino-ovinocultura, uso de raças bovinas mais adaptáveis ao
clima, culturas agrícolas de baixo consumo hídrico, etc.
Já existe uma
série de estudos que mostram a eficácia das estratégias de convivência
com a seca e o uso de tecnologias mais baratas. Não é mais novidade para
ninguém que a política do combate à seca com seus milhões gastos
anualmente é um total fracasso. Mas como dizia André Gide: ‘’Tudo já foi dito uma
vez, mas como ninguém escuta é preciso dizer de novo’’.
Saul Ramos de
Oliveira
Engenheiro
Agrônomo, Mestre em Horticultura Tropical, Doutorando em
Ciência do
Solo.
Enviado pelo autor.
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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