Seguidores

terça-feira, 23 de abril de 2019

UM NOVO GOVERNO E UMA VELHA POLÍTICA PARA O SEMIÁRIDO


Por Saul Ramos de Oliveira

O atual governo ultrapassou 100 dias com pouco para se apresentar ao desenvolvimento da região semiárida. O Ministério da Agricultura, até agora, não mostrou um projeto ou estratégias para o desenvolvimento agrário da região, parece que os conflitos do ministério com a política externa levada a cabo pelo chanceler serão as maiores preocupações de Tereza Cristina por muito tempo.

Para o Semiárido, uma estratégia vem sendo desenvolvida e divulgada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) como uma possível alternativa para o desenvolvimento da região e melhoria de vida de seus habitantes, se trata da dessalinização das águas. Segundo o governo, convênios com Israel serão realizados para trazer tal tecnologia para o Brasil.

Recentemente, o ministro Marcos Pontes visitou o Instituto Nacional do Semiárido (INSA), participou de debates sobre a proposta com várias autoridades e inaugurou o Centro de Testes de Tecnologias de Dessalinização (CTTD), na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). Segundo o ministro, o centro testará maquinas de dessalinização nacionais e internacionais, também realizará convênios com outros ministérios para expor os resultados e trabalhar na extensão da técnica.

No entanto, a técnica de dessalinização de água não é novidade no Nordeste. Vários projetos dessa natureza já foram implantados e estão em funcionamento em vários estados. Mesmo o projeto não sendo uma novidade e o ministro sabendo perfeitamente disso, o governo não comenta muito sobre o passado da proposta, talvez para resguardar a áurea de “inovação” da mesma.

Embora o ministério tenha boa vontade, o projeto de dessalinização das águas se ampara em uma base frágil devido uma serie de fatores. 

Após 100 dias de governo, o MCTIC teve severos cortes em seu orçamento afetando a pesquisa brasileira de várias formas. Associado a isso, o governo emitiu uma noticia afirmando que haverá redução do número de concursos públicos para os próximos anos.

Diante de tais fatos, podemos perguntar; quem irá realizar as pesquisas
sobre a dessalinização das águas, uma vez que o governo não pretende contratar mais técnicos qualificados? Existem equipes técnicas treinadas e especializadas para se dedicar com mais empenho a esse projeto a nível regional? Com quais recursos as pesquisas irão se desenvolver?

Se as questões se estenderem para fora do MCTIC, pode se questionar; como será a articulação com os outros ministérios, em especial Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR)? Existe uma meta planejada entre o MCTIC e o MDR? A extensão rural brasileira, em especial a nordestina, é totalmente sucateada e desfalcada em técnicos, logo, quem irá extensionar e supervisionar as estações de dessalinização nas comunidades rurais? São questões complicadas a serem respondidas pelo carismático ministro.

Embora chegue com ares de novidade e selo israelense de qualidade, a estratégia de dessalinização de água faz parte dos velhos pacotes de paliativos destinados ao semiárido. De velhas fórmulas mágicas de ‘’transformação’’ aregião está farta, o semiárido venceu todas elas.

Velhas políticas não servem mais. Até quando a falta de seriedade com semiárido nordestino? Não é disso que a região necessita, o que se precisa são reformas mais profundas, estratégias de convivência, etc. Programas técnicos que tenham como objetivo o uso das potencialidades da região, como a pequena irrigação, caprino-ovinocultura, uso de raças bovinas mais adaptáveis ao clima, culturas agrícolas de baixo consumo hídrico, etc.

Já existe uma série de estudos que mostram a eficácia das estratégias de convivência com a seca e o uso de tecnologias mais baratas. Não é mais novidade para ninguém que a política do combate à seca com seus milhões gastos anualmente é um total fracasso. Mas como dizia André Gide: ‘’Tudo já foi dito uma vez, mas como ninguém escuta é preciso dizer de novo’’.

Saul Ramos de Oliveira
Engenheiro Agrônomo, Mestre em Horticultura Tropical, Doutorando em
Ciência do Solo.

Enviado pelo autor.

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário