Do acervo do pesquisador Helynho
Santos
No ano de
1934, Lampião apareceu em Alagadiço pela última vez, deixando essa região sob o
comando do grupo de Zé Baiano. Filho natural de Chorrochó, ele passou a
aterrorizar os moradores daquele local. Coube a esse destemido cangaceiro a
posse das terras compreendidas entre os municípios de Frei Paulo, Ribeirópolis,
Pinhão e Carira, em Sergipe, e ainda Paripiranga, na Bahia.
O “Pantera
Negra dos Sertões” era um negro, alto, forte, nariz achatado, queixo comprido,
cabelos ruins e maltratados, que usava óculos e tinha uma voz grossa. Após ter
ficado sabendo da traição amorosa da sua companheira, a qual ele assassinou a
pauladas, passou a marcar mulheres indefesas com um ferrão de iniciais “J.B.”,
como se fossem gados. Requinte de perversidade.
Com fama de
impiedoso, o famigerado “ferrador de mulheres” era tido como um dos mais ricos
do bando – formado por Demudado, Chico Peste e Acelino. Durante anos cometeu
atrocidades, saqueou e impôs a sua própria lei em Frei Paulo e municípios
vizinhos. A polícia não descansava procurando os temíveis bandidos que se
escondiam em casas de fazendeiros. Estes, se não contassem à polícia, eram
chamados de coiteiros, e se falassem eram apelidados de dedo duro na boca do
cangaceiro.
A mata era o
maior refúgio desses facínoras. No corpo de uma árvore – viva até hoje – eles
silenciavam suas armas e na chamada “Toca da Onça”, na Fazenda Caipora,
evitavam o ataque de inimigos com troca de tiros, já que de lá de cima tinham
uma visão panorâmica e privilegiada de toda a região.
Certa vez, o inesperado para Zé Baiano aconteceu. Por ser coiteiro do seu bando, o comerciante Antônio de Chiquinho, cansado das perseguições da polícia – chegou até a ser preso – e da desconfiança dos cangaceiros, tramou um plano para eliminar o grupo do impiedoso “ferrador”. E foi numa entrega de alimentos, solicitada pelo Baiano, que o comerciante convidou os conterrâneos Pedro Sebastião de Oliveira (Pedro Guedes), Pedro Francisco (Pedro de Nica), Antônio de Souza Passos (Toinho), José Francisco Pereira (Dedé) e José Francisco de Souza (Biridin) para, juntos, darem fim ao bando. No dia 7 de julho de 1936, os seis amigos conseguiram dar cabo aos quatro temíveis bandoleiros na Lagoa Nova (localidade de Alagadiço). Os conterrâneos mantiveram o feito em sigilo durante cerca de 15 dias, temendo a represália de Lampião contra o povoado.
Antônio de
Chiquinho, certo de que Lampião voltaria a Alagadiço para se vingar da morte do
seu amigo, preveniu-se do embate e perfurou as paredes da sua casa – hoje uma
creche comunitária –, tendo assim melhor visão da rua para atirar quando ele
aparecesse. Porém, para a sua sorte, Virgulino Ferreira resolveu deixar pra lá
o acerto de contas graças a Maria Bonita, que o alertou sobre a presença de um
canhão no povoado, onde cabia um menino dentro acocorado – um minicanhão que,
inclusive, está guardado no acervo do historiador Antônio Porfírio.
Fonte: Lampião aceso (Cangaço por paixão, esporte ou religião.
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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