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quinta-feira, 15 de agosto de 2019

HISTORIADORES CONTESTAM A VERSÃO OFICIAL

Por William França do enviado especial

A história da sobrevivência de Lampião e Maria Bonita é ouvida no Nordeste desde 1938, logo depois da emboscada na Grota do Angico. Vários historiadores apontam indícios de que o Rei do Cangaço estava negociando sua desistência do banditismo.

Segundo Aglae Lima de Oliveira que estudou o cangaço por 20 anos e escreveu um livro de 400 páginas sobre o caso, Lampião negociava com interlocutores do governo Getúlio Vargas sua saída do cangaço. A historiadora diz que, no lugar dele, morreu o cangaceiro Zé do Sapo.

Outro historiador, Frederico Pernambucano de Mello diretor da Fundação Joaquim Nabuco, disse à Folha, em Recife, que Lampião estava muito rico (tinha cerca de mil contos de réis, o suficiente, na época, para adquirir 40 grandes fazendas), mas tinha esgotado suas fontes de arrecadação.

Uma boa fazenda, segundo Mello, custava, naquele tempo, cerca de 25 contos de réis. A Fundação Joaquim Nabuco é um dos centros mais importantes de pesquisa e estudo da história do Nordeste.

Mello afirma que estavam em andamento dois processos de perdão para Lampião quando ele foi morto, negociados por políticos que lhe deviam favores em Alagoas e Sergipe. Mas o historiador acredita que ele tenha morrido -"não existe prova em contrário, da sua sobrevivência".

Adendo - blogdomendesemendes.blogspot.com

"E finalmente, quem eram estes influentes que Lampião  negociava a sua desistência do cangaço sem  ser prejudicado e que jamais apareceram registros deles afirmando os seus
 nomes, lugares que moravam etc...?"

Lamento ter que dizer isto, mas foi pura invenção do autor. 
Não tem fundamento. O mundo de Lampião era aquele mesmo, matar roubar, vingar. Jamais deixaria uma vida que a quase vinte anos que vivia. O ódio de Lampião era inrreversível. 

Lampião tinha essa relação com os políticos e fazendeiros porque também funcionava como um controlador dos camponeses que tentavam, eventualmente, contestar o direito à propriedade. O cangaceiro fazia as vezes de polícia.

"Não dá mais"

A Folha ouviu relato semelhante do ex-cangaceiro Manoel Dantas Loiola, 82, o Candeeiro, que hoje mora em Guanumbi, no sertão de Pernambuco. Ele era um dos principais "assessores" de Lampião nos últimos dois anos de cangaço.

Duas semanas antes do massacre em Angico, Lampião reuniu alguns de seus homens. Candeeiro contou que ele estava preocupado porque sua atuação ficava, a cada dia mais limitada e tinha contra si a grande invenção da época: o rádio, que permitia que a polícia soubesse muito mais rapidamente onde ele estava com seu bando.

"Ele disse que queria ir para Minas, mas que ninguém era obrigado a ir junto", disse Candeeiro.

Segundo ele, Lampião afirmou o seguinte: "Aqui não dá mais pra viver. Mas o negócio vai ser meio pesado, porque a gente tem que atravessar a Bahia". Lampião era jurado de morte e proibido de entrar no território baiano.

"Cabra mentiroso"

Pelo menos um dos soldados que participaram do ataque a Angico, Sebastião Vieira Sandes, 81, o Santo, duvida da morte de Lampião.

Santo era o único que conhecia Lampião pessoalmente, porque, antes de ser da volante (polícia), tinha servido ao bando do cangaceiro - foi obrigado a trocar de lado pela polícia, mas ainda respeitava o ex-patrão.

Santo, que mora em Maceió, recusa-se a dar entrevistas. Segundo sua família, sempre chama de "cabra da peste mentiroso" quem afirma que esteve envolvido na morte de Lampião.

Outro soldado da volante, José Panta Godoy 83 o cabo Panta, a quem se atribui o tiro fatal em Maria Bonita, disse à Folha, em Maceió, que nenhum integrante da volante - exceto Santo - conhecia Lampião ou Maria Bonita.

"Pela história, sabia que eram eles. Mas foi o soldado Santo quem confirmou", afirmou Panta. "Ele disse para eu não esbagaçar a cabeça daquele homem, porque ele era Lampião".

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