Por José Cícero da Silva
Manhã de
sábado.
Corria calmo o
pequeno riacho do Jatobá. O pouco gado que havia no cercado já tinha sido solto
para comer nos matos.
Sol
preguiçoso.
O vento fresco
trazia consigo o cheiro gostoso dos frutos dos joazeiros e da floração
abundante da jitirana e do mufumbo. A tudo isso também se misturava o cheiro
dos estrumes chovidos em lamaceiros vindo do pequeno curral quase escondido
entre o barranco do riacho e a casa de taipa do vaqueiro.
No caminho,
entre os verdes arvoredos três indivíduos. Um velho, outro de meia idade e um
menino tímido(Zé Alves) que todos os dias cumpria seu eterno ofício de
leiteiro.
O dia parecia
ser igual como todos os outros, tranquilo. Muitos pássaros desfilavam seus
cantos quase em uníssono pelas bibocas e as moitas verdejantes daquele mundo
inteiro.
Além do
barulho dos bichos, apenas o som dos ventos assoviando sobre as copas frondosas
das oiticicas, dos paus d'arcos, das timbaúbas, dos cedros. unhas de gatos e
joazeiros.
De súbito,
vozes de gentes. Cascos de animais quase tinindo nas pedras, subindo os lajedos
que davam para as bandas do marizeiro.
O menino
leiteiro, acabara de amarrar no caçuá do seu burrico o balde de leite que
sempre entregava como sem falta no vilarejo. E assim seguiu, curioso e
destemido seu caminho.
Desceu o
barranco do riacho que corria do jenipapeiro para engordar mais embaixo, depois
da linha do trem, o rio Salgado.
Quando enfim
subiu a grota sombreadas pelas altas moitas brabas de Jurema e de angico deu de
cara com o bando de jagunços e cangaceiros.
Puxou com força
as rédeas do seu burro. De chofre, como dois seres congelados no meio do
caminho. Menino e jerico ficaram estagnados.
- Pra donde
você tá indo menino sabido? - perguntou o cangaceiro.
- Tô indo pra
vila das Ororas, seu moço, deixar a encomenda: sou leiteiro.
- Tamo com
sorte cambada!
Disse o
cangaceiro. Quando em seguida, dois dos seus comandados, se atracaram com o
balde.
Abriram
ligeiro. Ambos começaram a beber com sofreguidão como bichos com fome e sede.
- Vai querer
ou não seu Massilon? - Disse um deles.
Em silêncio, o
jovem leiteiro, sequer descera do seu burro. Coração batendo forte. Olhos
arregalados...Suor frio na testa e no lombo.
Até que de
repente, um pouco mais atrás surgiu quase do nado mais quatro cangaceiros.
Estes se pareceram muito mais afáveis e cordiais.
- Aquele lá é
o capitão, nosso chefe. - Explicou Zé Baiano para o menino. Depois completou: -
Você por acaso já ouviu falar em Lampião, menino? - Indagou ao leiteiro, outros
dos jagunços que chegaram primeiro.
- Já vi falar
sim senhor, mas não conheço ele não. Respondei.
- O que está
acontecendo aqui. - Quis saber o rei do cangaço.
- ora, tamo
matando nossa sede com leite bom, capitão. - respondeu Mormaço.
- E vocês
beberam tanto leite assim, estão com o diabo? Redarguiu o chefe deles.
- Não capitão
- disse o cangaceiro. - O bando derramou no riacho o resto, pro menino não
precisar mais ir pro vilarejo.
- Não foi
certo este proceder. - Enfatizou de modo ríspido Lampião. - Por fim emendou: -
Não quero nenhum mal por estas bandas. Pra mim basta a covardia e a traição
daquela peste de Izaías. Aquele sim há de merecer um bom trocoo. Mas só ele,
acentou o rei do cangaço. Cardoso e Saraiva não se acovardaram, não
Depois
completou: - Mas o que se é de fazer agora tá sem jeito. Deixa as frutas
amadurecer pra eles ver! Em seguida olhou de soslaio para o menino e disse: -
Não fique triste seu menino, os que beberam seu leito tem dinheiro suficiente
pra te pagar em dobro. Mas, você não vai poder ir hoje pra cidade não; porque
lá tá cheio de macacos. E você sem querer pode dá com a língua nos dentes.
Aurora hoje vai ficar sem beber seu leite igualzim a esses bezerros magros.
Falou ele. E logo depois perguntou:
- Cadê seu pai
menino? Preciso de alguém pra mim guiar por estes caminhos brabos que não
conheço. Preciso chegar logo à Conceição na Paraíba, com as bençãos do meu
padim.
- Meu pai e
meu tio tão bem ali em casa. Eles conhecem tudo por aqui. Eles podem ajudar o
senhor... Respondeu baixinho o leiteiro ainda em cima da cangaio do seu
burrico.
Então desça já
desse animal e vamos lá. Quero ver que cara tem o seu pai. E assim
seguiram....o leiteiro agora puxava o animal pelos cabrestos.
Chegando na
casa apenas o tio do leiteiro e sua esposa se encontravam lá. Sob o pé de
juazeiro, Lampião logo se entendeu com o vaqueiro. O bando ficou na cancela.
Os dois(
vaqueiro e Leiteiro) seguiram com o bando como guias. Antes do serrote do
Brandão o grupo se dividiu em dois. O vaqueiro seguiu com Lampião que ansiava
atravessar a linha do trem, enquanto o jovem leiteiro( Zé Alves) seguiu com o
subgrupo do cangaceiro Massilon, nos rumos do sítio Catingueira a mais ou menos
légua e meia dali.
No outro dia
antes do sol nascer o vaqueiro chegou em casa, inclusive, com algum dinheiro
ofertado por Virgulino como sendo a paga do Leite e do serviço prestado como
guia.
Enquanto o
jovem leiteiro não retornara. Vez que fora morto por Massilon logo que
avistaram as terras da catngueira na direção da Ingazeiras.
Dias depois
seus familiares encontraram seu corpo denunciado pelos urubus no fundo de uma
grande grota um pouco antes do açude velho. Só o reconheceram por conta do
cinturão de couro malhado que o leiteiro usava.
História e
estória quem ouvi contar.
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(José Cícero)
Aurora - CE.
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