Maria
fez uma escolha. Optou por estar ao lado de Lampião, escolheu o caminho do amor
e se tornou Maria Bonita. Mas a opção exigia renúncia. Ela teve de abrir mão da
tranquilidade de casa, da convivência com os pais e dos irmãos, para entrar em
um mundo masculino, bandido, de incertezas da caatinga, do cangaço. Uma escolha
que mudou a vida de Maria e do cangaço.
Viver
no sertão nordestino era (e continua sendo) um desafio. A falta de chuva fazia
as famílias percorrerem quilômetros em busca de um barreiro, que tivesse
acumulado água ou um braço de rio que passava grande parte do ano seco ou com
apenas um filete de água. E essa caminhada tinha de ser feita por veredas em
meio uma vegetação àspera, seca, que arranhava.
Nos primeiros dois anos da presença da mulher no movimento, a rotina de Maria
Bonita, a primeira cangaceira, e das outras mulheres que também seguiram o
caminho dela, foi um pouco mais amena que a dos homens.
Lampião e Maria Bonita
Lampião acreditava que
elas não suportariam as longas caminhadas do bando. Acredita-se que os grupos
chegavam a andar 50 quilômetros por dia (distância, por exemplo, entre Recife e
o município de Escada, na Zona da Mata de Pernambuco).
Frederico Pernambucano de Melo
O
pesquisador Frederico Pernambucano de Mello afirma que, nesse primeiro momento,
as mulheres não seguiam os bandos. “Elas ficavam guardadas num deserto no
sertão da Bahia, chamado de Raso da Catarina, entregues à proteção dos índios
pankararés, que são praticamente donos daquela região selvagem”, detalha.
Essa
situação não durou muito. Por ordem do Capitão Virgulino, elas foram obrigadas
a “viver debaixo do chapéu e em cima da alpercata”, brinca Pernambucano de
Mello. Elas, então, começaram a seguir os grupos, mas não tiveram dificuldade, já que as longas caminhadas faziam parte da vida do sertanejo da época. Pesquisadores,
parentes de Maria Bonita, pessoas que conviveram com ela e até uma
ex-cangaceira explicam como era o dia a dia de uma mulher no cangaço.
Aos
poucos, Maria Bonita e as outras mulheres foram, de mansinho, ocupando espaço,
e, meio sem querer, provocaram mudanças naquele mundo tão rude e masculino.
Mesmo sem participarem das batalhas – embora tivessem armas e soubessem atirar, começaram a ajudar os cangaceiros, mas não serviam como empregadas. Eram, na
verdade, companheiras.
“Elas
trouxeram conforto para os homens. Mantiveram-se femininas, companheiras dos
seus homens e, ao mesmo tempo, ajudavam naquela vida nômade do cangaço”, afirma
Frederico Pernambucano.
Cleonice
Maria, Ivanildo Silveira e Anildomá Willians
O
historiador Anildomá Willians fala que a presença das mulheres nos bandos
inibiu a ação de alguns cangaceiros que estupravam moças e praticavam outros
crimes por onde passavam.
As
cangaceiras também contestaram alguns valores e práticas da época. O calor e os
costumes obrigavam essas mulheres a se protegerem, a cobrirem o corpo. “As
mulheres chegaram no cangaço com o vestido acima do joelho, algo impensável
para a época, chegaram para inverter valores, pra mostrar que aquelas grandes
mulheres não estavam atrás dos homens, mas ao lado deles”, defende o
historiador.
http://www2.uol.com.br/JC/sites/asmarias/cangaceira.html#.
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