Em 12 de julho próximo passado
foi lançada em Mossoró, pela Ordem dos Advogados do Brasil, a Comissão da Memória e
da Verdade. Essa Comissão tem o objetivo de resgatar a história de “pessoas que
seguraram bandeiras coletivas em nome do bem comum da sociedade”. Com o intuito
de colaborar com a Comissão, estamos republicando o texto Bangu, publicado
originalmente nessa mesma coluna, em 09 de julho de 2003.
Bangu
era o nome de guerra do mossoroense Lauro Reginaldo da Rocha na história do Partido
Comunista Brasileiro. Foi operário, sindicalista, militante político,
Secretário Geral do Partido Comunista Brasileira (PCB) aos 24 anos de idade e
hóspede involuntário de várias prisões, onde viveu a experiência da violência
até o limite da tortura, tudo em nome de uma causa: a causa do proletariado
brasileiro. Há uma frase do grande líder Martin Luther King que diz: “O
homem que não descobriu uma causa pela qual possa morrer, não merece viver!”
Lauro Reginaldo da Roca (Bangu) viveu plenamente a sua causa.
Nasceu
em Mossoró no dia 17 de agosto de 1908, sendo o último dos filhos de uma
família numerosa e pobre. Com menos de um ano de idade, perdeu o pai vítima de
uma infecção pulmonar. Estudou no Grupo Escolar 30 de Setembro, tendo como
professora D. Celina Guimarães, que vendo a dedicação do aluno, passou a
utiliza-lo como auxiliar no “desarnamento” dos mais atrasados.
Em
fins da primeira grande guerra mundial, deixou o Colégio 30 de setembro e
passou a frequentar a Escola Paulo de Albuquerque, da qual era professor seu
irmão mais velho, Raimundo Reginaldo da Rocha. Essa mudança gerou no menino
Lauro uma reviravolta completa, que influenciaria sua vida futura. O seu irmão
e professor, Raimundo, era filósofo e as sua aulas e palestras fascinavam o
irmão mais novo. “Nas suas aulas de educação, moral e cívica aprendi que o
benefício que se presta ao próximo só tem valor quando desprovido de interesses
ou segundas intenções.” O professor Raimundo Reginaldo foi o primeiro a lança
ideias marxista-leninistas em Mossoró e incentivas os seus irmãos a organizarem
os primeiros núcleos do “partido da classe operária” em terras nordestinas. Na
revolução de 1935 ele lutou de arma na mão nas ruas de Natal, ao lado de sua
filha Amélia, de 16 anos de idade. Libertou todos os presos da Cadeia Pública.
E após a tomada do poder, distribuiu fartamente gêneros alimentícios à
população necessitada, em nome do Governo Revolucionário.
Lauro ingressou na Escola Normal de Mossoró de onde saiu professor em 1925, com apenas 17 anos de idade. Mas não foi fácil frequentar o curso. Para se manter, teve que trabalhar muito. Pela manhã, trabalhava na fábrica de cigarros de Humberto Jovino ou na Hemetério Leite, o que lhe rendia alguns trocados para as pequenas despesas. A tarde ia à escola. Como não podia comprar livros, estudava com os colegas Raimundo Nonato, Mário Cavalcanti e Lauro da Escóssia.
Se as dificuldades da vida não influenciaram no seu desenvolvimento intelectual, o mesmo não se pode dizer do desenvolvimento físico. Tornou-se uma figura pequena, de uma fragilidade física marcante, tímida e extremamente modesta. Mesmo assim desempenhou formas diversas da luta pela sobrevivência: foi pintor de parede, agricultor, professor e tipógrafo.
Com
apenas 15 anos, juntamente com seu irmão Raimundo Reginaldo, criou a primeira célula
da Juventude Comunista em Mossoró, no ano de 1925. Entre os anos de 1929 a
1931, estava em Fortaleza/CE, reorganizando o Partido Comunista local. Com 24
anos foi eleito Secretário Geral do Partido Comunista do Brasil, e como
tal integrou uma comitiva que participou de um congresso em Moscou.
Pagou
um preço muito alto por sua luta em prol do proletariado: prisões, torturas, a
Ilha Grande, que era considerada o pior dos presídios, fome, sede, etc. Mas nada
o fez mudar de ideia. Continuou lutando, enquanto dele o Partido precisou. Como
dizia Machado de Assis, “A vida sem luta é um mar morto no centro do organismo
universal!”
Lauro
Reginaldo da Rocha morreu no dia 04 de abril de 1991, aos 83 anos de idade,
consciente de ter dedicado a vida a uma causa justa. Viveu e lutou por um
ideal, e sua luta não foi em vão. Lauro “transcendeu sua condição individual,
para, generosamente, empenhar sua vida na realização da utopia de uma sociedade
justa”.
Autor:
Geraldo
Maia do Nascimento
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